A economia americana gerou dados que ensejam otimismo sobre a recuperação da atividade, mas ao mesmo tempo inúmeros Estados americanos vêm replicando número expressivo de contaminação do coronavírus, e este fato cria incertezas que não permitem sejam relegadas a segundo plano, mesmo que o Presidente Trump assim o deseje como instrumento de sua campanha eleitoral.
Geração consistente de empregos da ordem de 4,8 milhões de vagas e recuo para 11,1% o percentual de desemprego são dados que ensejam otimismo, mas ainda assim não permite que se relegue a pandemia a segundo plano, visto que os números de infectados em Estados como Califórnia, Texas e Flórida são ascendentes, razão pela qual ainda é predominante a precaução contendo de forma sensata a euforia natural com o fato.
No Brasil, nossa visão, já expressada, é de que teremos um semestre sem grandes exacerbações e ainda com predominância da dicotomia entre saúde e economia, havendo imensa probabilidade de movimentos tentativos de flexibilização combinados com retrocessos e isto gerando incertezas e não validando expectativas de que neste semestre teríamos os sinais mais consistentes de recuperação da atividade econômica.
Alguns dados recentes têm sido maximizados em sua repercussão, porém não podemos perder de vista que houve forte retração da atividade econômica, que já não era brilhante no estágio pré-pandemia, e agora qualquer movimento de reposição ganha expressividade percentual sobre a base deteriorada.
Não há convicção sobre que fase realmente o país está na pandemia, pois os dados negativos continuam ascendentes, se bem de disseminados em regiões que não ganharam destaque ao inicio, mas o fato é que o problema ainda é crescente.
O Banco Central do Brasil externou que não está no radar de suas projeções a possibilidade de recidiva da problemática crise da pandemia, ou seja, uma segunda rodada, que poderá se ocorrer, como vem emitindo sinais, ser drástica para o país.
O agravante na questão da pandemia é o fato de não ser só uma equação de dificílima solução envolvendo saúde e economia, mas ter o agregado político extremamente perturbador e desorientador da população.
Embora haja o natural estímulo pró-otimismo, importante, o fato é que o estado concreto e fundamentado do país não enseja expectativas de rápida mudança do cenário presente, o que nos faz projetar que neste semestre a economia, bem como Bovespa e dólar estará patinando, ou seja, não saindo muito do lugar.
A Bovespa deve continuar flutuando na faixa atual de vez que o país não está sendo agraciado pela enorme liquidez presente no mercado internacional por falta de perspectivas econômicas e atratividade e devido ao problema fiscal e o forte endividamento, afora oportunidades existentes em outros países emergentes, afetaram a atratividade.
O dólar tende a sinalizar como já destacamos relativa “estabilidade” entre os extremos de R$ 5,00 a R$ 5,50, dependendo dos sinais benignos ou adversos que surgirem ao longo do semestre, não havendo projeções para pressões de demanda, percepção sancionada no Relatório Trimestral de Inflação que reduziu a projeção do déficit em transações correntes de US$ 40,0 Bi para US$ 13,0 Bi, e também não se espera aumento de fluxo cambial positivo, pois perdeu a atratividade do juro.
O problema no câmbio atualmente é a volatilidade que é um empecilho aos negócios, fato que precisa de maior atenção do Banco Central do Brasil no que tange a eventual influência do “overhedge” por parte dos bancos que detém posições vendidas no mercado à vista próxima de US$ 29,0 Bi atualmente, embora o BC tenha foco neste quesito recentemente (MP 930), e ainda, presença perturbadora de posições especulativas no mercado futuro de dólar que poderão ser dissimuladas com a convicção de “estabilidade” no preço do dólar no nosso mercado, e que neste momento ainda estimulam a volatilidade.
Enfim, embora voláteis, tanto Bovespa quanto o dólar não evidenciam que se distanciarão muito dos parâmetros atuais, ainda que a Bovespa esteja ancorada por investidores predominantemente pessoas físicas.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO