Distensão ocasional nas tensões globais repercutiu atenuando aversões presentes!

De repente um bom humor até certo ponto imprevisto e notoriamente maior do que as causas que o motivam, mas o cenário global denotou estar ansioso pela distensão nos fatores que provocam o ambiente tenso e preocupante no contexto global, mesmo sabendo-a não duradoura.

Veio para ficar? Absolutamente inusitado, incerto e improvável, puramente ocasional e frágil nos seus fundamentos, pois a conjuntura global tem problemas não solucionáveis num “passe de mágica” e seus efeitos negativos já envolvem as grandes economias mundiais, como Estados Unidos, China, Alemanha, Grã-Bretanha, e outras menos expressivas.

Na realidade os “bons sinais” vindos da Ásia e Europa foram animadores, mas certamente seus efeitos foram maiores do que as causas e como houve a intensificação de um sentimento menos adverso entre os litigantes mais expressivos, mas também em relação aos emergentes, os ajustes foram realizados, porém “sujeitos à revisão” ao momento de novo acirramento de ânimos ou sentimento de que houve exacerbação, o que não é difícil quando se tem o Presidente Trump em cena e questões de alta complexidade na pauta global.

Então, sem que haja fato concreto determinante, no Brasil a BOVESPA, que acaba de sofrer expressiva retirada de investidores estrangeiros, reacende seu índice e o coloca no entorno de 100 mil pontos, sem que haja fundamentos sustentáveis e nem perspectivas de que com a queda da aversão pontual e absolutamente momentânea venha a ocorrer ingresso de recursos externos para o mercado acionário brasileiro, ainda sem atratividade.

O preço da moeda americana no nosso mercado repercutiu a forte derrocada do dólar americano na cena externa face à aparente queda da aversão ao risco, portanto tendo um alívio na demanda da moeda e nos T-Bonds, e ocorreu significativo ajuste, absolutamente reversível se o humor externo azedar, e nada tem a ver com efeitos decorrentes da intervenção do BC no mercado de câmbio.

A rigor, se o BC estivesse somente realizando a intervenção com oferta de moeda efetiva à vista, certamente o ajuste teria sido mais abrupto, mas com a combinação com oferta de swaps cambiais reversos acabou por evitar apreciação maior do real, já que estes ancoram o preço da moeda americana aviltado no mercado brasileiro.

Consideramos o ocorrido ontem mero “espasmo” com frágeis probabilidades de sustentação, até porque o quadro ambíguo e contraditório presente a partir do embate comercial entre Estados Unidos e China, e naturalmente sua contaminação incisiva pela economia global, não é passível de ajustes imediatos a partir de ocorrências mínimas positivas e pontuais, aqui ou acolá, e demandará isto sim, longas e demoradas negociações entre partes extremadas.

A visão ampla do problema presente na economia mundial é o crescimento preocupante do protecionismo, atitude que coloca em risco a própria globalização havida e que interligou as atividades das principais economias, por isso não há quem possa ficar imune aos nefastos efeitos e nem permite que se nutra expectativa de soluções fáceis e rápidas.

Nosso ponto de vista a respeito das intervenções do BC no mercado de câmbio permanece inalterado e consideramos que ao manter a combinação das vendas de moeda à vista, age pontualmente na causa da disfuncionalidade presente oriunda da queda acentuada do fluxo cambial para o país e impactos no custo do cupom cambial, mas ao introduzir em concomitância a oferta de swaps cambiais reversos, redução de “hedge” no mercado futuro, no nosso entendimento fica clara a intenção de dar sustentação ao preço no patamar em torno de R$ 4,15, com o objetivo de reanimar a atividade econômica a partir do foco no comércio exterior, dada a fragilidade da capacidade de retomada da atividade a partir do ambiente interno.

Como já destacamos, o mercado global vivenciou ontem um “espasmo” que diminuiu de forma absolutamente pontual e não sustentável a “temperatura” negativa do mercado global, atenuando da mesma forma a aversão ao risco que afeta os países emergentes, mas distante de permitir vislumbre de reversão de tendências.

No nosso entender, o preço da moeda americana no nosso mercado sofreu uma efetiva mudança de patamar dado o “status quo” da cena global e da aversão ao risco presente e afastou-se da projeção de R$ 3,75/3,80 para o final do ano, ficando mais próxima de R$ 4,00, e consideramos que a taxa em torno de R$ 4,15 tem um efeito da disfuncionalidade em torno de R$ 0,15, que é ocasionado com a intervenção do BC com swaps cambiais reversos.

O real, o peso mexicano e o peso colombiano sofreram forte apreciação no mercado internacional ontem, face à fragilização do dólar. O real poderia ter tido apreciação maior não estivesse o seu preço ancorado pela intervenção do BC com swaps cambiais reversos no mercado de câmbio.

 O mercado financeiro brasileiro deverá conviver com a expectativa do contraditório da eventualidade do BC não sancionar redução da SELIC, num ambiente inflacionário que a recomenda como instrumento para induzir a retomada dos investimentos e da atividade econômica, tendo em vista que há tecnicalidades muito específicas que respingam na formação da taxa cambial a partir da formação do custo do cupom cambial, como consequência do estreitamento do juro interno com o externo, principalmente se o FED vier a não reduzir a taxa de juro americana.

Como destacou a equipe de análise macroeconômica do BlackRock Investiment Institute, ligada à maior gestora de fundos de investimento do mundo, reproduzida em matéria do Estadão, ontem:

“A desaceleração da economia global exigirá um combinado de políticas econômicas nunca antes executado”

Esta, no nosso modo de entender, é uma visão com grande acurácia e realismo dando a exata dimensão do desafio que terá de ser enfrentada globalmente, exatamente num momento em que crescem opostamente os movimentos protecionistas contrários à globalização.

 Enfim, ocorreu ontem certo relaxamento das tensões externas com repercussão interna no câmbio e na Bovespa, mas, a rigor, absolutamente pontual e não sustentável, pois o “imbróglio” externo é de altíssima complexidade não comportando soluções fáceis e rápidas, e por aqui, tudo segue como dantes.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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