Comportamentos atípicos no nosso mercado de câmbio!

O preço da moeda americana vem demonstrando um comportamento absolutamente contrário aos fundamentos de formação do seu preço no nosso mercado de câmbio.

Ante perspectivas bastante concretas de um cenário prospectivo amplamente adverso no setor externo, com grande potencial de ser um dos países com maior intensidade de saídas de recursos externos e um dos que detêm, neste momento, menor grau de atratividade ao capital estrangeiro, seja em termos de investimentos diretos e/ou em investimentos voláteis, consequente da baixa atratividade do país face aos relevantes problemas macroeconômicos, em destaque para a deterioração da politica fiscal que vem colocando o país “sob observação” das agências de rating para eventual rebaixamento de nota de crédito, não há fundamentos que possam justificar a postura atípica do real apreciando-se ante a moeda americana.

Evidentemente, como “o pior está por vir” com os reflexos diretos da redução da liquidez no mercado internacional em decorrência da redução do programa de incentivo monetário desenvolvido pelo FED e, da intensificação do deslocamento de recursos estrangeiros detidos pelos emergentes, em especial dos mais vulneráveis grupo em que está o Brasil, para o mercado americano face à recuperação da economia dos Estados Unidos, ainda pode ser que a atipicidade do comportamento decorra dos efeitos da rolagem de contratos de “swaps cambiais” vincendos em 3/2/14 e a “ração” diária de 4.000 contratos e alguma melhora pontual de fluxo cambial.

Contudo, mesmo assim para um inicio de ano que sinalizou fluxo cambial negativo, balança comercial negativa, bancos com posição substantivamente “vendida” ainda ancorada por expressivo volume de linhas de financiamentos concedidas pelo BC, não deveria estar havendo espaço para a apreciação ante o dólar na contramão de outras moedas emergentes, com situações macroeconômicas bem mais equilibradas do que a brasileira.

Este comportamento atual é atípico e fruto de interferência da ação do BC e que poderá contribuir não para mitigar a volatilidade e os movimentos abruptos, mas sim para intensificá-los adiante, o que poderá causar impactos mais perturbadores.

Importante ressaltar que o sentimento e a percepção dos analistas do mercado vêm sofrendo mudanças, embora o Boletim FOCUS mantenha indicadores bem moderados.

Quando mencionamos ao final de dezembro nossa projeção para o preço do dólar ano final de 2014 em R$ 2,60 e a SELIC em 11,50%, pareciam números fora do contexto. Todavia, já são números colocados com absoluta serenidade por inúmeros analistas de grandes instituições, que em alguns casos vão até além na taxa SELIC.

É importante para o governo o retardamento da alta da taxa cambial o mais possível, pois assim evitará seus efeitos nos preços da economia e a necessidade de acionar altas mais expressivas logo ao começo do ano para mitigar a contaminação das pressões inflacionárias.

Mas não há como reconhecermos que o país tem uma perspectiva bastante firme de repetir o déficit em transações correntes da ordem de US$ 80,0 Bi ante uma expectativa reduzida para os IED´s em torno de US$ 55,0 Bi, o que o torno dependente de capitais voláteis para cobrir suas necessidades de financiamento, que já levaram de 2013 para 2014 um saldo faltante suportado pelas posições “vendidas” dos bancos, o que evitou que até então tenha reduzido as reservas cambiais brasileiras.

No nosso ponto de vista o mercado acionário, dada a baixa perspectiva de crescimento do país, despertará baixa atratividade aos investidores externos, confirmando os sinais já registrados no ano passado quando o Brasil perdeu terreno para outros países latino americanos.

A renda fixa pode ter o atrativo da alta da SELIC, mas tem contra si a inflação que está aquecida, com o Boletim Focus tendo alterado sua projeção para 2014 para 6,01%, mas acreditamos que ao longo do ano deverá se aproximar dos 6,5%.

As operações de “carry trade”, hoje mencionadas pelo jornal Valor repercutindo colocações da Nomura, podem encontrar oportunidade de ganhos aos especuladores, mas devem, quando oportunas, serem desenvolvidas nas operações de balcão no exterior. É preciso acompanhar somente para ver o nível de influência e manipulação que possa ocorrer por interferência na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

No que diz respeito a nossa balança comercial não há otimismo. Continuaremos importando muito petróleo e as perspectivas para o setor exportador manufatureiro podem melhorar um pouco com a taxa cambial mais elevada, sem, contudo, perdermos de vista que grande parte dos insumos é importado e repercute a alta da moeda americana.

Nas exportações de “commodities” teremos boas safras agrícolas, mas os Estados Unidos também, e isto impedirá o ganho adicional no fator preço. Por outro lado, a grande demandadora de “commodities” agrícolas e metálicas fechou o ano de 2013 dando sinais de perda de atividade, discreta, mas mesmo assim cadente.

O que pretendemos alertar é que o momento do mercado de câmbio é absoluto assimétrico entre as suas efetivas perspectivas e o preço que vem praticando, o que pode ser enganoso e vir a provocar mudanças abruptas no comportamento das cotações.

Acreditamos que este seja um bom momento das empresas com compromissos a pagar em moeda estrangeira a fazê-lo, pois não deve ocorrer oportunidade similar mais neste ano.

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