Momento atual é complexo e não contempla possibilidade de perspectiva mutante!

O contexto atual, face aos fatores externos e não menos aos internos, já sinaliza que grande parte das projeções alvissareiras para o Brasil em 2020 já se configuram improváveis, mas está havendo certo retardamento para que este fato passe a ser precificado de forma objetiva.

Certamente, o Brasil contrariando as expectativas, inclusive as nossas, tende a não consumar os ingressos contundentes de capitais estrangeiros esperados, seja para o mercado financeiro, em especial para a Bovespa, seja para o programa de privatizações que parece distante da efetividade propagada pelo governo.

O Brasil está “caro” para o investidor estrangeiro sinalizou o Presidente do BC, Campos Neto, enquanto o Ministro Guedes continua demonstrando otimista perspectiva de investimentos volumosos pelos estrangeiros no Brasil.

Os números iniciais do ano evidenciaram a saída contundente do investidor estrangeiro, em especial da Bovespa, que na realidade vem sendo sustentada unicamente pelo afluxo de investidores nacionais, com participação crescente das pessoas físicas “desencantadas” com o mercado de renda fixa face ao achatamento do juro.

O contexto prospectivo para a Bolsa requer atenção, visto que o investidor pessoa física tende a sair da sua posição tão logo ocorram sinais de perdas, e isto poderá precipitar movimentos abruptos se a economia demonstrar-se fragilizada e perdurar a ausência do investidor estrangeiro.

O dólar, que já não registra fluxo cambial negativo relevante, e do qual sabidamente o governo detém expressivo volume em estoque, vem revelando um forte viés de alta no preço, aparentemente como anseio e política cambial desejada pelo BC, pois o preço da moeda americana seria o antídoto ao “Brasil está caro” e fecha com a filosofia do “juro baixo câmbio alto”.

Mas, o fato de ter-se no país preço artificializado do dólar há o risco de com a reversão das expectativas, como estamos sinalizando não ser improvável, ocorrer uma alta do preço com fundamentos e acumulativa ao preço distorcido, e isto resultará em pressão inflacionária.

Causa espécie o fato do FOCUS projetar o IPCA 2020 em 3,25% e 2021 em 3,75% e SELIC para os mesmos períodos em 4,25% e 6,0%, ou seja para um aumento de IPCA de 0,50% uma alta de SELIC de 1,75%.

O fato é que nem mesmo com esta ocorrência consentida da alta do dólar o capital estrangeiro retoma a atratividade pelo Brasil, e, nem mesmo, as exportações ganham força, muito pelo contrário a AEB está prevendo saldo da balança comercial de tão somente US$ 26,0 Bi este ano, ante US$ 40,0 Bi do ano passado que previa US$ 50,0 Bi.

As commodities estão com preços com viés de baixa e com o melhor relacionamento comercial entre China-USA os volumes demandados do Brasil deverão ser cadentes.

Entendemos que o momento é muito complexo e assim como temos os impactos na economia global do acordo China-USA, temos os do “coronavirus”, temos também problemas internos de perda de dinamismo das reformas tributárias e administrativa, a letargia do BC em relação à formação do preço da moeda americana e um campo vasto para ocorrência de movimentos especulativos, que promove acentuada depreciação do real frente ao dólar.

Tudo recomenda maior observação e acuidade em torno das projeções para o Brasil neste 2020, pois as perspectivas já diferem da percepção do momento atual, que já se fragiliza.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO 

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