Ontem, o comportamento do preço da moeda americana sustentou preço interrompendo a sequência de depreciação dos dias antecedentes, porém teve comportamento volátil sem conseguir sustentar a apreciação do preço frente ao real, ao final do dia ficando praticamente inalterada.
Normal para um ambiente em que a formação do preço está sendo submetido a movimento especulativo para aviltá-lo, e que para dar suporte a este intento “valoriza” fatores nem sempre ponderáveis em detrimento de outros mais relevantes.
Internamente, o “clima” positivo em torno da Reforma da Previdência fortaleceu-se e até a Bovespa repercutiu isto, mas ainda foi oportunamente utilizado pelos “players” em movimento especulativo no mercado de dólar futuro o ambiente conturbado em torno do Brexit.
Se fizermos uma análise mais crítica sobre os efeitos diretos no Brasil dos impasses dos desencontros no Brexit, certamente concluiremos que pouco efeito tem sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, mas neste “jogo da especulação” qualquer fato menor pode ser potencializado, sem, contudo se tornar sustentável.
Desta forma, após a apreciação do dólar frente ao real ao longo do dia, ao final, por insustentável, voltou a linha de estabilidade, mantendo o viés de depreciação em perspectiva.
Hoje há o fato novo de que os dirigentes dos Estados Unidos e China irão adiar o esperado encontro de ambos para ao menos Abril, e há dados novos da China comercialmente desfavoráveis, e estes fatos não devem passar sem serem utilizados para tentar ancorar o preço da moeda americana, pelo menos no patamar do fechamento de ontem com uma “puxada” de apreciação no início dos negócios.
Porém, o fato concreto é que o preço da moeda americana está fora da curva no nosso mercado, o que leva, sempre que se foca no que interessa no momento, ou seja, as questões internas efetivamente importantes e suas implementações, à percepção de que há consistência no viés de tendência depreciação na relação dólar versus real, dada a ausência de fatores consistentes e fundamentados do preço no parâmetro atual.
Temos a convicta percepção de que o preço da moeda americana no momento atual tem o seu ponto de equilíbrio, considerados todos os fatores internos e externos, no entorno de R$ 3,75, e que neste nível deva permanecer até que se tenha efetivo “desenho” da resultante primária da propositura da Reforma da Previdência, ou seja, provavelmente, no mês de maio.
Como salientamos de forma contumaz não há razões para impactos sobre o preço do dólar no nosso mercado, visto que o país tem situação de conforto nas contas externas, estando bem defendido com reservas cambiais robustas, déficit em conta corrente suportável e com o BC dispondo de mecanismos operacionais para suprir eventuais pressões de demanda no mercado a vista, caso venha ocorrer.
A exacerbação que se verifica no momento decorre do “jogo ancorado em perspectivas” que fomenta o mercado de dólar futuro, e, a bem da verdade, o contexto ainda é binário, mas não há como se ter perspectivas tão ruins, visto que há ambiente de otimismo.
Então, Brexit, China-Estados Unidos, União Europeia, etc… são pontos de impacto na economia global, por vezes não sinérgicos com os interesses do Brasil direta ou indiretamente, devemos perder a mística propagada pelo ex-Ministro Mantega de que tudo que aqui ocorre se deve a influência externa.
Neste momento, o problema do Brasil é pontualmente o Brasil, e a sua taxa de referência dólar americano versus real está fora do ponto, ancorada em fundamentos insustentáveis neste momento.
O Brasil permanece sob observação dos investidores estrangeiros que se mantém retraídos com seus fluxos de investimentos, certamente aguardando as perspectivas em torno da aprovação e de que forma da Reforma da Previdência, que neste momento é a questão crucial.
No mês de fevereiro houve uma melhora do fluxo cambial financeiro da ordem de US$ 8,5 Bi, porém contraditoriamente ocorreu saída de recursos estrangeiros da Bovespa. Neste mês de maior o fluxo cambial financeiro até o último dia 8 está negativo em US$ 1,9 Bi.
A Bovespa circunda em torno da possibilidade de atingir os 100 mil pontos, mas aparentemente está dependente para sustentação de ingresso de investidores estrangeiros.
Os bancos estão com posições vendidas no mercado a vista em torno de US$ 17,8 Bi, parcialmente ancoradas por linhas de financiamento em moeda estrangeira concedidas pelo Banco Central do Brasil.
No nosso entendimento, embora com ocorrência de volatilidade e alguma resistência, o viés de depreciação do preço da moeda americana ante o real persiste consistente e o retorno ao nível de R$ 3,75 é uma questão de dias.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO