À margem das considerações acerca dos mercados e seus comportamentos, chamou-nos a atenção dias atrás quando um trabalhador informal fez uma afirmativa incisiva: “o isolamento é bom e possível para quem tem a geladeira cheia…”
É compreensível o desalento evidenciado na colocação e isto torna mais evidente a dicotomia que motiva o embate global acerca da decisão de flexionar a retomada da atividade econômica ou não.
Todos nós aprendemos que “a emoção e a razão nem sempre estão no mesmo lugar”, e desta forma é natural que por mais que haja a visão consensual de que é recomendável que se cumpra o isolamento não ocorra reflexão a partir da colocação de um trabalhador informal que depende de sua atividade cotidiana para sobrevivência.
Por isso, já há sinais concretos de economias desenvolvidas sinalizando a retomada gradual das atividades econômicas, até mesmo por imponderável para evitar a retomada desordenada que poderá, quem sabe, sem pior.
Os planos emergenciais que ancoram as populações neste interregno de inatividade compulsória envolvem elevadas somas de recursos, grande parte focando o curto/médio prazo, e que provavelmente não terão sustentação num prazo acima de 6 meses, e, é efetivamente desalentador quando se observa projeções de renomadas origens, como Harvard, sinalizando que a crise poderá ir até 2022.
Morreremos pelo vírus ou de fome e até por outras doenças decorrentes.
Então, quando se observa os ativos financeiros, seus preços, comportamentos de atividades econômicas, seus PIB´s, suas perspectivas, etc… É inevitável que se questione até que ponto tudo isto representa efetivamente o que expressa.
Tendências? A bem da verdade não há, visto que todos os fundamentos estão fragilizados e cresce a convicção de que o mundo globalizado, quando for retomado e se for, terá um novo perfil, uma nova formatação muito defensiva, visto que esta crise deixará como legado um largo aprendizado ao mundo todo.
Evidente que as teorias tentam se impor, mas, certamente, nenhuma delas estava preparada para um ambiente como o que convivemos no momento e que ainda tem espaço para se agravar, e a grande maioria dos países sequer sabe como sair.
Houve um esvaziamento, deterioração, de preços de ativos? O dólar está valorizado ou desvalorizado? A China será menor porque seu PIB deve retroceder 8% no 1º trimestre? A mesma coisa com os demais países, já que todos serão duramente afetados?
Já salientamos dias atrás, no último pós-guerra os principais países se reuniram nos Estados Unidos e fizeram o Acordo de Bretton Woods, que na realidade era o nome da rua onde ocorreu o evento, e definiram regras de paridades das moedas pelo padrão ouro. Desde então, o mundo mudou, globalizou-se, ficou quase único dado os avanços dos meios de comunicações, até eliminou o padrão ouro, etc…. e, certamente, tudo sugere que organismos existentes, como a ONU, FMI, BANCO MUNDIAL, OMC, ao invés de ficarem elaborando projeções e perspectivas devam assumir postura de comando organizacional e responsabilidade para formatar o novo reinício das relações entre os países, pois se cada um de per si for implementando suas decisões unilateralmente, será muito difícil.
É preciso construir a coesão, o consenso, entre os países para que a retomada seja minimamente organizada e todos possam ser beneficiados, eliminando as discussões sobre como fazer ou cada um fazendo a sua moda.
Para não dizer que não falei de câmbio, existem fundamentos críveis na atualidade para o comportamento que se observa das moedas no mercado global?
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO