FED e COPOM: decisões podem impactar no Brasil nos fluxos e no câmbio!

A concomitância das decisões do FED americano sobre o juro e perspectivas e do COPOM brasileiro na mesma linha, a serem adotadas no próximo dia 31, podem ter impactos no Brasil muito maior do que esperados, em especial no câmbio e no comportamento dos fluxos de recursos estrangeiros.

O estreitamento do juro externo em relação ao juro interno poderá gerar movimentos relevantes envolvendo fluxos de recursos estrangeiros e comportamento do câmbio e em seus derivativos.

Há razões para estar atento para fatos que podem ir além do clamor do mercado para que o COPOM reduza a taxa SELIC de forma mais aguda, tendo como motivação o viés acentuado de queda da inflação e a inércia da atividade econômica, mas há outras razões para se considerar e observar com maior acuidade.

Se o FED americano reduzir a taxa de juro americana e o COPOM a nossa taxa SELIC, por si só já sugere repercussões, que, contudo, poderão ser maiores de os movimentos forem díspares a ponto de promover um estreitamento maior.

Há um fato novo no comportamento dos demandadores e detentores de empréstimos externos no Brasil, pois motivados pela redução brusca do custo no Brasil pela queda acentuada do juro estão gradualmente trocando os novos e as rolagens dos empréstimos externos por endividamento interno e isto, naturalmente, reduz significativamente os fluxos cambiais de ingressos de recursos externos e em contraposição intensificam os fluxos de saídas.

Este é um dos pontos determinantes do fluxo cambial negativo que o país vem registrando de forma consistente no segmento financeiro, que não tem encontrado suporte no fluxo comercial que é decadente em seu volume devido a queda das exportações.

O estreitamento praticamente elimina a oportunidade de realização de operações de “carry trade”, muito comuns no passado e que eram incrementadas para gerar fluxos de investimentos externos na Bovespa e no mercado de juros pelos investidores estrangeiros.

O contexto prospectivo da retomada da atividade econômica brasileira acentua a percepção de que não se devem ter ilusões em torno deste ano, pois a Reforma da Previdência e nem mesmo a Tributária terão condições de geração de recursos para o poder público realizar investimentos estruturais, e sabidamente o governo não dispõe de recursos e com as medidas aliviará a crise fiscal e desburocratizará o emaranhado fiscal que assola a atividade empresarial.

O setor produtivo, desmotivado para investimentos pela expressiva capacidade ociosa que detém no momento, aguarda reação do consumo, mas terá que se contentar com o paliativo momentâneo da disponibilização de recursos do FGTS, que não será, certamente, motivador de investimentos.

 Desta forma, parecem funestas as projeções otimistas em torno do desempenho da Bovespa alavancada não pelos investidores nacionais, mas principalmente pelos investidores externos, num ambiente em que o país não revela atratividade.

O mercado de juro no Brasil também perde interesse para os investidores estrangeiros, dada à redução da remuneração.

Poderá então ocorrer movimento reversivo de investidores estrangeiros, hoje presentes na Bovespa e no mercado de juro, não rigorosamente por aversão ao risco, mas devido a perda de atratividade do país no curto prazo.

Isto poderá repercutir no custo do cupom cambial, pressionar a taxa de câmbio do mercado à vista e exigir do BC atuação não trivial no mercado de câmbio.

O que nos ressalta é que o Brasil está num momento em que as perspectivas econômicas de curto prazo não ensejam otimismo, mas o país tem indicadores como inflação e juros, além do CDS, baixos, porém a falta de atratividade pode ensejar movimentos assimétricos em relação ao mercado global.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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