A postura de menor importância dada pelo comportamento do mercado brasileiro no primeiro dia pós rebaixamento da nota de crédito do país sancionado pela agência de rating S&P, naturalmente pode ser enganosa e estar distante da realidade.
Evidentemente, não poderia ser esperada uma reação causa-efeito imediata, pois isto poderia acarretar prejuízos relevantes aos investidores.
O que seria esperado por muitos, Bovespa em queda e dólar em alta, dois pontos críticos, principalmente para os investidores estrangeiros que especulam fortemente no nosso mercado, não ocorreu porque isto seria postura de amadores.
Mas quem especula é experiente e jamais ante um fato de impacto, mas que não tem a pujança de um “default” por parte do país, reagiriam precipitadamente.
Também não é correta a colocação de que o fato tem baixa importância e em defesa, postura muito em moda no campo político, deixar de reconhecer as fragilidades incontestáveis do país e acusar que as agências de rating erraram muito em 2008, etc…, e achar que tudo vai continuar como antes.
O fato tem sua importância e certamente causará efeitos negativos para o país, até porque foi uma medida tomada com exposição de longo arrazoado acerca da situação do Brasil, e mais, no “day after” ainda complementou através seus representantes que entendem muito difícil a aprovação da reforma previdenciária.
É bem possível, que a FITCH e a Moody’s estejam sendo mais tolerantes, o que não quer dizer que não vejam os mesmos deméritos apontados pela S&P, aguardando o desenrolar em torno do julgamento do ex-presidente Lula e suas repercussões e a própria votação da reforma previdenciária.
Não podemos perder de vista que somos um país emergente com expressiva crise fiscal, carente do comportamento do mercado global financeiro e empresarial em relação a si, e que temos neste 2018 uma gama de desafios e obstáculos a serem transpostos nem sempre bem avaliados, mas que agora poderão passar a ser mais considerados pelos investidores estrangeiros e até mesmo pelos nacionais.
Não nos passou despercebida a afirmativa do Ministro Meirelles em sua nota em que habilmente ratificou a intenção de realizar todas as reformas, e com isto, atribuiu responsabilidade ao Congresso nacional que não as aprovou, a citação de que precisa das mesmas para o crescimento sustentável, o que permite que na contra leitura se entenda que tudo que houve até agora, contrariando a corrente otimista, não tem sustentabilidade, o que é uma realidade pouco considerada.
Na medida em que a decisão da S&P é um alerta para um quadro que poderá ficar pior, não se pode descartar que decisões empresariais focadas para este ano possam ser postergadas para 2019 quando o país já terá definido novo governo.
Por outro lado, poderá haver reação dos investidores que estão com recursos especulativos lotados na Bovespa e até na renda fixa, mas esta será certamente poderá determinar saída de forma estratégica, ou seja, dando continuidade a alta dos preços na Bovespa e esperando que o BC mantenha a administração do preço do dólar que é um sensibilizador imediato dos maus momentos, e assim saírem gradativamente com lucro assegurado da Bovespa e também na conversão para dólares.
Se houver a percepção de que são baixas as possibilidades de aprovação da reforma da previdência, este movimento poderá se acentuar prematuramente.
Há muito que se melhorar a percepção efetiva de riscos latentes na trajetória deste ano de 2018, seja em torno da dificílima situação fiscal do país num ambiente de baixo apoio da base política do governo, grandes ruídos em torno da questão sucessória com notória indefinição e acirramentos nas disputas e, também, atritos de egos entre membros da cúpula do governo no afã de serem candidatos à sucessão, quadro bastante difícil para a elaboração do orçamento para 2019, etc..
Os resultados obtidos no controle da inflação em 2017 não tendem a ser replicados neste ano de 2018, com este “status quo” não se pode projetar grande motivação por parte dos empresários para investimentos, nem mesmo para a recuperação mais expressiva do emprego que refletirá na não geração de renda, onde estão ancoradas as expectativas de aumento de consumo da família para dar suporte ao crescimento do PIB.
Enfim, temos presentes desafios na área política e de gestão governamental em torno da crise fiscal e retomada da atividade econômica, além do carnaval, copa do mundo e as próprias campanhas políticas visando a Presidência, o Congresso Nacional, Estados e Câmaras.
O grande risco é o país passar a pensar 2019 e já ir esquecendo 2018 no seu nascedouro, o que seria lamentável.
Num ambiente como este é preciso estar muito atento, pois não resta dúvida que possa haver pressão sobre a formação do preço do dólar.
Por enquanto, mantemos a nossa previsão de R$ 3,50 para o final do 1º trimestre, mas há possibilidade de muitas turbulências neste período, no campo político, no campo fiscal e em eventuais reavaliações por parte das agências de rating.