Cenário Brasil real e fatores externos provocam a reversão das expectativas!

Tem prevalecido por longo período a postura de contemplação de forma benevolente por parte do mercado financeiro, com enorme contaminação por suas falas e indicadores, o comportamento real da economia brasileira, sua dinâmica, indicadores e a devida consideração a relevante crise fiscal com que se defronta o país.

Agora, com as expressivas mudanças no cenário externo até então benigno aos países emergentes, a economia brasileira passa a limpo e gera números efetivos que sancionam a sua pífia recuperação, com apuração de dados nada alvissareiros e que vinham sendo pouco considerados visto que o “ambiente interno” estava fortemente contaminados pelos “ventos favoráveis” advindos do exterior aliada a uma postura cética por parte, em especial, do mercado financeiro e o boletim “porta voz” FOCUS, de somente propagavam otimismo num tom eufórico.

Os Estados Unidos, epicentro da mudança de humores externos, já vinham sinalizando a perspectiva de uma gradual elevação da taxa de juro básica pelo FED, e os países emergentes estavam aguardando algo gradual e criterioso, mas a redenção mais rápida da economia americana, aliada aos destemperos de seu

Presidente criando confrontos que impactam no comércio e em questões geopolíticas que afetam, com destaque, o preço do petróleo, colocou em destaque a propensão a pressão maior de inflação e, por conseguinte a possibilidade efetiva de mudança mais acentuada na política monetária, intensificando viabilização de alta do juro mais incisiva em grandeza e em número de eventos neste sentido.

O mercado financeiro americano acabou por “atropelar” o FED e colocou o juro do T-Bond de 10 anos acima de 3,0% e isto provocou uma rápida deterioração do preço das moedas dos países emergentes, visto que impacta reduzindo severamente a atratividade dos investidores pelos mesmos, que existia até antes deste novo cenário.

O petróleo atingiu preocupante preço de US$ 80,00 o barril, e o Irã, grande produtor mundial, entrou em atrito sério com os Estados Unidos por iniciativa do Presidente Trump.

Mas o contexto externo mutante tem sido, até por nossas abordagens diárias, divulgadas de forma abrangente e todos sabem que os países emergentes estão tendo forte saída dos recursos neles alocados por investidores estrangeiros, o que ainda não aconteceu no Brasil, pois com mercado financeiro mais sofisticado, a busca inicial foi por proteção com a demanda por operações de “hedge cambial”, que tem sido interessante em termos de custo face à irrisória diferença entre o juro brasileiro e o americano, o que acaba por impactar na taxa cambial futura elevando-a fortemente e contaminando a taxa cambial a vista.

Evidentemente, no momento seguinte, de forma absolutamente controlável pelo BC, com oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira aos bancos com recompra, ocorrerá saída mais intensa de recursos do país. O fluxo cambial financeiro até o dia 11 já sinaliza intensificação de saídas.

No quadro atual ao BC cumpre prover de liquidez, seja com a oferta de swaps cambiais para proteção, seja com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, contudo não se deve esperar ação visando conter a tendência de alta do preço, salvo se instalado movimento especulativo.

Afora todos os pontos destacados corretamente pelo BC/COPOM em suas justificativas sobre a corretíssima decisão de manter a taxa de juro SELIC, a decisão não nos surpreendeu visto que mencionamos sempre a necessidade da manutenção contrariamente ao consenso quase absoluto do mercado pró redução, deve ser destacado o fato de que se fosse consumada teria sido um incentivo a mais a continuidade da demanda por “hedge cambial”, visto a redução de custo, o que poderia instalar ambiente especulativo.

O preço da moeda americana, no primeiro momento poderá até revelar volatilidade, mas não alterar o forte viés de alta, doravante até com maior influência dos fatores internos.

Os fatores internos passaram a ter um peso na elevação da taxa cambial no nosso mercado, fato nem sempre reconhecido pelo governo, e muito centralizado quando admitido unicamente na questão da sucessão presidencial, mas há outros relevantes.

No nosso entendimento é notória a influência dos fatores internos, mesmo que ainda complementar na formação do preço, fato que deve gradualmente se acentuar.

Contrariamente aos discursos governamentais, mas já sinalizada parcialmente pelo BC/COPOM e até mesmo pelo Ministro da Fazenda, a economia dá sinais preocupantes de retrocesso não confirmando as otimistas projeções. Já admite o governo rever a projeção do crescimento do PIB, mesmo que ainda modestamente, tendo em vista que o IBC-Br do BC, que é um dado preliminar de projeção do PIB, indicou retrocesso de 0,13% no 1º trimestre, com expressivo retrocesso de 0,74% de fevereiro para março. Uma revisão mais efetiva deveria conduzir a projeção a algo no entorno de 2% como nova projeção do PIB, mas

isto certamente não ocorrerá neste momento.

A inflação pelo IPCA dá sinais de comportada, mas o IGP-10 de 1,11% e a primeira prévia do IGP-M de maio em 1,12% merecem consideração de rigor. Há capacidade ociosa instalada, mas com a inércia da atividade econômica, aumento do desemprego, não recuperação da renda e do consumo, o cenário precisará ser mais bem observado e embora se considere baixo o impacto, até onde a alta do dólar provocará efeitos nos preços da economia.

Para o mercado global os fatores internos como a grave crise fiscal sem perspectivas efetivas de superação, o insucesso nas reformas e as absolutas indefinições sobre o quadro sucessório da Presidência da República, são fatores que acentuam o risco Brasil e isto já tem repercussões no CDS que agora foca e capta melhor o real quadro brasileiro.

Temos, a muito, enfatizado que há fatores de natureza interna impactando em conjunto com os fatores externos alavancando a alta do preço da moeda americana.

Isto tem sido minimizado pelas autoridades, porém no nosso ponto de vista é possível se detectar isto.

O real, nossa moeda, tem sido desvalorizado em percentual acima da média da desvalorização dos países emergentes, quando na realidade o país tem um mercado financeiro com derivativos eficientes para evitar desorganizações no mercado de câmbio, e o país detém reservas cambiais expressivas, possibilitando sem nenhum descontrole que o BC, com mecanismos apropriados supra a liquidez.

A rigor, o real então deveria ter uma desvalorização menor do que a média da desvalorização das moedas emergentes. Como isto não ocorre concluímos que o que distorce esta equação é o impacto dos fatores internos na formação do preço da moeda americana no nosso mercado.

É notório, neste momento, que o impacto maior vem dos fatores externos, mas é inegável que há participação dos fatores internos negativos compondo também a desvalorização do preço do real é efetivo com viés de aumento da intensidade.

Enfim, o dólar deve persistir com viés de alta, que seria mais intensa de a SELIC tivesse sido reduzida pois poderia atrair especuladores para este mercado, mas amplamente sustentável e a BOVESPA, que tem sido suportada nos últimos dias por eventos em torno de uma ou outra empresa, deverá acentuar sua tendência de baixa, com concomitante aumento de saída de recursos de investidores estrangeiros do país.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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