Há algo de errado no contexto atual do mercado financeiro brasileiro, mas claramente ocorre uma complacência e desprezo pelo risco em perspectiva, pois a BOVESPA sobe com os bons ventos dos investidores pessoas física, sem norte para suas aplicações em renda fixa, e ainda perturbados pela perda acentuada e ainda presente da atratividade face à queda do juro.
Inquestionavelmente, na atualidade já há uma convicção menor na capacidade de crescimento da economia brasileira do que as expectativas predominantes até recentemente, os investimentos do setor privado a despeito da redução do juro não ganharam tração, assim como a geração de emprego e renda.
A CNI aponta que há muitas vagas no setor, mas inexiste mão de obra qualificada, e isto causa desalento, pois o desemprego é grandioso, e não ocorre a tão desejada melhora da renda, o que permitiu que dezembro apresentasse índice de varejo desapontador.
Afinal, o fundamento possível é de que a pessoa física está ancorando a alta da Bovespa com seus capitais migrantes da renda fixa, assim o mercado de ações sobe com justificativas as mais diversas, porém sempre se respaldando no reflexo do comportamento externo, ainda que o capital estrangeiro não sinta atratividade pelo Brasil (sic).
Sobe pela pressão do capital pessoa física, mas sem ter clareza sobre as causas efetivas motivadoras do ponto de visto econômico.
A grande questão é até quando sem fundamentos econômicos sustentáveis conviveremos com este cenário que pode ser mutante, visto que a economia brasileira continua premiando o setor financeiro e não tem nenhuma sustentabilidade no setor privado produtivo, incluindo as exportadoras de commodities que convivem com cenário perturbador externo que provoca ajustes negativos nos preços.
O país tende a exportar bem menos do que o ano passado em valores em moeda estrangeira, gerando um saldo de balança comercial em torno de 60% em relação ao ano passado, e isto acabará tendo reflexos no déficit em transações correntes do país.
A não atratividade do país ao investidor estrangeiro tem estado latente no acompanhando do fluxo cambial semanal, que surpreendentemente trouxe a grata indicação de melhora na 1ª semana de fevereiro ao se revelar positivo no montante de US$ 3,698 Bi, dos quais US$ 2,298 Bi de financeiro, e mesmo assim o mercado tem mantido a moeda com viés de alta ancorando o preço do dólar absolutamente atípico e aviltado, a partir do mercado futuro, com o governo conivente para atrair o investidor externo e, também, incentivar o mercado exportador provendo-o de “competitividade adicional” a partir do preço da moeda, que nem assim reage.
Então, assistimos a dicotomia entre o comportamento da Bovespa e do preço do dólar, ambos sobem, um pelo deslocamento do investidor pessoa física como novo personagem, o outro ou pela ausência de ingressos massivos de moeda estrangeira, além da especulação a partir no mercado futuro, naturalmente, ou o esforço do governo em propagar “juro baixo e câmbio alto” como dogma.
Este contexto dado o artificialismo que o promove coloca riscos em perspectiva.
Se a Bovespa perder sustentação no viés de alta pela mudança das perspectivas atuais que tem pouco lastro em fundamentos críveis, os investidores pessoas física poderão “debandar” no primeiro solavanco, enquanto o dólar poderá continuar evoluindo seu preço até se tornar propagador da nossa velha conhecida “inflação”, ou se tiver fluxo cambial surpreendentemente poderá provocar apreciação do real, criando volatilidade perturbadora.
Há cenários prospectivos possíveis que podem representar riscos relevantes tanto para quem está operando Bovespa quanto o dólar.
Mas, é inegável que não há fundamentos claros que permitam vislumbrar tendências mais sustentáveis, por isso há insegurança e incertezas e podem ocorrer movimentos abruptos, que representam riscos latentes no momento.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO