Termômetro Broad: Notas de Fazenda e BC pioram em meio à revisão da meta e fala de diretores

Termômetro Broad: Notas de Fazenda e BC pioram em meio à revisão da meta e fala de diretores

Por AE Broadcast

São Paulo, 05/08/2015 – O impacto negativo da revisão das metas fiscais até 2017 sobre a imagem da Fazenda e declarações dos diretores do Banco Central Tony Volpon e Luiz Awazu Pereira, vistas como conflitantes, refletiram na avaliação do desempenho da gestão da Fazenda e do Banco Central em julho em relação a junho. É o que mostra o Termômetro Broad, cuja pesquisa no mês passado contou com 49 instituições que responderam ao questionário entre os dias 24 e 31.

No levantamento referente à Fazenda, a média das notas da avaliação geral caiu de 6,3 para 4,6 entre junho e julho. As médias para a Política Fiscal e para Comunicação tiveram uma deterioração ainda maior, de mais de 2 pontos, ao passar, em ambos os casos, de 6,2 para 4,1.

Fonte: AE Dados

A votação do Termômetro Broad ocorreu em meio a um conjunto de fatores negativos relacionados à Fazenda, com destaque para o muito mal recebido anúncio da redução das metas de superávit primário neste e nos próximos anos, divulgado no relatório bimestral de receitas e despesas no último dia 22. Embora seja uma atribuição do Ministério do Planejamento, a meta é discutida pela equipe econômica e a percepção é de que a Fazenda saiu derrotada deste episódio, com o ministro Joaquim Levy perdendo uma suposta quebra de braço com o ministro Nelson Barbosa.

Naquele momento, o Congresso Nacional já havia entrado em recesso, deixando pendente uma série de votações importantes para o ajuste fiscal, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), já tinha anunciado o rompimento pessoal com a base aliada do governo.

A meta de 2015 passou de R$ 66,325 bilhões (1,13% do PIB) para R$ 8,747 bilhões (0,15% do PIB), quando a expectativa dos agentes era de algo entre 0,6% e 0,4%. Pior: será possível abater, dependendo da frustração das receitas, até R$ 26,4 bilhões. Ou seja, na prática, é possível que a nova meta permita que o setor público consolidado termine o ano com um déficit de R$ 17,7 bilhões. O governo alegou que os cortes foram necessários pela frustração das receitas em razão da fraqueza da atividade e disse que não haveria relaxamento nos gastos.

Outra surpresa ruim foi a redução da meta para os anos seguintes, que não estava na conta do mercado. O objetivo em 2016 passou de 2,0% para 0,7% e em 2017, de 2,0% para 1,3%. Só em 2018 o governo acredita que poderá fazer um superávit de 2,0% do PIB.

O que o ministro Joaquim Levy mais temia aconteceu: a decisão sobre as metas foi vista como afrouxamento da disciplina fiscal. Além disso, ele defendia um contingenciamento nos gastos da ordem de R$ 15 bilhões em 2015, quase o dobro do efetivamente anunciado, de R$ 8,6 bilhões.

Durante a entrevista para o anúncio das novas metas e também em declarações nos dias seguintes, Levy se esforçou para convencer a sociedade de que o compromisso com o ajuste fiscal continua firme.

Segundo o Banco Central, em junho houve déficit primário de R$ 9,323 bilhões, bem pior do que apontava a mediana prevista na pesquisa AE Projeções, negativa em R$ 7,400 bilhões, e o mais baixo para o mês na série histórica. Em 12 meses, há déficit primário de R$ 45,7 bilhões (0,80% do PIB), o que dá a dimensão do esforço hercúleo a ser feito para que o governo escape de fechar o ano no vermelho.

Menos de uma semana depois do anúncio da revisões das metas, e ainda antes da divulgação dos dados fiscais, a Standard & Poor’s mudou a perspectiva do rating BBB- do Brasil para negativa, de estável, deixando o País a um passo de perder o grau de investimento.

