Dólar e B3: reações excessivas não têm sinergia com perspectiva da nossa economia!

À distensão, havida na cena política em sua questão central de momento, está sendo creditada a performance atual que deprecia o dólar e valoriza a B3, com contribuição marginal dos avanços em torno da vacina para o coronavírus, mas, a despeito da fragilização da moeda americana frente às moedas emergentes, é possível a identificação de excessos nas repercussões.

O momento requer visão mais cética, mais rigorosa, mais convergente e menos divergente em torno do Brasil e suas perspectivas mais imediatas no curto/médio prazos.

É inegável que a crise da pandemia “destrói” parte expressiva das projeções havidas para o Brasil, que impactam em tudo que se identificava como factível para a dinamização da atividade econômica e que a deterioração fiscal ampliada e grave do país tende a ser fator adverso.

O Brasil das reformas em perspectiva e fundamentais continua sendo “sonhado”, mas a efetivação pode ser mais desafiadora ao governo do que em passado recente pela crescente robustez de conflitos jurídicos, políticos, e alinhamentos fundamentais em torno da dicotomia entre saúde e economia.

As oportunidades que o país oferece como atraentes aos investidores estrangeiros são enormes, mas o país tem construído um ambiente negocial que conspira contra esta realidade.

Não há uma boa composição política no alinhamento em torno das ações focando o grave problema da saúde, e, na economia o que se vislumbra é uma queda acentuada do PIB neste ano e que combalida não conseguirá “engatar de bate pronto” a retomada de ritmo, até porque depende da reconstrução da sua atratividade aos investidores nacionais e estrangeiros, e isto passa inexoravelmente por credibilidade e segurança jurídica, atualmente abalada pela excessiva interferência entre os poderes.

Muito provavelmente pequenos empreendedores poderão “ficar no caminho” e certamente haverá agravamento na questão do emprego, até porque o legado do “isolamento e quarentena na área da saúde” deixará um enorme legado de aprendizagem de como produzir o mesmo com menor mão de obra.

A redução do “custo” operacional será amplamente focada como mantenedor das margens de ganhos, sem que haja necessidade de elevar os preços num ambiente em que a renda deve resultar severamente punida.

O “amanhã” certamente será muito diferente do ontem e se valerá da experiência do “hoje”, haverá um legado enorme deixado pela pandemia.

Por outro lado, o governo precisará ganhar tração e desenvoltura na programação de privatizações, mas será fundamental o estabelecimento de regras, marcos regulatórios rígidos, confiáveis por parte dos investidores, o que não será fácil face ao embate ideológico e também, sem perder de vista que há inúmeras economias concorrentes e atraentes e que o Brasil não é mais o epicentro do interesse maior dos investidores estrangeiros.

Teoricamente é fácil enumerar as várias “portas” que o país detém para a retomada da atividade econômica e enfatizar que será fácil a recuperação, mas na prática sabe-se muito bem que não será fácil, até porque tudo dependerá do setor privado, nacionais e estrangeiros, visto que o governo não dispõe de recursos para os investimentos estruturais.

E por enquanto o que se observa é muita retórica enfatizando tudo de forma abstrata positiva, sem contrapor os fatores adversos, e isto pode conduzir o Brasil a ser, outra vez, “o país do futuro” e não sairmos do lugar.

Então, por mais otimistas que queiramos ser, não é possível desprezar a visão de que ainda temos presente a grave pandemia do coronavírus, sem perspectivas concretas de superação, e a certeza de que será um desafio enorme a reativação da atividade econômica.

 Diante deste quadro de tantas incertezas é praticamente impossível se construir fundamentos que possam alicerçar as perspectivas e buscar ancorar os movimentos que se verificam no preço do dólar e da B3 neste momento puramente abstratos.

E como dizia um velho corretor do mercado: “o ganho atrativo do mercado financeiro na Bolsa e no dólar é o giro, então quando não há tendências efetivas o melhor é o “daytrade””, este parece ser o prevalecente no momento.

É preciso ter foco rigoroso e consciência de que o Brasil tem enormes atualmente, e que olhar para o resto do mundo e tentar se contagiar, como está acontecendo, pode ser um ledo engano, a ambição deve ser vencer nosso próprio desafio de superação que é superlativo.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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