Difícil acreditar, mas a veemência do movimento crítico da mídia e seus analistas em torno da candidatura de Jair Bolsonaro deixa transparecer que há certo apressamento no foco de desconstrução do candidato, ao mesmo tempo que acentua a perspectiva que poderá haver decisão já no primeiro turno.
Afinal, “ninguém bate em morto” como diz o dito popular, e a severa reação ideológica que se presencia por parte de todos os demais candidatos contra o candidato do PSL sinaliza o grau de preocupação predominante e reafirma a viabilidade da inesperada possibilidade, até a pouco tempo não ventilada.
E o que se observa é até a interferência pontual de agências de rating e alguns jornais internacionais de credibilidade.
O mercado financeiro, que tem estado descrente das pesquisas e menos sensível à saraivada de críticas ao candidato, parece estar aceitando a ideia com serenidade.
A pesquisa IBOPE divulgada ontem parece ratificar, ainda que não totalmente, a percepção que vem predominando no mercado financeiro.
O movimento de realização na B3 é considerado natural e defensivo para o momento, se bem que bastante discreto, sem alaridos e temores.
O mercado de juro mantém agregado o prêmio de risco decorrente das incertezas futuras, visto que o país tem substantivos e desafiadores problemas em perspectiva, e, há pouca clareza sobre quais e como serão implementadas ações visando a revigoração da atividade econômica e como o país focará a solução da situação fiscal gravíssima, sem o que não haverá condições críveis de incremento da recuperação do emprego, renda e consumo e o retorno dos investimentos produtivos.
A rigor nenhum candidato apresentou consistente e fundamentado plano de governo, com objetivos e origem dos recursos, o que torna difícil o processo seletivo por parte dos eleitores, o que fragiliza opiniões de que este seja pior ou melhor que o outro.
No mercado de câmbio parece estar acontecendo o esvaziamento das posições compradas especulativas, visto ser patente a incapacidade de impulsão do preço da moeda americana além do que foi R$ 4,20, e não conseguiu mostrar sustentabilidade, já que não há fundamento para o movimento que se presenciou desde meados do mês de agosto.
É muito provável que dentro deste ambiente tenso que deve prevalecer nesta semana antecedente ao pleito, o preço da moeda americana sofra depreciação dado a fragilização dos temores e tensões que alimentaram a apreciação e pela forte evidência de que o país não tem risco de crise cambial e está com as contas externas em situação absolutamente confortável.
Nossa expectativa é de que deve ser intensificado o desmonte das posições compradas especulativas, o que poderá conduzir o preço da moeda americana neste momento antecedente à realização da eleição presidencial, ao entorno de R$ 3,90, para posteriormente seguir para a nossa projeção de R$ 3,80.
O mercado externo e em especial o americano recebeu com otimismo o acordo Estados Unidos-México-Canadá, que na essência não altera com relevância o acordo que era denominado NAFTA, mantendo-o em sua grande parte, mas que se prestou a atender o ego do Presidente americano.
Embora haja muito ruído em torno do embate China-Estados Unidos, como é prejudicial a ambas as partes, acordos como o ocorrido deixam perspectivas favoráveis para que ambas as potências acabem realinhando suas relações, sendo tão somente uma questão de tempo.
Hoje o dólar abriu no exterior em valorização frente a cesta de 6 moedas mais importantes do mundo, mas isto não deve ter impacto no Brasil que vive um momento de ajuste de exacerbações atípicas ocorridas na formação do preço de sua moeda frente a moeda americana.
O momento é de postura defensiva dada a iminência das eleições, por isso se espera dólar em baixa com desmonte das posições compradas especulativas e B3 mantendo discreto movimento de realizações.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO