Certamente o Banco Central (BC) está vendo algo que o mercado, ou a maior parte dele, não captou com plena clareza ainda. Sinal disso são as diferentes interpretações dadas para o mesmo fato que é a liberação de barreiras cambiais e a oferta de liquidez via leilões de linha e swaps.
Certamente o Banco Central (BC) está vendo algo que o mercado, ou a maior parte dele, não captou com plena clareza ainda. Sinal disso são as diferentes interpretações dadas para o mesmo fato que é a liberação de barreiras cambiais e a oferta de liquidez via leilões de linha e swaps.
Entre as versões temos a de que o BC apenas oferta liquidez, como o próprio presidente Alexandre Tombini disse que faria em audiência no Congresso no fim de novembro. O fim de ano é sazonalmente mais apertado em termos de oferta de dólares enquanto cresce a demanda por remessas e pagamentos.
Para alguns, como o diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme, a atuação do BC tem se mostrado tímida, pois ele reluta em vender dólares à vista. Pode ser por constrangimento, já que fazer isso seria admitir de uma vez por todas que apesar das vociferações e ações práticas contra o “tsunami monetário” e “guerra cambial”, o quadro seria mesmo de “ressaca”.
Para outros, a questão é a inflação. De nada adianta trabalhar para desvalorizar o câmbio nominal, se o avanço da inflação comer o ganho no câmbio real.
Para o diretor da Nomura Securities, Tony Volpon, o BC está “retomando” a política cambial que estava mais a cargo do Ministério da Fazenda. Embora acredite que toda a liberação de barreiras ao capital seja algo positivo, Volpon avalia que o que leva o BC a desfazer as medidas macroprudenciais é o constante e crescente fluxo negativo.
Para esse especialista, o comportamento do fluxo cambial é algo estrutural e as ações do BC servem apenas para suavizar o viés de baixa da moeda brasileira e não para reverter essa tendência, que adentrará 2013.
O ponto que ainda não permeou as diferentes avaliações é que relações são estabelecidas entre essas medidas cambiais e o crédito. Volpon passou pelo assunto ao lembrar que as restrições ao capital externo foram apontadas não como uma forma de segurar a valorização do real, mas sim de balizar o crescimento dos empréstimos.
Por esse prisma, as ações do BC podem até mirar a taxa de câmbio no curtíssimo prazo, mas vão acabar acertando, também, o mercado de crédito. E certamente esse resultado não seria involuntário. O BC sabe disso.
O limite à posição vendida nas operações à vista de câmbio instituído no começo de 2011 foi um claro convite à redução da oferta de crédito via funding externo. Sem falar nas repercussões que a restrição impôs ao mercado de derivativos cambiais.
Não há dúvida que firme ingresso de dólares amplia a oferta de recursos no mercado doméstico. E a ação do BC em 2011 só confirma isso. Especialistas lembram que por mais que as compras de dólares sejam esterilizadas pelo BC, sempre sobram recursos nos mercados, que acabam levando ao crescimento do crédito, da demanda agregada e, consequentemente, da inflação.
Apesar das indicações, está difícil desvendar qual a estratégia do BC e seus efeitos de primeira e segunda ordem. Primeiro, porque a recente retirada de barreiras foi feita de forma rápida, em 12 dias, pegando diferentes modalidades de operações (pré-pagamento de exportações, captações externas e posições no mercado à vista). Segundo, a ação do governo ocorreu em um período sazonalmente ruim em termos de fluxo e de grande complexidade externa, marcada pela tensão gerada pelo Fiscal Cliff e uma “nova” política monetária americana, com o Federal Reserve atrelando sua atuação ao desemprego e inflação.
O que é fato é que seja por colocações privadas ou captação via títulos, os bancos têm alguns bilhões de dólares engatilhados para entrar no país. Agora é esperar para ver se a queda dessas barreiras é suficiente para chamar esses dólares para dentro e se eles vão irrigar o crédito.
Fonte: Valor Econômico Link: http://goo.gl/0BAfi Autor: Eduardo Campos Data de publicação: 19/12/2012 |