Banco Central
As médias de avaliação do Banco Central também tiveram piora generalizada, embora em menor proporção que as da Fazenda. O que mais chamou a atenção foi o declínio na nota da Comunicação, de 6,1 para 4,5. A média para a gestão geral recuou de 6,0 para 5,2 entre junho e julho. A nota média para a Política Monetária passou de 6,1 para 5,6 e a da Política Cambial, de 5,9 para 5,2.

Julho foi um mês complicado para a comunicação do BC, marcado por um vaivém de declarações sobre a política monetária tanto do diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, quanto do diretor de Política Econômica, Luiz Awazu Pereira.

No dia 20, durante participação em evento em São Paulo, Volpon enalteceu o fato de a ancoragem das expectativas de inflação em 2017 já ter ocorrido e lembrou que essa é uma condição necessária para um eventual início do ciclo de afrouxamento da política monetária. Imediatamente, na curva de juros houve aumento das apostas de que o BC já reduziria o compasso de alta da Selic para 0,25 ponto porcentual em julho.

Dado esse efeito na curva e na esteira do anúncio da redução das metas fiscais, Awazu tratou de recolocar a maioria das apostas na alta de 0,50 ponto. Durante seminário no Rio, no dia 24, ele “lembrou” que as expectativas de inflação ainda estão cerca de 90 pontos-base acima da meta no fim de 2016.

Volpon ainda se envolveu em outro imbróglio, que comprometeu sua participação na decisão do Copom sobre a Selic. No mesmo evento do dia 20, ele afirmou que “pessoalmente” continuaria votando pelo aumento da taxa básica e foi acusado pela oposição de ter antecipado seu voto na reunião do colegiado. O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), chegou a defender a demissão de Volpon caso não explicasse o motivo de ter, segundo ele, antecipado o voto. O diretor negou que tivesse adiantado sua opção, enviando esclarecimentos ao Copom.

De todo modo, o episódio colocou o BC em uma situação embaraçosa, o que levou o presidente da instituição, Alexandre Tombini, a convocar uma reunião extraordinária antes do encontro de política monetária. Nela, recomendou a seus membros “que redobrem a natural e reconhecida cautela em suas manifestações”. Para evitar mais lenha na fogueira, Volpon, em decisão inédita para um diretor do Copom, se absteve de participar da reunião do Copom em julho.

No último dia 29, o colegiado, de forma unânime, decidiu elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 14,25%. A leitura do comunicado, segundo o qual “o Comitê entende que a manutenção desse patamar da taxa básica de juros, por período suficientemente prolongado, é necessária para a convergência da inflação para a meta no final de 2016”, foi de que o ciclo de aperto monetário terminou.

Quanto ao câmbio, a despeito da escalada do dólar em julho, quando subiu quase 10% ante o real, o Banco Central continuou restringindo sua intervenção aos leilões diários para rolagem dos contratos de swap cambial, tendo rolado 60% do vencimento total.

O Termômetro Broad é produzido mensalmente pelos profissionais do AE Dados junto a bancos, corretoras, consultorias, gestoras de recursos, instituições de ensino, departamentos econômicos de empresas e outros com histórico de realização periódica de projeções de indicadores econômicos.

A divulgação dos resultados é feita nos serviços em tempo real do Broadcast na quarta-feira mais próxima do dia 5 de cada mês. Em caso de feriado, a divulgação ocorre no primeiro dia útil subsequente.

São publicados apenas os resultados consolidados da pesquisa. As respostas individuais das instituições ficam em sigilo. A redação da Agência Estado não tem acesso às respostas individuais. O questionário, enviado por e-mail, deve ser respondido uma única vez por instituição, na última semana de cada mês.

Pesquisa Termômetro Broad – Resultado Julho/15

Divulgado no AE Broadcast no dia 05/08/2015

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