Indícios de forte manipulação especulativa na formação do preço do dólar

Os fundamentos da economia brasileira na atualidade não sugerem que prematuramente a formação do preço da moeda americana sofra depreciação tão substantiva no nosso mercado, ainda mais quando as expectativas têm uma carga relevante de incertezas e desafios para se defrontar ao longo do ano e está ainda carente de indicativos consistentes de que poderá alcançar os objetivos.

Dados como os divulgados hoje são intranquilizadores. A Dívida Publica subiu 4,6% em março, enquanto a arrecadação no mesmo mês subiu 0,5% algo como R$ 94,0 Bi. Será que estamos mudando mesmo?

No câmbio o desafio ainda é maior, pois uma melhora substantiva dependerá mais da reação de fora para dentro e esta sensibilização não é tão fácil nas atuais circunstâncias, quando o país desperta menor atratividade ao investidor produtivo já que a economia está praticamente estagnada.

Não se podem considerar normais oscilações que fizeram o dólar flutuar de R$ 2,9051 a R$ 2,9593, algo em torno de 1,80%, mantendo estado de volatilidade, sendo notório que estão presentes forças que não tem qualquer relação com fundamentos, expectativas ou o quer que seja. Isto denota a presença de movimento de depreciação forjado pela especulação focada na apreciação do real e que ao chegar a um ponto quase extremo da incoerência atrai a presença de compradores que ficam motivados pela inesperada oportunidade.

Há um estoque considerável de importações a ser liquidado e cujos devedores estão de plantão, mas há quem vislumbre que este movimento esteja sendo conduzido pelos próprios bancos que teriam relevantes montantes de linhas a liquidar com o exterior que poderão ser ou não objeto de novação.

Seja o que for, o que se presencia é uma anormalidade e poderá ter consequências pois desincentiva a retomada de atividade dos setores internos focados no mercado externo, já que a volatilidade contém a propensão ao crescimento e desenvolvimento dos negócios.

Da mesma forma é desestimulante ao ingresso de capitais especulativos, neutralizando a atratividade do juro elevado que o país proporciona, pois por ser um movimento que conduz o preço da moeda americana a um comportamento atípico, fora do ponto teoricamente de equilíbrio, amplia o risco de variação cambial e desta forma o capital especulativo se retrai.

Temos dito repetidas vezes que o país ainda tem inúmeros pontos que pressionam a taxa cambial para cima, embora menos intensos do que já foram num passado recente, e que desta forma não pode repercutir com absoluta sinergia as oscilações no comportamento da moeda americana no exterior, sob risco de conduzir a moeda nacional ao desequilíbrio e ir contra os objetivos do governo.

Urge que o BC corrija os rumos do mercado diminuindo o volume de rolagem dos contratos vincendos de swaps cambiais para tirar espaço da especulação e reconduzir o preço da moeda americana ao ponto de equilíbrio.

É preciso focar nas perspectivas para as contas externas, com o BC projetando um déficit em contas correntes de US$ 84,0 Bi, item que acumula nos últimos meses um déficit de US$ 101,0 Bi e que fechou o ano passado registrando US$ 103,0 Bi. Além disto, a credibilidade da moeda nacional para não registrar um preço explosivo está ancorada em quase US$ 110,0 Bi de contratos de swaps cambiais e os bancos ainda permanecem sendo os geradores de liquidez no mercado de câmbio interno em grande monta, a despeito do saldo positivo de fluxo cambial e isto se presta a não reduzir objetivamente as reservas cambiais do país.

Estes são dados que parecem não estar sendo considerados com a seriedade necessária, e desconsiderá-los pode ter repercussões bastante negativos num futuro próximo.

 

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