Deterioração econômica e fiscal e foco no risco político determinam cautela!

O mercado “valorizou” explicitamente em demasia a decisão da agência de rating Fitch de rebaixar a perspectiva do Brasil para negativa, e foi comedido, na margem, “sem alardear”,  mas repercutindo nas atitudes e reações defensivas,  o fato do surgimento do risco político latente e altamente prejudicial para a visão prospectiva em torno do país.

Incerteza e insegurança são fatores determinantes de retração de investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, por isso é bastante improvável se projetar recuo no preço do dólar no nosso mercado, ainda mais quando se reduziu a taxa básica SELIC em mais 0,75% passando-a para 3,00% e deixando aberta a possibilidade de novo corte  no mínimo trazendo-a para 2,50% ou menos.

Esta dimensão de corte na taxa de juro, questionável quanto a efetiva eficácia qual não seja reduzir o custeio da dívida para o Governo, se presta a sancionar ainda maior pressão à tendência de apreciação do dólar frente ao real, fato que, como salientamos, já tem outros fatores agravantes presentes.

Portanto, dólar deverá sustentar apreciação frente ao real.

Este nível de taxa de juro certamente afastará, por absoluta falta de atratividade, os investidores estrangeiros como financiadores da dívida brasileira ou mesmo como investidores simplesmente na busca de remuneração no mercado de renda fixa.  

Embora a taxa de câmbio barateie fortemente o preço dos ativos cotados em bolsa, o agravamento do cenário econômico e fiscal  e agora  também o risco político impactará negativamente na propensão a investir dos estrangeiros, inclusive  em renda variável que assim não deve confirmar o que se viu no fluxo financeiro de 27-30 de abril último, que resultou positivo.

Tudo leva a crer que o Ministério da Economia/BC terão que implementar estratégias heterodoxas para superar este quadro, algo atípico no país, e que podem retardar ainda mais a retomada da atividade econômica.

 Como entendemos que a estratégia do Governo/Ministério da Economia é  potencializar o agronegócio via exportação e “incentivado” pelo câmbio alto, este fato não preocupará o BC, e está dando certo, mas é pouco.

Já há resultados nesta linha, visto que o fluxo cambial demonstrou reação revelando-se positivo na última semana de abril em US$ 2,028 Bi (US$ 1,592 Bi comercial e surpreendente US$ 435,0 Mi financeiro), que, contudo, não acreditamos que se sustente na sequência devido ao fato novo do risco político.

A infraestrutura brasileira oferece enormes oportunidades de investimentos, para as quais o governo não tem recursos e a atividade privada brasileira, abatida pela crise do coronavírus, estará carente de propensão a investir, enquanto os investidores estrangeiros poderão ficar arredios mesmo que o Governo Federal crie marcos regulatório, por questão de credibilidade face à percepção de risco político e a presumível e costumeira  insegurança jurídica decorrente da judicialização contumaz nos temas que envolvem privatizações.

O desafio para o país, dia após dia, se torna maior e ainda precisa ser superada a perversa crise do coronavírus, onde não há consenso entre como preservar as questões de saúde e retomar a atividade econômica.

A capacidade de consumo da população está sendo praticamente aniquilada e a retomada da atividade deverá empregar menos e ser lenta, não sendo fácil criar cenários prospectivos para o país, pois, efetivamente, o que está ruim pode ficar pior.

Neste contexto de inúmeros vetores conflitantes  é difícil se construir perspectivas otimistas factíveis para o curto/médio prazos.

Tempos difíceis para o país!


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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