Câmbio: previdência tem influência, mas há vetores que precisam ganhar dinâmica!

O fator aprovação da Previdência tem centralizado as atenções e a este fato, em perspectiva de curto prazo, atribui-se forte interferência em quase tudo que circunda a esperada retomada da atividade econômica do país, contudo não consegue, o que é ruim, as projeções desalentadoras de crescimento do PIB, nem para o 2º semestre deste ano.

É preciso considerar que este fato em si poderá amenizar a grave crise fiscal, mas na realidade não será gerador de investimentos imprescindíveis para a retomada, mas tão somente motivador, e esta reação é esperada do setor privado nacional e da atratividade que o país despertar nos investidores estrangeiros.

Outro ponto é que para que haja motivação para o setor privado é fundamental que haja perspectiva favorável, e, esta está comprometida pelas projeções de curto prazo negativas, amplamente corroboradas pelos órgãos de governo, criam o contraditório e fragilizam as expectativas.

O Brasil, face à este clima complexo e desalentador que o próprio governo sanciona, tem sido preterido na rota dos investimentos estrangeiros, e há muito tempo não evidenciava fluxo cambial tão decepcionante, fato que ao longo de um certo tempo vem sendo contemporizado com atuações contumazes do BC ofertando swaps cambiais para “hedge” e linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.

Ocorre que neste final do 1º semestre ficou evidenciada de forma contundente a queda do fluxo cambial positivo para o país, e este quadro assumiu ares preocupantes e acabaram por impactar forte em outros mecanismos do mercado de câmbio, especificamente os cupons cambiais.

Fluxo cambial negativo e bancos com posições “vendidas” (a descoberto) de US$ 30,0 Bi, sendo este um detalhe pouco usual de observação, visto que faz parte estratégica operacional dos bancos que com esta conduta intensificam ganhos já que há implícita uma captação de reais e que se protegem com operações combinadas no mercado de cupom cambial ou swaps cambiais.

A tranquilidade de dinâmica operacional decorre do fato de que o fluxo cambial positivo para o Brasil possibilita a qualquer tempo a cobertura deste posicionamento descoberto dos bancos, que se financiam com as linhas de financiamento em moeda estrangeira do BC com recompra ou com linhas de banqueiros estrangeiros, contudo, agora com fluxo cambial negativo a visão sobre este posicionamento se tornou severo.

US$ 30,0 Bi de posições a descoberto, “lactu sensu” num ambiente de fluxo negativo corresponde a um redutor efetivo e indireto das reservas cambiais do país, e as perspectivas de curto prazo de retorno dos investimentos estrangeiros, a despeito de todo clamor em torno dos efeitos da aprovação da Reforma da Previdência, a realidade indica que a recuperação do fluxo de investidores estrangeiros pode não ocorrer de imediato por falta de expectativas positivas do país, haja vista as projeções para o 2º semestre, sancionadas até com maior rigor pelo governo.

Então, o vetor “fluxo cambial” é um fator que se opõe à apreciação mais intensa do real frente ao dólar de forma sustentável, não volátil, pois acaba por impactar na liquidez no mercado à vista, que então poderia continuar a ser suprida pelo BC, mas já com observação dos aspectos negativos do uso das reservas cambiais como empréstimo num ambiente desfavorável de fluxo presente e em perspectiva, e a resultante é a elevação do custo do cupom cambial, que acaba por refletir contrariamente na apreciação do real.

Para contrapor-se a este movimento natural do mercado que impede que haja consistência da apreciação do real, que pode ser revertida toda vez que o custo do cupom cambial fica pressionado e ultrapassa o “over libor”, a alternativa mais plausível é a do Banco Central do Brasil atuar de forma objetiva vendendo moeda efetiva, a vista, das suas reservas cambiais.

Esta possibilidade tem o efeito de conter eventuais movimentos especulativos sobre a formação do preço da moeda contendo a alta não fundamentada, mas se a pressão sobre o custo se insinuar de forma concreta, inquestionavelmente a forma corretiva é a intervenção do BC, desta vez com oferta de moeda.

Mas, o país precisa de toda forma restabelecer o fluxo cambial positivo, então, surge um novo vetor em destaque, qual seja “o juro”.

O BC/COPOM na última reunião enfatizou as perspectivas negativas para o crescimento do PIB reduzindo a projeção de 2,0% para 0,8% e projetando atividade econômica estagnada no 2º semestre, e enfatizou a necessidade dos investimentos privados ante a incapacidade do governo de prover investimentos públicos, e foi muito discreto ao falar em redução da SELIC, embora a inflação esteja bastante fragilizada até pela inoperância da atividade econômica.

O cenário global sugere que as principais economias tendem a reduzir suas taxas de juros para incrementar a atividade econômica cadente neste ano, e o Brasil tem especial interesse na queda da taxa de juro americana que tende a ser sancionada pelo FED.

No Brasil as mais recentes projeções para a SELIC são de redução da taxa atual de 6,50% para 5,50% para incentivar a retomada da atividade econômica.

Mas, uma decisão do COPOM nesta direção seria propulsora da motivação do empresariado nacional para retomar os investimentos num ambiente que sugere PIB cada vez mais cadente e atividade econômica estagnada, pelo menos neste segundo semestre?

A atratividade ao capital especulativo estrangeiro, neste momento, seria a janela de oportunidade para o Brasil atrair o incremento de recursos externos, mas para tanto deveria retardar a redução da taxa SELIC ou fazê-la menor no momento em que as economias maiores reduzem suas taxas de juros.

Taxa SELIC, juros, este é um outro vetor relevante neste momento e que pode impactar no mercado de câmbio e no fluxo cambial para revertê-lo a positivo, dando sustentabilidade a tendência de apreciação do real, e, além de estimular a oferta de rentabilidade ao capital estrangeiro, na margem, carrear investimentos para a Bovespa, de forma mas seletiva nos papéis que ainda não estejam com preços aviltados em segmentos com boas perspectivas.

Surge então outro vetor “ambiente positivo”.

Este viria do afluxo de capitais estrangeiros motivando apreciação sustentável do real frente ao dólar, e dinamizando Bovespa e mercado de juro, e, com isto, restabelecendo o animo positivo do empresariado nacional e estrangeiro.

Enfim, à margem da aprovação da Reforma da Previdência, que para quase “todo mundo” é a solução dos problemas brasileiros, existe uma gama de fatores/vetores que precisarão ser equacionados para que o CÂMBIO, como desde o inicio do ano temos previsto, encerre o ano em torno de R$ 3,75, ou até mais baixo.

O país não tem risco de caos cambial, nunca teve, pois tem reservas cambiais substantivas e estratégias operacionais adequadas, mas neste momento tem um fluxo cambial adverso e precisa reverte-lo e para tanto não é bastante somente a Reforma Previdenciária.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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