Expectativas e incertezas remanescentes contém riscos e afetam dólar e bolsa

O ambiente Brasil pós eleições segue com otimismos, mas é inegável que há uma gama de expectativas inquietantes em torno de quase tudo que se propaga de ações do novo governo, fortalecendo incertezas que estavam presentes, e isto, acaba por agregar prêmio de risco no preço da moeda americana e pesar sobre as perspectivas imediatas para a B3.

Afora todos os demais problemas relevantes com os quais o país se defronta, o que mais pontifica e tem efeitos de contenção nos ânimos é a questão da crise fiscal, para a qual é fundamental que seja delineada solução, sem o que as demais ações de governo perdem dinamismo em perspectiva.

O câmbio como temos destacado quase que cotidianamente, há já algum tempo, está com o seu preço ajustado à realidade presente em torno de R$ 3,70, nível em que inclui uma parcela oriunda do prêmio de risco oriundo das incertezas remanescentes, com ênfase à questão fiscal.

Efetivamente não há como eliminar este componente incluso no preço do dólar e que convive com um forte embate entre “comprados” e “vendidos” no mercado futuro de dólar, que contempla ainda parcelas especulativas residuais do movimento intenso havido recentemente e desarmado pela insustentabilidade de fundamentos.

No nosso entender, será imprescindível que se tenha maior evidência das diretrizes do plano de governo do Presidente Bolsonaro, com ênfase às medidas focando a superação da crise fiscal, para que possa haver redução gradual do prêmio de risco, mas os sinais atuais que estão deixando de preconizar a Reforma da Previdência ainda neste governo, acabam por postergar esta possibilidade, otimistamente, para o 1º trimestre do ano que vem, no melhor cenário.

A B3 para confirmar as perspectivas que são pontuadas como muito favoráveis em 2019 precisará que haja sinais efetivos de medidas e ações que promovam a retomada da atividade econômica, já que o mercado acionário é alavancado pela expectativa de resultados empresariais, mas aparentemente deverá enfrentar um novo cenário menos favorável no próximo ano, visto que a liquidez internacional deverá ser cadente, da mesma forma que o apetite por risco dos investidores em países emergentes, e ainda mais, o contexto para montagens de operações de “carry trade” tende a ficar prejudicado pela alta do juro externo e a manutenção do juro baixo brasileiro.

Enfim, não há muito incentivo para movimentos precipitados, o momento requer extrema acuidade nas análises e projeções, e é bem possível que o que se imaginava como algo imediato tenha que ser colocado em perspectiva mais de médio prazo, ao longo do 1º semestre de 2019,e ainda assim se as diretrizes se revelarem positivas.

Temos de um lado o Brasil que precisará estar sendo reconstruído para dar a largada para um novo ciclo positivo e, por outro lado, um cenário global que pode se revelar bastante adverso, até porque os Estados Unidos tende a se tornar o grande concorrente às demais economias mundiais, com grande ênfase aos emergentes.

O tempo dos ventos favoráveis parece estar se findando para os emergentes, por isso é positiva a postura otimista, mas sem perder de vista que nem tudo será tão propício e favorável como se pode imaginar, e isto tem a ver com a conjuntura mundial e não com o nosso novo governo.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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