A forte convicção presente de que a melhora do contexto econômico brasileiro em perspectiva é sustentável foi posto à prova ontem, mas a despeito de um discreto “stop and go” na Bovespa e no dólar no período matinal, após ver confirmado o pressuposto ambos reassumiram suas tendências presentes de forma contundente.
Assim, tanto Bovespa retomou o alinhamento com a valorização e o dólar com a depreciação frente ao real, e, para evidenciar a força das expectativas crescentes que fundamentam os movimentos de forma sustentável, nem para a Bovespa e nem para o mercado de câmbio ainda ocorreram os volumosos fluxos de recursos externos que são cada vez mais esperados.
A reunião do FED americano teve impacto momentâneo para que o mercado observasse se confirmava a redução do juro americano para a faixa entre 1,50% e 1,75%, já que estava sob forte pressão do Presidente Trump, mas, por fim, não só confirmou como deixou evidente que pode ter chegado ao final da linha.
A reunião do COPOM no Brasil já tinha expectativa de efetivação do corte de 0,50% reduzindo a taxa para 5,0% aa e deixando latente a convicção de mais um corte de 0,50% na próxima reunião, fechando o ano em 4,5%, o nível mais baixo de sua história.
Na decisão no Brasil um fato novo surge no horizonte, os juros reais rumam para o negativo, uma experiência nova no Brasil, e há convicção de que a SELIC possa continuar a ser reduzida, sendo que com juros nominais em torno de 3,5% as taxas reais já desceriam ao terreno negativo.
O país está a um longo período de recessão e estagnação e desta forma detém capacidade ociosa entre 3,0 a 6,0% (hiato do produto), suficiente para conviver com uma retomada da atividade mais vigorosa sem provocar pressões inflacionárias.
A inflação está bem acomodada e demonstra que quando expurgados os preços fora do padrão ou eventuais que influenciam pontualmente os preços, fica extremamente baixíssima.
Importante destacar que o juro baixo alivia os custos de carregamento da dívida pública, e estimula que o sistema bancário busque alternativa de rentabilidade fora do conforto de ser financiador da dívida governamental, aumentando a oferta de crédito a setores fundamentais da economia.
O câmbio que, em tese, com juro baixo deveria apreciar o dólar frente ao real, acreditamos terá este efeito mitigado dado ao fato de que o país sofreu um severo recuo de fluxo cambial neste ano que atingiu números dantescos e que face ao novo cenário deverá ser “reposto” com folgas, visto que o país que perdeu expressivamente a atratividade para investimentos em conta capital e de qualidade, também perdeu para capitais especulativos que não encontraram mais espaço para forjarem recursos com operações de “carry trade”.
O Brasil não será mais o oásis dos especuladores internacionais, mas certamente despertará, e é esta convicção que impacta no nosso mercado financeiro, forte interesse para investidores produtivos e de infraestrutura oriundos das privatizações e para o mercado financeiro, em especial, Bolsa, pois com a economia ganhando tração o reflexo será imediato, além do que não se pode desprezar alguma atratividade para o mercado de juros, que embora baixos estejam bem acima dos mercados que praticam juros negativos.
Leilões na área do petróleo, privatizações fundamentais para a infraestrutura e de setores diversos, fluxos em reposição para o mercado financeiro e investimentos no setor produtivo, tudo isto representa perspectiva efetiva de recuperação forte do fluxo cambial.
O Brasil precisa recuperar um “fluxo perdido” este ano da ordem de US$ 40,0 Bi (positivo em 2018 US$ 18,897 Bi negativo em 2019 US$ 21,117 Bi), mas as perspectivas indicam que é possível recuperar boa parte até o final do ano.
O viés do preço da moeda americana no nosso mercado será de ajuste à nova realidade que se vislumbra, e que contrairá a lógica de que devesse se valorizar fato que já aconteceu e dada a inércia da atividade econômica não contaminou a inflação e que agora devolverá “a gordura” que ainda evidencia no preço.
Há efetivamente uma perspectiva nova e imediata para o Brasil que está se consolidando sem alardes e que o mercado financeiro está repercutindo desde que passou a considerar à margem os atritos políticos e o embate ideológico que busca denegrir ou ocultar o que de efetivamente ocorre de positivo.
É preciso considerar e observar que está em curso uma rápida mudança e o Brasil se configura como bastante promissor, tendo um CDS de 117 pontos que tende a superar o recorde de 111 pontos, juros e inflação baixa e uma infinidade de demandas oportunas e rentáveis na área de investimentos fundamentais e estruturais.
Como temos dito, o Brasil precisa estar mais atento ao Brasil! O país tem potencial para surpreender e isto está sendo repercutida pelo mercado financeiro, a solução do desemprego, renda e consumo virá no bojo da retomada.
Dólar a R$ 3,80 já ao final deste ano não deve surpreender.
Hoje é dia da PTax, então volatilidade pode ocorrer, mas o viés efetivo é de apreciação do real frente ao dólar.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO