Há sinais ainda discretos de retomada da atividade econômica no Brasil, o PIB do 1º trimestre aponta nesta direção, e com o novo perfil de atuação do BC fazendo a correção da taxa de juros, compatibilizando-a com a realidade brasileira e aos parâmetros inflacionários presentes, o preço do dólar começa a devolver a exacerbação havida na formação do seu preço no Brasil, em certo momento estimulado pelo próprio governo em retórica permanente e pela inércia do BC no trato do juro.
O desafio seguinte é o Brasil reconquistar a atratividade e credibilidade externa face dos investidores estrangeiros, promovendo assim a melhora de fluxo cambial para o país e o retorno de recursos para a Bovespa e para a economia nacional.
O PIB do 1º trimestre deste ano cresceu 1% comparado com o mesmo período do ano passado, sem ajuste sazonal, tendo o agronegócio o carro chefe com alta de 5,2%, e até mesmo a indústria deu contribuição de 3%. Lamentável que o setor de serviço ainda não tenha ganho vitalidade já que registrou leve queda de 0,8%, sendo que este setor representa em torno de 70% do PIB. Bom sinal foi emitido também pela FBCF que disparou algo com 17%. O consumo das famílias registrou queda de 17% refletindo a interrupção dos programas emergenciais à população mais carente no período.
Na comparação com o 4º trimestre de 2020 o crescimento foi de 1,2%, com o agronegócio com crescimento de 5,7%, e nesta comparação o setor de serviços evidencia discreto incremento de 0,4%.
Com o mercado focado mais no presente, no curto prazo, o ambiente é de recuperação da economia, e com as perspectivas de aumento maior do juro o preço do dólar depreciar-se no nosso mercado, diminuindo a volatilidade, porém há no médio e longo prazo razões preocupantes ignoradas neste momento.
É IMPERATIVO QUE O GOVERNO HAJA NO SENTIDO DO AJUSTE DOS PREÇOS RELATIVOS DA ECONOMIA BRASILEIRA “MARCADOS A MERCADO” E QUE FORAM EXTREMAMENTE AVILTADOS PELA COMBINAÇÃO DOS PREÇOS DAS COMMODITIES E DO DÓLAR NO NOSSO MERCADO INTERNO.
O PREÇO DO DÓLAR JÁ CAIU MAIS DE 12% E OS PREÇOS ALIMENTARES E O PETRÓLEO NÃO REPERCUTIRAM O MOVIMENTO DA MOEDA AMERICANA COLOCANDO-SE EM BAIXA EQUIVALENTE, POIS AFINAL SE PENALIZA A POPULAÇÃO E ESTIMULA A INFLAÇÃO COM MARCAÇÃO DE PREÇOS A MERCADO, NADA MAIS LÓGICO QUE REPERCUTA A QUEDA NO PREÇO DO DÓLAR DE FORMA INCONTINENTE, AO INVÉS DE SUSTENTÁ-LOS COM BASE NO PREÇO MÁXIMO ALCANÇADO PELA MOEDA AMERICANA.
O GOVERNO PRECISARIA AGIR DE FORMA CONTUNDENTE NESTE ASPECTO QUE SERÁ RELEVANTE PARA CONTER O VIÉS INFLACIONÁRIO PRESENTE.
ESTA É A HORA DO GOVERNO COBRAR A PETROBRÁS DE FORMA CONTUNDENTE, SEM PERDER DE VISTA O COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DO PETRÓLEO NO MERCADO INTERNACIONAL, E TAMBÉM DO AGRONEGÓCIO.
O sentimento é de o país deseja “viver o momento presente” sem os temores do que está por vir, como a probabilidade de termos uma 3ª onda da pandemia do coronavírus ou mesmo uma crise hídrica que teria forte impacto na atividade econômica, afetando não só o abastecimento de água como também a produção de energia, no ambiente interno, e no externo eventual decisão do FED americano de reduzir os programas governamentais impactando na liquidez, além do risco da inflação americana se acentuar e o juro dos treasuries se elevarem o que valorizaria o dólar.
Então o que se vê nesta onda de “viver o presente” é a Bovespa ganhando dinamismo, que poderá intensificar-se mais se o investidor estrangeiro retornar, e ao mesmo tempo o preço do dólar depreciar-se de forma rápida.
Mesmo o cenário político já muito focado nas eleições presidenciais do ano que vem e com perturbações pontuais pelo acirramento que tem origem na CPI em andamento, parece ter consideração menor do mercado financeiro neste momento.
‘Viver o presente” e ignorar as perspectivas é uma opção, mas rigorosamente sem a sustentabilidade confortável, visto que o emprego e a renda no país tem dados preocupantes, o poder aquisitivo da população é cada vez menor e isto repercute na capacidade de consumo e há fatores externos que poderão afetar o nosso ambiente.
As vulnerabilidades continuam no radar e é temerário não considerá-las como factíveis.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Corretora de Câmbio