Na nossa abordagem de ontem, hoje sancionada por algumas matérias jornalísticas, evidenciamos a nossa tese (percepção) de que o que se presencia no mercado de câmbio, seu comportamento e atuação do BC com elevada oferta de swaps cambiais, tem uma forte evidência de que está presente um movimento especulativo por parte dos tomadores que são, efetivamente, quem tem o domínio da formação de taxa do câmbio e sinalizam ter forte convicção de que este seja um nicho extremamente promissor para grandes lucros no curto prazo.
Afirmamos que o mercado absorverá a totalidade das ofertas que o BC fizer de swaps cambiais sem alterar o viés de alta do preço da moeda, e mantendo-a deprimida estrategicamente, deixando transparecer que este fato seja consequente da ação do BC confirmando o que sistematicamente ocorre de que “nem tudo que parece no câmbio efetivamente o é”.
Não há nenhuma relutância por parte do mercado e seus agentes para acolher todas as ofertas de swaps cambiais que o BC apresentar, havendo um movimento estruturado de volatilidade momentânea para preparação do acolhimento da oferta e posterior retomada do viés de alta, por enquanto, moderada.
O BC afirma que não pretende interferir na formação do preço e sua tendência e conter volatilidade, mas o seu embate previamente declarado e sua atuação contraditoriamente focam a contração do preço da moeda americana, até porque deve ter suas convicções do quanto é inflacionária a elevação do preço do dólar, e provocam uma discreta volatilidade.
A partir da nossa percepção de que a contração é estimulada e controlada pelos tomadores e que a ação do BC simplesmente possibilita que executem a estratégia de depreciação administrada do real com a convicção de que o ambiente já instalado no país, que inclusive pode agregar novos inputs de origem interna e/ou externa, justifica e sustenta a forte tendência sustentável de que o preço real e efetivo do dólar no país tem potencial para se situar acima de R$ 4,00 ou mais, tornando a perspectiva de ganho certo quando o BC diminuir a sua intervenção com este instrumento ou que, simplesmente, resolvam (os tomadores) a conter a demanda provocando a depreciação do real e partirem para a realização do lucro com a subida do preço do dólar.
Por isso, é importante observar-se a ocorrência dos vencimentos dos contratos de hedge que vem sendo ofertados e colocados, pois podem ser os momentos de maior intensificação da depreciação do real.
Acreditamos mesmo que os estrangeiros estejam totalmente protegidos, mas não restringimos o movimento especulativo à ação somente destes, e certamente há muitos nacionais neste movimento.
O fluxo cambial não reflete movimento de saída considerável de recursos externos, embora estejam sendo gradualmente retirados da Bovespa, sinaliza que estão permanecendo em aplicações de renda não variável focando rentabilização sem riscos de alteração abrupta até que considerem ser o momento de saída do país, o que certamente ocorrerá, provavelmente, à iminência dos vencimentos dos contratos adquiridos para proteção cambial.
O que viabiliza este ambiente de postergação temporária da manutenção dos recursos no país é o fato de estarem protegidos e haver a plena convicção de que o Brasil não tem nenhuma possibilidade de enfrentar crise cambial, não tendo somente a capacidade de conter a elevação da taxa cambial, imponderável e fundamentada nas perspectivas negativas do cenário econômico-político do país.
O preponderante da segurança destes movimentos pelos tomadores dos swaps cambiais é destacadamente os frágeis fundamentos da nossa economia cuja deterioração é persistente e as projeções preocupantes advindas das pesquisas eleitorais que não indicam viabilidade de candidatos reformistas.
Fatores externos já tiveram impactos maiores no primeiro momento, agora já estão precificados em grande parte nas tensões presentes. O Brasil neste momento não desperta atração a investidores externos.
O CDS (Credit Default Swap) Brasil de 5 anos, que é uma espécie de medição do risco de calote, que ao início do ano situava-se no entorno de 142 pontos já sinaliza 267 pontos com viés de alta. Este é um indicador bastante considerado no mercado global e retrata o conceito de risco país. O de 10 anos, segundo estudos disponíveis, atingiu a máxima dos últimos 18 meses, com tendência de alta.
A decisão do FED ontem elevando a taxa básica de juro americana e projeções para a economia americana praticamente já estavam no radar de depreciação das moedas dos emergentes e trouxeram agora a certeza de que haverá mais duas elevações, mas não é correto atribuir-se ao fato os fatores que impactam fortemente sobre o contexto geral do Brasil, como sempre posto pelo governo e até por alguns analistas, já que o que não falta para o Brasil são causas e um emaranhado de dúvidas e incertezas que afetam duramente as perspectivas a respeito do país, neste ano e já no ano seguinte.
O BC não ofertou linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, necessidade que temos propagado insistentemente, provavelmente por ter a privilegiada visão dos dados do mercado e ter verificado que ainda não ocorre pressão de saída de recursos do país. Mas, como é certo de que ocorrerá nas semanas e meses subsequentes, poderia ofertar estes recursos efetivos em moeda para liquidez, diferentemente dos swaps cambiais que não envolvem moeda, mas simplesmente o seu preço como referência negocial, antecipando-se a demanda e buscando “interferir” na formação do preço a partir do mercado a vista para contaminar o mercado futuro.
Enfim, acreditamos que é absolutamente ineficaz a oferta contundente de swaps cambiais pelo BC na atualidade para interferir no preço do dólar, que entendemos estar sob o comando dos tomadores, e assim fica presente movimento especulativo e não mais de busca de proteção.
Se continuar ofertando continuará havendo volatilidade entre os intervalos de suas ofertas no entorno de R$ 3,70 e se paralisar os tomadores buscarão elevar o preço da moeda americana aos patamares compatíveis com o “status quo” do país envolvendo um cenário bastante desfavorável.
É sumamente importante acompanhar os vencimentos dos contratos de swaps que o BC colocou, pois nestes momentos o preço da moeda americana poderá ter picos de altas para consolidação dos ganhos pelos tomadores nas operações realizadas.
O momento sinaliza intensa complexidade.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO