BC/Câmbio: Tendência é diminuição de oferta de swaps e aumento de oferta de linhas

Há sinais mais consistentes de intensificação da tendência de saída de investimentos estrangeiros do mercado financeiro brasileiro, em especial da Bovespa, e isto, em se confirmando, acentuará a demanda de divisas no mercado de câmbio à vista.

O BC pelo prazo de oferta de swaps cambiais recentes parecia sinalizar que aguardava movimento neste sentido para o final de junho início de julho, mas é bem provável que a reversão destes capitais estrangeiros, em grande parte especulativos, tenha início mais imediato, tendo em vista que o conjunto que compõe o risco Brasil tem acentuado perspectivas bastante desfavoráveis.

Pelos números disponibilizados pelo BC e mercado, o montante de “Câmbio Contratado – Financeiro Detalhado” no item relativo a Capitais Estrangeiros/4 (investimentos passivos diretos em ações, títulos, empréstimos, créditos comerciais, depósitos e derivativos) revelava no fechamento de março US$ 13,448 Bi, enquanto a posição de câmbio futuro apontava em março algo em torno de US$ 2,0 Bi e que foi abruptamente elevado em abril para US$ 14,0 Bi, exatamente quando houve a valorização no mercado global do dólar, por razões sobejamente conhecidas, e que impactou fortemente, principalmente, nos mercados emergentes e suas moedas.

A suposição que é possível é que o saldo da exposição dos investimentos estrangeiros no mercado financeiro ingressados neste ano tenha sido protegido na sua totalidade em abril, e que este movimento acentuou pelo mercado de câmbio futuro a elevação da taxa cambial, em linha com a tendência global, contaminando a taxa de câmbio do mercado a vista.

A entrada do BC de forma mais contundente com oferta de swaps cambiais recentemente teve o objetivo, no nosso entender, ofertar proteção para as empresas que registravam ter baixa proteção e que tendem a proteger mais intensamente seus passivos comerciais, e mais, reconhecendo que as pressões já imputadas à elevação do preço do dólar localmente, que provocou que a desvalorização do real superasse a média de desvalorização das moedas emergentes, tinham origem já nos fatores internos que impactavam no risco Brasil.

Muitas empresas vinham optando por proteção com operações a termo que não lhes submete a exigência de margem, mas que, por vezes, não tem oferta compatível com a demanda.

Nossa percepção é que a demanda mais premente, qual seja por parte dos investidores estrangeiros no mercado financeiro, está protegida com “hedge” e agora dá início ao movimento de saída do país, o que faz com que a Bovespa ensaie um movimento de “sell off”.

Partindo desta observação entendemos então que seja o momento do BC reduzir a oferta de swaps cambiais e iniciar a oferta de linhas de financiamento com recompra ao sistema bancário autorizado a operar em câmbio, visando prover o mercado com a necessária liquidez.

Importante ressaltar que neste momento, a posição de linhas de financiamento desta natureza concedida pelo BC está zerada e os bancos estão com suas posições “vendidas” em torno de US$ 6,0 Bi e as reservas cambiais brasileiras está em US$ 381,0 Bi, sendo o passivo do governo em torno de US$ 70,0 Bi e de transações “intercompany” em torno de US$ 230,0 Bi.

Nada há que possa criar qualquer desconforto com liquidez no mercado cambial brasileiro, afora a possibilidade de sofrer impactos externos e internos na formação do preço da moeda.

No Brasil é perceptível a preocupação com o cenário presente e prospectivo abrangendo questões que envolvem um cenário econômico que sugere até retrocesso e revisão das projeções de PIB, questão fiscal altamente relevante e preocupante, desemprego, não recuperação da renda e do consumo em termos efetivos, e um imbróglio altamente indefinido em torno da sucessão presidencial.

Este cenário é impactante na formação do preço da moeda americana de vez que afugenta os investidores em conta capital e cria aversão aos investidores especuladores.

No cenário global os fatos em torno da economia americana estão precificados no preço atual da moeda no nosso mercado, que já tem conteúdo também dos fatores internos, mas a intempestividade do Presidente Trump é sempre uma possibilidade de conflitos comerciais e geopolíticos.

Ressurgem agora sinais de retomada dos conflitos com a Coréia do Norte, a partir do cancelamento do encontro, há questões que podem se agravar com o Irã e agora novo atrito comercial com a manifestação de Trump focando tributação aos veículos importados pelos Estados Unidos.

Estes atritos poderão renovar pressões sobre o dólar no mercado global, com impactos nos emergentes, e o Brasil deverá agregar com seus problemas atuais e em perspectivas um “a mais” no preço da moeda estrangeira.

Embora ontem os T-Bonds de 10 anos tenham recuado sua remuneração de 3,003% para 2,981%, a atratividade pelo mercado americano não deve diminuir.

Há uma ainda discreta preocupação no Brasil sobre a possibilidade do governo tentar interferir junto ao BC para uma ação mais contundente de mitigação de elevação do preço do dólar para atenuar os efeitos fiscais dos “acordos” com os responsáveis pelo transporte rodoviário de produtos no país, que impactarão nos acertos que se comprometeu com a Petrobrás. Consideramos esta ingerência como absolutamente improvável, visto que seria um embate com a formação de preço pelo mercado num momento em que há fundamentos concretos, e a resultante seria somente intensa volatilidade.

Temos a firme convicção de que o BC entrará com oferta de linhas de financiamento com recompra no mercado e que o dólar manterá viés de alta e a Bovespa viés de baixa.

Nossa projeção continua sendo de dólar a R$ 3,75 em agosto.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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