Pois é, de repente é crescente a convicção de que a Reforma da Previdência em si tem pouco potencial para alavancar a retomada da atividade econômica!
Afinal, a evidência é que a Reforma aprovada tira o governo do roteiro do “buraco negro”, caminho da inadimplência consequente do agravamento gradual previsto da crise fiscal, mas nem de longe promove disponibilidade de recursos públicos para serem direcionados para investimentos, que, como consequência, gerariam emprego, renda e consumo.
O setor produtivo, a quem caberia então investir, não tem motivação para investimento devido deter enorme capacidade ociosa que precisa ser exaurida antes de qualquer novo aporte de recursos para reaquecer a atividade.
Em tempos idos, o governo acionaria a máquina de produzir moeda e faria os investimentos e daria tração para a retomada da atividade, mas foi exatamente isto que provocou o quadro preocupante gerador da crise fiscal atual, que para ser contornada teve como ato primeiro a Reforma da Previdência.
Então, ressalta que o cenário de momento registra um hiato paralisante, ficamos na euforia da aprovação da Reforma, mas sem consequências efetivas de impacto na economia do país, portanto, tudo permanece no mesmo lugar, só que agora com o conforto de que o governo, o país, terá atenuada a crise fiscal, mas com o desapontamento de que pouco muda na atividade econômica.
O fato é que a eloquência teórica em torno da Reforma e seus efeitos não se confirmam na prática.
Como sair deste marasmo? A solução mais plausível é a ativação imediata das privatizações por parte do governo como fonte geradora de recursos para investimentos na infraestrutura, ativando a geração de emprego e renda, que, como consequência, impulsionaria a dinamização do mercado interno e promoveria a redução acentuada da capacidade ociosa do setor produtivo, motivando-o, então, a novos investimentos.
Este contexto pontifica a perspectiva de um período com o país sem atratividade ao capital estrangeiro, mesmo com a implementação da Reforma Tributária, sendo imprescindível as privatizações para “gerarem caixa ao governo”, e este quadro, sem dúvida, terá impactos nas perspectivas para a Bovespa e para o preço do dólar no nosso mercado.
O país tem inúmeros dados benignos, tais como, inflação baixa (consequente da inércia da atividade econômica), juro baixo com viés de queda, CDS baixo referendando baixo risco, mas está sem meios de reativar a atividade econômica de imediato e as projeções postas de forma severa pelo BC e governo, além da mediana do Boletim Focus, para o 2º semestre e para o PIB do ano, acabam sendo fatores indutores ao pior cenário, tal qual a Lei de Murphy.
Desta forma, pelo menos no curtíssimo prazo não há razões fundamentadas para que a Bovespa acentue valorização sustentável, pois se a economia não deslancha não há por que as ações se valorizarem, exceto eventualmente as ligadas a commodities exportáveis cujos preços dependem do mercado internacional.
No câmbio o país registra fluxo cambial negativo e as perspectivas não são favoráveis para que ocorra reversão deste quadro no curto prazo face à baixa atratividade já salientada e nem mesmo ao capital estrangeiro especulativo, pois a diferença de juro interno e externo inibe as operações de “carry trade”, por isso temos destacado que, embora tenhamos projetado o preço do dólar em R$ 3,75 ao final do ano, neste momento este nível de preço não é sustentável e nem razoável.
Evidentemente, não se espera subida exacerbada do preço do dólar, até porque o país é bem defendido neste quesito com suas contas externas em ordem e déficit em transações correntes equilibrada, mas, no nosso entender, galgará preço na faixa de R$ 3,80/3,90 até que o país readquira atratividade.
Este parece ser o sentimento que motiva os investidores estrangeiros a voltarem a aumentar suas posições compradas no mercado futuro de dólar.
O momento não sugere retomada de tendências sustentáveis, predominando a volatilidade, mas o viés sinaliza baixo otimismo e impõe muito comedimento na tomada de decisões operacionais.
Sem “tração” o mercado local fica à mercê do ambiente interno, com baixa sinergia com fatores externos.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO