Câmbio News

Em tempos eleitorais é preciso tomar cuidado com as declarações

Primeiro porque os mercados são muito sensíveis, segundo porque podem acreditar e provocar repercussões e terceiro porque pode ocorrer desapontamento com promessa de campanha não entregue na forma anunciada.

Declarado

Se o texto abaixo reproduzir exatamente o que foi dito:

“ Em entrevista à Reuters, Armínio declarou que o programa de intervenção diária do BC no câmbio será interrompido imediatamente e seu estoque “desmontado ao longo do tempo”. À agência internacional, o ex-presidente do BC do Brasil afirmou: “Nós certamente não teríamos esse programa (de swap cambial)”. Explicou também que “tem o fluxo e o estoque. A intervenção seria removida imediatamente e o estoque pode ser desmontado ao longo do tempo”.

Poderá motivar um movimento extremamente forte de apreciação do preço da moeda americana no nosso mercado, caso o candidato da oposição alcance algum indicativo mais intenso de que poderá ser eleito ou mesmo se eleito, contrariando o que até agora levou o mercado a depreciar a moeda americana.

Realidade

A realidade presente é de que os “swaps cambiais” são utilizados para “hedge” e para ancorar a compra de credibilidade da qual a moeda nacional está desprovida no momento, por isso atingiram o expressivo estoque em poder do mercado de US$ 100,00 Bi. Com esta estratégia o BC conseguiu até a pouco tempo apreciar fortemente o real e agora ainda consegue impedir que “escape” e vá atingir uma taxa explosiva.

A forma posta por Armínio não sugere que a interrupção imediata da intervenção garanta a rolagem das posições vincendas dentro do estoque (“A intervenção seria removida imediatamente e o estoque pode ser desmontado ao longo do tempo”), mas sim que deixará o desmonte ocorrer ao longo do tempo gradualmente com os vencimentos ocorrendo e não sendo renovados, já que afirma que a intervenção seria removida imediatamente. Se assim for a ideia poderá haver descasamento e o mercado pressionará por “hedge” elevando a taxa cambial.

Inviabilidade do propósito

Temos ressaltado inúmeras vezes que o BC está refém da colocação dos contratos de swaps cambiais na forma de rolagem das posições vincendas e um pouco a mais de oferta mensalmente, e que para o desmonte precisará haver a contraposição da melhora considerável de fluxos de recursos estrangeiros para o país, o que somente será possível com políticas novas e seu sucesso com resultados que possam ser aferidos, e que isto levará tempo mesmo se for a oposição que venha a assumir o governo a partir do ano que vem.

Objetivo da declaração

Declarações deste tipo se configuram muito mais como anseio do que efetivamente possíveis face a realidade, e podem se revelar inoportunas num momento em que o preço da moeda americana já tem motivos em demasia para sustentar tendência de apreciação no nosso mercado, dada a conjuntura adversa, também não corrigível por um eventual novo governo da oposição no curto prazo.

Pode ter sido uma declaração para marcar um posicionamento ante algo que incomoda o mercado, mas tenha sido excessiva ao agregar o comprometimento da “interrupção imediata”.

Na prática a teoria é outra, e pode ter sido uma declaração apropriada para tempos eleitorais, alinhada com o anseio de grande parte dos setores da economia brasileira, que depois pode se revelar não praticável da forma posta e acarretar desapontamentos e críticas.

Prospecção realista

O BC tem “em ser” no mercado futuro nada mais nada menos do que US$ 100,0 Bi e os bancos estão com posições vendidas dando suporte a liquidez no mercado à vista próximas de US$ 20,0 Bi, num quadro em que o país desperta baixíssima atratividade e revela grande perda de credibilidade perante os investidores externos com recursos não especulativos.

Há um enorme desafio para a recondução do país a linha de crescimento totalmente perdida devido a política econômica errática que o conduziu a um quadro geral bastante deteriorado.

E, não bastasse isto, o mundo se vê crescendo em ritmo mais lento, o que pode dificultar ainda mais o interesse dos investidores estrangeiros pelos países emergentes, retardando a recuperação de fluxos externos volumosos.

Não há e não haverá no novo governo, reeleita a situação ou a oposição, condições de interromper bruscamente o programa de “swaps cambiais” na forma entendida na declaração de Armínio Fraga, sob o risco de alta explosiva no preço da moeda americana no mercado local.

Poderá haver até o congelamento do estoque ao final do ano, calibrando a partir dai a oferta de rolagem com foco de redução na medida em que for se configurando viável face à saída do país de recursos hoje com “hedge” maior do que os ingressos, mas de forma “ cirurgicamente” articulada.

No “peito e na raça” não dá para fazer, não há atalhos para este processo de desmonte com interrupção abrupta inclusive envolvendo as rolagens, já que não foram ressalvadas ou abordadas na declaração, e não poderá ser apressada e necessariamente precisará ser dosada a redução.

E que não se imagine que porque temos US$ 376,0 Bi de reservas cambiais dá para aguentar e resolver todos os problemas, pois se reduzir abruptamente a oferta que seja no mínimo para rolagem, a pressão virá do mercado futuro que precisará de “hedge” e não de oferta de dólares disponíveis a vista, estes necessários somente quando houver pressão no mercado à vista, atualmente atendida pelos bancos através a formação de posições vendidas.

Não dá para descasar o “hedge” sem oferecer nada em troca de imediato, por isso só poderá ocorrer gradualmente na medida em que o país dê em troca sinais de recuperação da credibilidade e atratividade e reconquiste fluxos de recursos externos consistentes.

Seria muito bom se pudesse ser tão fácil como posto na declaração na forma que foi possível entende-la, mas não é e nem será! A menos que a declaração esteja incompleta nos seus propósitos.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress