Mercado ajusta expectativas para 2025 com PIB tímido e inflação alta persistente

Banco Central do Brasil - Foto: Agência Brasil
Boletim Focus revela cenário de cautela para a economia brasileira

O mercado financeiro revisou suas projeções para a economia brasileira em 2025, conforme divulgado no Boletim Focus desta segunda-feira, 31 de março de 2025, pelo Banco Central (BC). A expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foi reduzida de 1,98% para 1,97%, sinalizando uma expansão mais tímida, enquanto a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) persiste em níveis altos, mantida em 5,65%, acima do teto da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Essa leve retração na previsão do PIB reflete preocupações com o ritmo de atividade econômica em um contexto de juros elevados e incertezas globais. A taxa básica de juros, a Selic, foi mantida em 15% para o fim de 2025, evidenciando a percepção de que o Banco Central continuará adotando uma postura firme para conter pressões inflacionárias. Analistas apontam que o cenário combina resiliência com desafios persistentes, especialmente no controle dos preços.

Inflação persistente e política monetária

A projeção de 5,65% para o IPCA em 2025, inalterada em relação à semana anterior, reforça a dificuldade de alinhar a inflação à meta de 3%, que possui tolerância de 1,5 ponto percentual (entre 1,5% e 4,5%). Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, em fevereiro, o IPCA atingiu 1,31%, o maior patamar para o mês desde 2003, puxado por altas na energia elétrica e nos alimentos. Em 12 meses, o índice acumula 5,06%, evidenciando um quadro de inflação persistente.

O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic para 14,25% na última reunião, marcando o quinto aumento consecutivo, e sinalizou um ajuste “de menor magnitude” para maio. Esse ciclo de aperto monetário visa esfriar a demanda aquecida, mas também gera impactos no custo do crédito e na atividade econômica. Para 2026, o mercado prevê uma redução da Selic para 12,5%, sugerindo um alívio gradual nas condições financeiras.

Câmbio e perspectivas de longo prazo

No front cambial, a cotação do dólar foi ajustada para R$ 5,92 ao fim de 2025, uma leve queda em relação aos R$ 5,95 estimados anteriormente. Para 2026, a projeção se mantém em R$ 6,00, refletindo expectativas de pressões externas e internas, como o déficit em conta corrente e a força global da moeda americana. Já para 2027 e 2028, o câmbio é estimado em R$ 5,90, indicando relativa estabilidade no longo prazo.

Olhando adiante, as projeções para o PIB em 2026 permanecem em 1,6%, enquanto para 2027 e 2028 sobem para 2%. Esses números sugerem uma recuperação moderada, mas ainda limitada por fatores como o elevado endividamento público e a necessidade de ajustes fiscais. A inflação, por sua vez, deve recuar para 4,5% em 2026, 4% em 2027 e 3,78% em 2028, aproximando-se gradualmente do centro da meta.

Desafios e oportunidades à vista

O cenário traçado pelo Boletim Focus combina cautela com sinais de resiliência. O crescimento de 3,4% do PIB em 2024, o maior desde 2021, oferece uma base sólida, mas os ajustes para 2025 indicam que o ritmo pode desacelerar. Fatores como a alta dos preços de energia e alimentos, aliados às incertezas globais, desafiam a política monetária e exigem equilíbrio entre controle inflacionário e estímulo econômico.

Economistas destacam que a estabilidade da inflação em patamar elevado reflete tanto a robustez da demanda interna quanto os riscos de desancoragem das expectativas. O Copom, em seu último comunicado, enfatizou a necessidade de monitorar a política econômica do governo, sugerindo que medidas fiscais serão cruciais para o sucesso do ajuste. Enquanto isso, o mercado segue atento aos próximos passos do BC e às dinâmicas internacionais que podem influenciar o câmbio e os juros.

Em suma, o Boletim Focus de 31 de março de 2025 delineia um ano de transição para a economia brasileira, com ajustes sutis nas projeções e um horizonte de desafios que testará a capacidade de resposta das autoridades econômicas. A combinação de PIB mais tímido, inflação persistente e Selic elevada reflete um momento de prudência, mas também de expectativas por uma convergência gradual rumo à estabilidade.


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