Convicção perdura, mas tudo leva a crer que 2018 não será muito melhor que 2017!

O cenário de retomada da atividade econômica ainda resiste às pioras das perspectivas para 2018, mas inegavelmente vem aumentando gradualmente a percepção de que as incertezas vem ganhando relevância e a certeza de que a política pode prevalecer sobre a economia, e assim, o país poderá ter “mais do mesmo”, um pouco mais agravado com as tensões eleitorais em conjunto com as dificuldades de reordenamento da política fiscal.

O governo finaliza o ano com derrotas relevantes que colocam em cheque a possibilidade de superação da relevante crise fiscal com a qual convive desde o governo que sucedeu com o déficit se mantendo imutável.

Iniciativas e intenções foram defenestradas pela predominância de um contexto adverso político e também no judiciário, a resultante positiva como a reforma das normas trabalhistas ainda é contestada e deve ser um dos centros de debate na disputa política em 2018.

Enfim, nada sugere que a política e a economia consigam “conviver” em 2018 sem a contaminação e efervescência forte entre ambas, com possibilidade de a política predominar sobre a retomada da atividade econômica com a intensidade que vem sendo propagada, que agora, seguramente, precisa ser revisada com uma dose de sensatez e precaução, pois nem tudo está tão sereno e fácil de ser vislumbrado.

O consumo das famílias que foi o carro chefe da melhora do PIB em 2017 já não dá sinais tão firmes, dados da pesquisa CNI indica que o INEC (índice nacional de expectativa de consumidor) caiu 0,5%, ficando em 100,5 pontos muito próximo do final de 2016 e muito abaixo, algo como 7%, da média histórica de 108,1. Se isto ocorre num momento em que há o 13º salário, é de se supor que pode avançar na tendência de retrocesso.

O índice de desenvolvimento não sugere ser tão positivo quanto 2017, pois há muitas incertezas. A safra de 2018 está estimada com recuo de 9,5% e isto por si só já impacta no PIB, e seria necessário um crescente de investimentos no setor produtivo, mas com o consumidor sinalizando cautela e o preço do dólar excessivamente deprimido ante a realidade do país, a alternativa de exportar fica prejudicada, pois a concorrência internacional é intensa.

Mas a despeito das incertezas prospectivas em relação ao próximo ano, preocupa de forma muito impactante a questão fiscal que o governo não consegue equacionar e o prenúncio de uma disputa política tensa e irada entre os candidatos, sendo que agora surgem até sinais que o Presidente Temer teria interesse na reeleição, o que seria mais um ponto de disputa desestabilizadora com a esquerda, que tem o ex-Presidente Lula como pretendente à Presidência, persistindo mesmo que haja condenação no próximo dia 24 de janeiro.

Não nos parece que a reforma previdenciária terá maior apoio na sua tentativa de votação em fevereiro próximo, podendo haver ainda maior constrangimento por parte dos políticos que estarão pleiteando reeleição. Não se descarta ainda que tenha que sofrer novos remendos e descaracterizar-se um pouco mais.

A questão fiscal se não resolvida poderá ser determinante de um rebaixamento de rating do país, downgrade, o que será bastante desanimador e que fará com que o investidor, especulativo ou não, postergue seu ímpeto pelo mercado brasileiro para pós-eleição.

E tudo isto ou mais certamente repercute na formação de preços dos ativos no mercado financeiro, que por mais que, como no caso do dólar, sofram interferência forte do governo via BC, não ficarão imunes à volatilidade e viés de alta no dólar e queda na bolsa.

O fato do BC, por seu presidente, asseverar que a questão da derrota momentânea do governo na questão da reforma não muda a SELIC, pode ser entendida como retórica para dar suporte ao ânimo, mas não foi somente na reforma previdenciária que se pontificou a derrota, que não conseguiu aprovar nenhuma das 4 medidas provisórias relevantes para melhorar o grave contexto da questão fiscal.

O Brasil é um país com enormes incertezas futuras no curto, médio e longo prazo, extremamente vulnerável e com os sinais modestos de melhora da sua economia ainda carentes de fundamentos críveis, e com um contexto político que neutraliza os avanços da economia.

Portanto, é melhor prevenir do que remediar. O bom senso sugere que se deseje o melhor, mas devemos estar preparados e com baixa exposição para o pior.

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