Em condições de normalidade o fundamento concreto sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado tem origem no mercado futuro de dólar e derivativos, contrariando a impressão de que é o mercado à vista que determina o preço.
Contudo, neste momento em que observamos o preço da moeda americana com direcionamento contrastante com as projeções e perspectivas, ocorre a percepção de que o mercado à vista está preponderando e influenciando o preço na medida em que as perspectivas para o fluxo cambial de recursos externos para o início do ano não se confirmam, e, desta forma, a pressão de depreciação do real acaba tendo origem a partir do mercado à vista, contrariando o habitual.
O fluxo cambial positivo das primeiras duas semanas revelou minguado saldo de US$ 136,0 Mi, algo irrisório ante as expectativas e projeções.
Por outro lado, os bancos autorizados a operar em câmbio detém expressivo volume de posição vendida, algo próximo de US$ 25,0 Bi, que para ser atenuado precisa de fluxo efetivo de divisas.
O BC está dando suporte ao carregamento deste posicionamento à descoberto por parte dos bancos, ancorando-o parcialmente com a concessão de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra de US$ 12,250 Bi.
Este contexto fragiliza o viés de apreciação do real que era esperado e deixa a formação do preço pressionada e com viés de alta.
Não se espera que o BC venha a suprir os bancos com venda efetiva de dólares de suas reservas, podendo e até sendo necessário que realize novas ofertas com leilões de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra para suprir a liquidez nesta fase de fluxo cambial baixo.
Os bancos ao liquidarem parte substantiva de suas posições vendidas no mercado de dólar e derivativos futuro permitiu que se realizasse a leitura de que haviam perdido a convicção na apreciação do real além de R$ 3,70, o que não aconteceu com os investidores institucionais de mantiveram suas posições vendidas e até às aumentaram acima de US$ 30,0 Bi naturalmente acreditando na depreciação do real.
Há clareza de que os investidores estrangeiros estão aguardando a materialização das medidas propagadas pelo novo governo para então, é o que se acredita, direcionarem seus investimentos, quer para a Bovespa de forma mais imediata quer para a conta capital.
Portanto, como já ressaltamos a alta da Bovespa não decorre da presença de investidores estrangeiros, mas sim de movimento incrementado por investidores nacionais, e, embora quebrando recordes a Bovespa ainda não tem a dinâmica que se propaga para grande e expressivo desempenho.
Acredita-se que virão, mas estão em “estado de observação” com postura extremamente sensata.
A reforma da Previdência parece ser um marco divisório para a quebra desta retração, e na medida em que se tornem público seus termos e se possam avaliar as probabilidades de sucesso por parte do governo, os investidores estrangeiros devem intensificar seus fluxos de capitais para o Brasil.
Evidentemente há projeções bilionárias de ingressos em perspectiva, mas poderá haver surpresas e até desapontamentos pois o mercado global está um tanto quanto conturbado e existem oportunidades que podem concorrer com os emergentes, a partir mesmo do mercado americano com a economia persistindo na forte dinâmica, com o FED mais leniente e os preços das ações até certo ponto consideradas baratas.
Desta forma, não nos parece correto e fundamentado atribuir as questões envolvendo China-USA, Brexit, etc…, para se justificar a resistência imprevista para ocorrência da apreciação do real frente ao dólar.
As causas do que ocorre no momento são pontualmente de razões próprias em torno do Brasil e decorrem da necessidade premente do novo governo brasileiro transformar as intenções em ações concretas.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO