Os segmentos de alto risco do mercado financeiros, ditos de renda variável, normalmente registram fatos e enaltecem personagens vencedores que lograram ganhar fortunas, não reservando espaço algum à aqueles que perderam fortunas, pois quando alguém ganha normalmente alguém perde em algum momento.
Ocorre que tendo esta característica podem acumular ganhos contínuos e graduais, com fundamentos ou por pura especulação, mas que quando revertem suas dinâmicas ocorrem de forma muito rápida e consistente, não dando tempo de todos que estavam teoricamente no lucro desembarcarem ao mesmo tempo, e então ocorrem as perdas.
Há inúmeros exemplos e ocorrências no mercado local e no internacional que são históricos nestas ocorrências.
O Brasil teve experiência forte no sentido negativo na Bolsa em 1971, com inúmeros investidores realizando expressivos prejuízos e perdendo suas poupanças, há quem tenha receio ou preconceito até hoje contra o mercado acionário devido as “marcas” que ficaram do passado.
Houve no mundo as bolhas inúmeras desde o “crash” de 1929 até os dias atuais, sendo o mais recente os sinais de recrudescimento do entusiasmo em torno do “bitcoin” e suas correlatas, que esta transformando sonhadores bilionários em investidores consolidando substantivos prejuízos. A busca de recuperação que se insinua hoje deixa claro que é um mercado extremamente especulativo.
Enfim não dá para se “ensacar fumaça” e achar que tudo é lucro, sendo absolutamente necessário que existam fundamentos críveis e avaliação com acuidade dos riscos presentes, não só no mercado em si mas de uma forma mais abrangente envolvendo análise dos fundamentos do próprio país. Enfim, investimento deve estar ancorado em atitudes comedidas dentro de um contexto bem avaliado em seus prós e contras. Bom lembrar sempre que os riscos não devem ser menosprezados, e nem se deve assumir postura de um jogador de casino que busca sempre recuperar as perdas perdendo mais e mais, devendo ter em mente que quando não há comedimento o risco de ganhar é tão grande quanto o de perder.
No Brasil atual o que se presencia, em especial na Bovespa, é um ritmo alucinante de alta ancorado pela intervenção de investidores estrangeiros que acabam motivando os nacionais, porém sem se aperceber que o quadro da economia global com excessiva liquidez não tem correspondência efetiva com os fundamentos da economia brasileira e a expressiva gama de riscos que poderão ser impactantes a ponto de provocar uma rápida e consistente reversão de expectativas.
Os “avanços” insistentemente “vendidos” como marketing pelo governo à população na realidade não tem a magnitude enfatizada, e, como indiretamente disse o Ministro Meirelles não são sustentáveis, pois mencionou, em sua nota pós rebaixamento, que para o crescimento sustentável são necessárias as reformas que até o momento o governo não conquistou apoio para a viabilização.
Inegavelmente houve melhora de humor e o contexto no geral deixou de piorar, mas as melhoras ainda não justificam o grau eufórico que se presencia no mercado acionário, afinal 2017 deve ter registrado PIB de 1% e o desemprego uma redução pífia, mas há a preocupante crise fiscal quase insolúvel num ambiente em que existem poucas alternativas para superação e com o governo com uma postura que não consegue conter os gastos na prática, embora enfatize o contrário nos discursos. Contudo, números são números, mostram a verdade, visto que “não tem amigos”.
O país tem riscos altamente relevantes, seja no campo político, seja no econômico que ressente-se da incapacidade de investimentos estruturais por parte do governo, seja pela quase incontrolável crise fiscal que deixa sempre a preocupação com um “default”, tendo levado as autoridades monetárias do governo a ventilar a possibilidade de alterar a disposição constitucional que limita o endividamento e que popularmente é denominada “regra de ouro”, o que lhe provocou considerável desgaste.
O rebaixamento de rating imposto pela S&P que vem sendo focado como não relevante, não é algo desprezível pois pontuou com clareza as nossas fragilidades, podendo até ter sido antecipada mas não infundada. Certamente, tanto a FITCH quanto a MOODY´s tem o Brasil no foco e se não conseguir viabilizar solução para a crise fiscal seguramente o punirão tal e qual a S&P.
Afora a gama de reformas que o governo não conseguiu aprovação por falta de base política estável e até posições contrárias judiciais e que agora tem novo capitulo com a privatização da Eletrobrás, há muita tensão no contexto político que recrudescem as perspectivas de que possam ser revistas e então aprovadas pelo Congresso
Embora se busque mitigar os ruídos em torno do julgamento do ex-Presidente Lula, acreditamos que haverá um movimento reacionário de grande intensidade, fato que já começa a ganhar manchetes na mídia. Esta será uma perturbação contínua ao longo do ano, com repercussões no mercado internacional, que pode reagir com precaução postergando investimentos no Brasil até ulterior panorama.
Também, no cenário político há muitas indefinições em torno de quem serão os candidatos à sucessão Presidencial, não havendo até o momento nomes que possam ancorar melhores expectativas e alguns postulantes reconhecidamente não tem carisma popular. Este é um ponto que pela dúvida pode ser neutralizante a decisões de investidores nacionais e estrangeiros.
No nosso ponto de vista há um entusiasmo excessivo num ambiente extremamente inconsistente e com riscos consideráveis, e ao se perder o senso crítico do quadro interno e se deixar levar pelo quadro externo pode ocorrer equívocos irreparáveis e perdas expressivas.
O dólar Brasil num contexto como o atual não pode ter sua dinâmica unicamente alinhada ao comportamento do mercado externo, resultando irreal, mas sendo um alento para os investidores estrangeiros que conseguem realizar ganhos especulativos na Bovespa e sair sem perda cambial.
Este primeiro trimestre, dada a importância de riscos presentes, poderá ter fatos impactantes, tanto para o bem quanto para o mal, afinal o cenário é binário.