A economia brasileira dá sinais concretos de que está ganhando dinâmica recuperatória da atividade, deve crescer 1% este ano e poderia, segundo o BC, ter sido 1,59% não fossem os choques da Argentina que impactou na nossa indústria de transformação e exportações, da economia global com o embate comercial entre China e Estados e os efeitos colaterais em grandes economias e, em parte, o choque com o evento de Brumadinho, mas o fato é que o Brasil deve chegar a virada do ano quem sabe insinuando propensão já a 2,0%.
Importante observar que os relatórios de instituições financeiras internacionais passaram a recomendar o Brasil positivamente para os investidores e isto é importante, pois o país sofreu substantivo desmanche de posições especulativas de investidores estrangeiros, sem ter em concomitância atratividade para os recursos estrangeiros não especulativos dados a inércia da atividade econômica e o retardamento relevante da aprovação da Reforma da Previdência.
Espera-se que o fluxo cambial melhore e se acentue para a Bovespa, já que o juro está pouco atraente dada o estreitamento entre o juro americano e o local, mas pode ser que ainda assim atraia recursos de países que estão praticando juro negativo, mas deverá ocorrer certo atraso nos investimentos na infraestrutura, primeiro porque o processo de privatizações está muito lento, deveria ser prioridade “um” em conjunto com as reformas, que também precisam ganhar visibilidade e contundência, e, também, pelo surgimento de insegurança jurídica, algo que sensibiliza muito a tomada de decisão por parte de investidores a longo prazo, e a intranquilidade das perturbações políticas tendo ao centro a mutação partidária do Presidente às vésperas de um ano eleitoral.
O reconhecimento externo pontificando a percepção de melhora da atividade econômica mantendo certo alheamento das questões de insegurança jurídica e perturbações políticas para investimentos de curto prazo, certamente sanciona recomendação para o mercado acionário, que assim ganha perspectivas efetivas de doravante ter intensificado o fluxo de investidores estrangeiros, enquanto que para a infraestrutura deverá ganhar impulso na medida em que “desanuviar” as sombras da insegurança jurídica e perturbações políticas, mas será de extrema relevância que não haja dispersão de esforços para a dinamização das novas reformas imprescindíveis e privatizações.
Há sinais de retomada da atividade econômica nos seus mais diversos indicadores, porém há o anseio de aumento da recuperação do emprego face à grandeza do número de desempregados, mas é importante observar que há desemprego conjuntural e também estrutural. A CNI já apontou que há em torno de 10,5 milhões de desempregados que precisam ser reciclados para a modernidade, e não é difícil de ser percebida esta realidade, bancos reduzem agências e se tornam digitais, supermercados suprimem caixas e passam para o autoatendimento eletrônico, indústrias aperfeiçoam suas linhas de produção com robôs, e até a indústria da construção já não emprega tanto quanto antes, enfim a tecnologia avança e desemprega e é necessário que esta massa de trabalhadores se qualifique para este novo cenário.
O contexto brasileiro é absolutamente novo, juro baixo, inflação baixa, CDS excelente, que deve melhorar o nível de oferta de recursos externos para as empresas brasileiras que optaram por troca de dívida externa por dívida interna o que deve melhorar o fluxo cambial que foi afetado, custos para a construção civil cadente estimulante à atividade e maior participação dos bancos nos financiamentos de longo prazo assumindo papel que era quase que somente desempenhado pelo BNDES, e agora, equacionada ainda que parcialmente, mas em valor substantivo a crise fiscal, o que não foi tarefa fácil, está no momento da retomada.
O câmbio, sem fundamentos concretos, apresenta até o momento apreciação desproporcional à realidade do dólar frente ao real, pois embora o fluxo cambial tenha sofrido expressivo retrocesso na comparação 2018/2019 da ordem de US$ 39,851 Bi até dia 14, determinando um fluxo cambial negativo de US$ 22,628 Bi ( perda no fluxo comercial de US$ 25,330 Bi e no financeiro de US$ 14,522 Bi), teve a ação pontual do BC que supriu o mercado à vista com oferta e colocação de dólares à vista no montante de US 24,970 Bi, volume maior do que o déficit do fluxo cambial negativo, o que em tese, neutraliza o aspecto oferta/demanda.
Não há temores e nem preocupações com o câmbio, pois o país tem reservas cambiais de US$ 368,0 Bi e o BC demonstrou atitude correta quando se fez necessário, reduzindo o volume de reservas cambiais que existem para esta ação também quando necessária no montante de US$ 24,970 Bi, procurando dissimular este fato importante com a mixagem de oferta de swaps cambiais reversos que na realidade são derivativos e não envolvem moeda estrangeira efetiva sendo liquidáveis por diferença em reais, mas com isto mitigou as repercussões maiores em torno do fato.
Agora entendemos que o BC, até que se materialize a inflexão do fluxo cambial de negativo para positivo, deva monitorar esta mudança e realizar oferta com leilões unicamente de moeda à vista no mercado à vista, interrompendo a oferta de swaps cambiais reversos que estão perdendo interesse e ao não ser aceitos neutralizam por ser conjugado à oferta de liquidez no mercado à vista, onde os bancos carregam desde o ano passado posições vendidas da ordem de US$ 24,800 Bi (fechamento de dezembro e atual até 14/novembro) e para as quais só forneceu lastro com linhas de financiamento em moeda estrangeira da ordem de US$ 8,250 Bi.
Alternativa também seria incrementar a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira, mas que se utilizadas somente para lastrear o estoque de posições vendidas em substituição das linhas externas que o estão ancorando não promoveriam aumento da liquidez.
O BC, com a melhora do fluxo poderá ter até a oportunidade de recompor as reservas cambiais, mas especificamente quando ocorrerem às privatizações.
Enfim, a despeito dos desgastes da insegurança jurídica pontificada e que deixa suas “marcas” mesmo quando ou que venham a ser revogadas, e as intranquilidades na área política, nos parece evidente que a recuperação da economia brasileira, mantendo os aspectos pontificados negativos à margem, ganha consistência e cria perspectivas inteiramente positivas, sendo contudo imprescindível que haja continuidade com as reformas.
A antevisão desta perspectiva é que permite que se mantenha a projeção do dólar para o final do ano em R$ 4,00, com viés de redução ao início de 2020.
O câmbio convive com um momento atípico, sem fundamentos, portanto nada que permita ou justifique alardes preocupantes.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO