O contexto atual, a despeito da oscilação do preço da moeda americana no nosso mercado decorrer mais de razões externas e menos das intervenções profiláticas do BC provendo liquidez, continua sustentando a nossa percepção de que a autoridade monetária não deve adotar nenhum tipo de atitude para mitigar o latente viés de alta do dólar.
Afinal, como temos destacado o nosso entendimento é que o preço da moeda americana elevado se prestará para alavancar a retomada da atividade econômica a partir do agronegócio, que tem peso relevante no PIB brasileiro, que tem preços atraentes no exterior e concomitantemente será beneficiário da remuneração otimizada.
E o agronegócio repercute na cadeia de atividades em seu entorno, em especial transportes, etc… e se desenvolve em regiões de menor incidência do coronavírus, gerando emprego e renda.
Por outro lado, como efeito colateral positivo do preço aviltado do dólar, a Bovespa se torna atrativa aos investidores estrangeiros face ao barateamento consequente do preço das ações, num momento em que a liquidez mundial é expressiva e busca oportunidades por remunerações melhores.
A Bovespa mantém a dinâmica recuperatória, mas é dependente da manutenção da taxa cambial elevada nesta retomada, e o setor do agronegócio ganha propulsão adicional com a manutenção do câmbio alto.
Num ambiente de normalidade este contexto não seria possível em decorrência das repercussões imediatas nos preços relativos da economia e intensificação da inflação, o que não ocorre neste momento de atividade econômica ainda bastante inerte e, também, com os preços do petróleo fragilizados.
O Brasil duramente atingido em sua atividade econômica, que já era cambaleante antes da crise do coronavírus, tem acentuada a sua crise fiscal precisando identificar nichos de oportunidades para que sejam “a porta da saída para a recuperação”, e esta estratégia, que entendemos estar presente, nos parece oportuna, contudo não sustentável por um período muito longo, mas inegavelmente o dólar alto deverá promover, também, o deslocamento da demanda nacional de insumos anteriormente importados por nacionais, redinamizando inúmeros setores da indústria brasileira que haviam perdido mercado.
Esta será uma postura que poderá ser impulsionada a partir do dólar alto encarecendo o produto importado, bem como uma nova diretriz defensiva que alterará a configuração do comércio globalizado, que ficará como legado de aprendizado por crise.
Não temos expectativa sobre nenhuma intervenção mais incisiva do BC visando deprimir a taxa cambial, neste momento não é interessante e não há efeitos inflacionários, e deve se limitar somente ao foco sobre a liquidez.
No nosso entendimento o COPOM/BC deveria ser mais cauteloso na tomada de nova decisão de redução da SELIC, visto que são questionáveis os efetivos benefícios de novas reduções, não se podendo relegar a plano secundário os investimentos externos no país. Importante destacar que a participação estrangeira na dívida pública é, na atualidade, a menor desde fevereiro de 2010.
Será importante observar-se o comportamento do fluxo cambial e da balança comercial, que poderão confirmar a assertiva destas observações.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO