A suposta reação afetando e promovendo a apreciação do real frente ao dólar fundamentada pela perspectiva do FED vir a sinalizar uma pausa no ciclo de aperto monetário nos parece precipitada.
Ademais, se o suporte da mudança de postura do FED estiver consubstanciado na perspectiva de riscos crescentes à maior economia global, é preocupante.
Uma boa notícia em contraposição a uma má notícia. A sensatez recomenda a sensatez.
Em princípio deveria, se tornada real, fomentar o otimismo nas bolsas americanas o que não ocorreu ontem , pois o fundamento de sustentação da suposta decisão causará cautela e poderá determinar direcionamento a aplicações nos T-Bonds como segurança.
A reação das bolsas americanas ontem foi comedida, sem empolgação e negativa, diferentemente do Brasil onde a ocorrência de alta foi excessiva, se bem que repercutindo a recuperação de preço das ações da Vale que haviam perdido ¼ do seu valor rapidamente pós desastre e agora sinalizam mais sensatez e voltam a ganhar preço.
A depreciação do real ontem frente ao dólar pode ter sido consequência de algo extremamente pontual, ou seja, ingresso de recursos estrangeiros focando compra de ações da Vale após a expressiva queda que tornou a compra negócio de grande oportunidade. Portanto, um ponto fora da curva.
A questão entre USA-China já não determina mudanças de humores, pois sabidamente deverão ir se alongando ainda por muito tempo. A gama de interesses conflituosos não sugere solução imediata e nem total dos mesmos.
Os tempos são de expectativa no mercado brasileiro, não havendo ainda fatos concretos para alavancar a esperada alta da Bovespa e a apreciação do real frente ao dólar.
O fluxo de recursos estrangeiros está muito aquém das fortes expectativas postadas com grande entusiasmo pelos analistas do setor, o investidor nacional antecipou a tendência que esperava para ser consolidada com a chegada dos recursos estrangeiros, porém os investidores externos estão reticentes, claramente com uma postura sensata e cautelar aguardando que “as ideias se tornem realidade” em especial quanto a reforma previdenciária e tributária.
Haverá um Congresso Nacional renovado cujo perfil em relação a estas matérias relevantes ainda é desconhecido, tanto quanto os textos propositivos das reformas.
Qual a tendência temporal de aprovação? Quantos embates e debates serão necessários? Qual serão os textos resultantes finais?
Então há muitas dúvidas e incertezas, tanto quanto a eleição do próximo Presidente do Senado, já que para a Câmara a indicação já parece definida, mas dos posicionamentos dos políticos integrantes das duas Casas frente às reformas que serão propostas pelo governo.
A expectativa do momento, embora havendo otimismo, não sugere que se aprecie ou deprecie o preço da moeda americana no nosso mercado, pois se houver decisões rápidas os fluxos de recursos externos virão não se sabe se com os volumes prognosticados pelas instituições, mas o viés do preço do dólar será de depreciação frente ao real. Contudo, se os debates e embates forem longos e tornarem lentas as decisões, naturalmente os fluxos externos serão retardados, e então, o viés do preço do dólar será de apreciação frente ao real.
Enquanto perdurar estas incertezas no nosso entender o preço da moeda americana deveria manter-se entre R$ 3,75/R$ 3,77, com discreta volatilidade, mas sem afastar-se do eixo.
O otimismo deve perdurar, mas as reações prognosticadas dos investidores estrangeiros podem ocorrer de forma mais lenta, pois há muito que se “reorganizar” no país, sendo a questão primordial a viabilização de soluções para a crise fiscal, o que poderá soltar as amarras para que o país dê início a melhora sensível da atividade econômica.
A retomada da atividade econômica também não é algo tão imediato, mas gradual, pois precisa das decisões de investimentos do setor produtivo, mas também do setor público na infraestrutura do país.
E serão fundamentais para geração de emprego, aumento da renda, consumo, aumento da arrecadação de governo, etc….
Acreditamos que o preço da moeda americana retornará a R$ 3,75/R$ 3,77, visto que não há razões fundamentadas nem para depreciação nem para apreciação do real frente ao dólar, neste momento. E se houver muito retardamento nas decisões sobre as reformas e os investidores mantiverem a postura de cautela poderá até ocorrer discreta apreciação do dólar frente ao real.
Há, na realidade, uma longa trajetória a ser cumprida pelo país e isto pode contrastar com as expectativas imediatas, pois a relação ação-reação pode se alongar.
Naturalmente há pressa por parte dos nacionais para que o país se alinhe na rota do crescimento, mas, por outro lado, os estrangeiros podem se manter reticentes por mais tempo do que o esperado.
Nesta fase de transição e adequação do país a um momento novo, com grande anseio de voltar a crescer de forma contundente, será absolutamente necessário sensatez como atitude maior.
Então tudo deve seguir por fases repercutindo os ajustes e os acertos, por enquanto sem movimentos bruscos de elevação da Bovespa e nem depreciação do dólar frente ao real.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO