A intensidade da queda do preço do dólar ao início dos negócios hoje chamou a atenção e não ficaram claras as razões e motivos quando sequer ainda havia volume negociado. Por outro lado, a BOVESPA também embarcou na sinalização do mercado futuro americano e empinou logo na abertura uma alta maior do que os indicativos externos.
A possibilidade de guerra comercial e até mesmo cambial foram atenuadas, mas não superadas, tendo o Presidente Trump aberto a possibilidade de exceção em relação ao Canadá e o México dentro dos entendimentos no ambiente da NAFTA.
Há nervosismo nos mercados desde a semana passada quando Donald Trump, anunciou que os Estados Unidos iriam impor tarifa de 25% sobre a importação de aço e tarifa de 10% sobre o alumínio importado, e isto teria impacto para o Brasil que exporta 1/3 de sua pauta de aço para os Estados Unidos.
Embora a proposta tenha sido amplamente criticada, enfrentando reações negativas de líderes mundiais, até seus parceiros do Partido Republicano também pressionaram Trump postulando reconsideração ao plano. A incerteza permanece, investidores acreditam que as tarifas são apenas arroubos do Presidente.
O Brasil tem motivos diferentes dos prevalecentes no mercado americano e mesmo externo, seja no lado econômico onde podemos ter reflexos no comércio exterior afetando nossas exportações de aço, que são relevantes para os Estados Unidos, e agora, com impactos ainda não bem quantificados com o evento negativo em torno da BRF, que podem comprometer as nossas exportações de frangos e, naturalmente, no lado político, com a determinação de quebra de sigilo bancário do Presidente Temer, determinado por ministro do STF, fato inédito e desconfortante, e também em torno da apreciação pelo supremo do pedido de “habeas corpus” preventivo da defesa do ex-presidente Lula.
Não se pode descartar que tenha havido hábil intervenção por parte do BC e parceiros para não deixar estes fatos intranquilizarem o comportamento do mercado, porém esta é uma suposição não desprovida de sintomas, mas não forjada em evidências, pois se praticada é sempre de forma sutil. O fato dos ajustes fortes logo na abertura surpreendeu. Enfim, a conferir, pois há muitas razões e motivos para volatilidade por aqui sem influência externa.
Mas o cenário externo precisa ser bem acompanhado por nosso mercado financeiro, em especial bolsa e dólar, pois estamos muito dependentes dos investidores externos, em grande monta especulativos.
Voltam a se intensificar os ruídos em torno de nova queda da SELIC, que afinal não tem melhorado o nível de custos impostos ao crédito pelo sistema nacional, mas que tem um efeito emblemático e puramente cosmético, sendo mais psicológico do que efetivo.
Este é um ponto relevante no momento em que se acentuam os dados de robustez da economia americana e fortalece a convicção de que o juro pode ser elevado até 4 vezes este ano.
Não tem merecido maiores considerações o fato de que grande parte dos recursos externos presente no nosso mercado financeiro, com relevância na Bovespa e renda fixa, tem origem na montagem de operações de “carry trade” como consequência da extraordinária liquidez internacional, e, principalmente, pelo baixo custo do recurso na origem.
Esta equação com alta de juro lá e queda por aqui pode estreitar as margens e provocar a diminuição do apetite pelo Brasil, afora os problemas que o país enfrenta com a sua crise fiscal, que já proporcionou revisões de rating que o colocaram 3 degraus abaixo do grau de investimento, e, principalmente com o esperado crescente ambiente de disputa político eleitoral num ambiente de muitos candidatos e ainda extremamente indefinidos a ponto de se projetar visão prospectiva para o país, tendo como pano de fundo a insistência do ex-Presidente Lula, que a despeito de condenado busca formas jurídicas para que possa ser candidato, e este é um risco não muito acreditado, mas que pode ter surpresas a partir da decisão que o STF adotará face a sua condenação em 2ª instância.
Numa visão mais crítica e realista há muito com o que se preocupar no ambiente interno político econômico brasileiro, com enormes focos de dúvidas e incertezas e ainda com o ônus do governo atual ter que deixar o orçamento para o novo Presidente a partir de 2019, havendo grande possibilidade de quebra da regra de ouro para que seja elaborado.
Enfim, acreditamos que precisamos olhar mais atentamente para as questões intestinas do Brasil, suficientes para criar fortes e desconfortantes perspectivas, suficientes para forjar comportamento volátil dos seus mercados, mas também sem perder de vista o ambiente externo que, acreditamos, já deu ao Brasil o que tinha para dar de benefícios, e doravante exigindo que sejamos mais precavidos.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO