Véspera de feriado, e não bastasse isto, ambiente fortemente afetado por tensões políticas ruidosas em torno de poderes, tendo como pano de fundo a questão dicotômica em torno da crise do coronavírus, certamente provocarão volume de negócios com baixa liquidez, até por questão defensiva.
Neste ambiente de tensões ampliadas é natural que fatores psicológicos afetem o que já é ruim, e assim o preço do dólar americano e o comportamento da Bovespa devem acentuar piora pontual.
Esta discussão entre saúde e economia pela indefinição e por fuga do foco nos debates que enveredam cada vez para as disputas de poder político estão provocando o fortalecimento da deterioração da economia e suas perspectivas, fortalecendo o desalento da sociedade que acirra os movimentos comportamentais na crise, colocando em risco de insucesso todo o esforço do governo para manutenção do emprego, havendo sério risco de intensificação do desemprego principalmente nos segmentos que são os maiores geradores de emprego, dado a fragilidade das empresas.
O Boletim FOCUS continua “ousando” projeções neste ambiente de “profunda escuridão” quando ao momento imediato seguinte e desta forma a projeção de queda do PIB para -2,96% é absolutamente empírica, tanto quanto se fosse -6,00%, da mesma forma a redução para o IPCA para 2,23%, a despeito do IPA estar se mantendo alto sem capacidade de contaminar o varejo, o que leva a projeção da SELIC para o final do ano em 3,00%, já bastante ousada para o tamanho do déficit fiscal do país, mas causa estranheza que neste parâmetro de juro só se projete o câmbio no em torno de R$ 4,80, até porque não se vislumbra ações mais contundentes do BC além das profiláticas costumeiras.
Por outro lado, com as projeções da atividade econômica cada vez mais em “frangalhos” e perspectivas cada vez mais negativas em torno do PIB, é muito difícil de validar perspectivas favoráveis para recuperação do índice Bovespa para este ano.
A retração generalizada nas perspectivas do mercado financeiro e da atividade econômica do país impulsionam o fortalecimento do desalento e a inquietação popular.
A complexidade do quadro geral brasileiro transcende o cenário global para pior, por isso ainda que não tenhamos convicções firmes sobre as perspectivas sobre o futuro imediato, olhar para o exterior não nos trará alento enquanto não conseguirmos construir posturas consensuais em torno das formas de fazer e construir consensos.
A crise do coronavírus é grave, mas o Brasil consegue amplificá-la ainda mais com uma nefasta disputa política no seu entorno e com isto conflitar os interesses do país.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO