O ex-ministro Mantega tinha o hábito recorrente de atribuir tudo que de mal acontecia no país como motivado por causas externas, quando flagrantemente havia evidência de que “os nossos problemas eram nossos”, mas o tempo, senhor da razão, hoje deixa evidente pelas danosas consequências consolidadas ao país, que o problema do Brasil era efetivamente o Brasil.
Atualmente temos um imbróglio presente de difícil superação e que impacta na atividade econômica brasileira e no seu mercado financeiro, provocando volatilidade e atipicidades com baixo ou nenhum fundamento de efeitos externos, mas sabidamente pontual de causas puramente nacionais, porém, como dantes há sempre a menção dos efeitos externos nas movimentações, em especial de preços, dos nossos ativos.
Certamente, cultivamos o hábito de nos vermos maiores do que somos em importância no contexto internacional, onde temos marcante tradição em ser um país interessante para rentabilizar investimentos a taxas generosas e ensejar oportunos movimentos especulativos focando o lucro no curtíssimo prazo.
Nossa participação no comércio exterior é pífia “vis a vis” a nossa dimensão e a tradicional outorga de oitava ou nona economia mundial, e, somos uma economia fechada, que tem uma moeda, o Real, sobejamente utilizada para giro especulativo, o que provoca a confusa visão de que poderemos torná-la “conversível”, anseio ainda muito distante e improvável.
Naturalmente que o “status quo” do Brasil provoca a notória retração dos investidores estrangeiros ávidos por rentabilidade, de vez que há riscos latentes que emanam do ambiente binário das perspectivas.
Mas, o Brasil está se esforçando para dar um passo inicial recuperatório de sua agravada situação fiscal, para então buscar organizar-se para iniciar um programa concreto e viável de desenvolvimento que seja capaz de resgatar os escombros consequentes da ingovernabilidade com que convive desde 2014, e que precipitou a presente situação caótica.
Mas, apesar das aparentes boas intenções, há desencontros na área política que promovem o descompasso entre as estratégias do governo e do Congresso Nacional no trato e encaminhamento da fundamental Reforma da Previdência, aparentemente divergências na forma de condução e negociação da matéria entre os poderes, permitindo as mais diversas ilações.
Então, na realidade o ambiente interno, na realidade, pouco tem a ver com o que acontece no exterior, sendo tudo ou quase tudo consequência dos desmandos e desencontros internos, que ensejam movimentos voláteis dos preços dos ativos, num claro movimento oportunista e especulativo.
A Bovespa não explodiu os preços dos seus ativos, estando em linha com a realidade do momento embora ao longo se projetados os preços pela inflação, etc…, possa ter considerado grande parte dos preços interessantes, mas falta o investidor estrangeiro para motivar o incremento dos preços com a intensificação da demanda, mas isto provavelmente só virá a ocorrer quando houver sinais concretos de que a atividade econômica será retomada com força.
Assim, não ultrapassa os 100 mil pontos de forma consolidada, mas apresenta volatilidade de oportunidade e proporciona “giro” mantendo o segmento ativo.
O dólar, segmento no qual o país tem situação confortável e bem defendida, sabidamente nesta oportunidade contraria a tradição dos países em desenvolvimento, o Brasil tem recursos e estratégias que dão tranquilidade neste quesito.
Então o que se observa, consequência absoluta dos fatores internos e fundamentalmente da condução política da Reforma da Previdência, é movimento volátil que busca ancorar-se em pretensos riscos de caos, mas que não se sustentam e assim ocorre o vai e vem contumaz, já que o que se verifica neste momento, já ocorreu em passado recente.
O BC, corretamente, observa e não intervém com novas intervenções, mantendo tão somente a rolagem das já ocorridas, e dá tempo ao tempo, já que tem a clara convicção de que estes movimentos pontuais se esgotam em si mesmos, visto que não há fundamentos que lhes dê suporte.
Na operação retorno à normalidade, agora a Bovespa recupera o que perdeu recentemente e o dólar devolve preço frente ao real.
E assim segue o nosso mercado financeiro, até a próxima rodada.
Simples assim!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO