O economista e diretor-executivo da corretora NGO Sidnei Nehme diz que a decisão do Banco Central de realizar, a partir de hoje, leilão de linha de dólares com recompra representa uma ampliação da sua forma de atuar no câmbio, que até agora vinha sendo feita apenas via leilão de swap cambial extraordinário. Contudo, para ele, isso não significa uma intensificação dos volumes das intervenções, uma vez que a autoridade vem diminuindo os montantes de swap cambial novos ofertados.
Na semana de 11 a 15/6 foram injetados US$ 24,5 bilhões em swap novo, enquanto na semana passada (18 a 22) foram colocados apenas US$ 5 bilhões desses contratos, de um total planejado de até US$ 10 bilhões para o período, se fosse necessário. Para esta semana, o BC introduziu a realização hoje de um leilão de linha de até US$ 3 bilhões, mas não especificou o montante de swap que pretende ofertar no período. Disse apenas que continuarão a ser ofertados, “de acordo com as condições de mercado, para prover liquidez e contribuir para o bom funcionamento do mercado de câmbio”.
O BC também reafirmou que “não vê restrições para que o estoque de swaps cambiais (hoje de cerca de US$ 67,4 bilhões) exceda consideravelmente os volumes máximos atingidos no passado (cerca de US$ 115 bilhões).
“A indefinição sobre o volume de swaps a ser ofertado pode estar refletindo a percepção de que o mercado já pode estar super protegido por esse instrumento, enquanto de outro lado já poderia estar começando a escassear a liquidez à vista”, diz o especialista.
“Saiu muito dinheiro da Bolsa neste mês e o BC pode estar achando que vai haver demanda à vista de dólares para remessas ao exterior”, diz Nehme, para tentar justificar a mudança de postura da autoridade monetária, que vinha reafirmando há várias semanas que não há falta de liquidez no mercado porque o fluxo cambial é positivo para o País.
Para ter ideia, em junho até o dia 15, o fluxo cambial estava positivo em US$ 4,758 bilhões – resultado de entradas líquidas pelo canal financeiro de US$ 3,298 bilhões e um saldo positivo pela via comercial, de US$ 1,460 bilhão. Já na B3, no mês até o dia 20, os estrangeiros já retiraram R$ 5,848 bilhões do mercado, resultado de compras de R$ 103,893 bilhões e vendas de R$ 109,741 bilhões. Com isso, o saldo de capital estrangeiro na Bolsa em 2018 segue negativo em R$ 9,860 bilhões.
Nehme afirma que, mesmo com fluxo positivo, há demanda por dólar à vista por parte das tesourarias de bancos e a realização de leilões de linha pode estabelecer um limite de alta para o dólar. “Nesses leilões, o BC empresta dólares ao banco por um prazo combinado para devolução futura, que por sua vez vende os recursos estrangeiros para os clientes e capta reais a um custo relativamente barato para aplicar em suas carteiras de empréstimos ao cliente”, explica. “Isso poderia fazer o dólar à vista influenciar também o mercado futuro”, avalia o executivo.
Segundo ele, embora em baixa hoje, o viés do dólar ainda é de alta pelo cenário de incertezas externa e local. Porém, em sua avaliação, ao ofertar linha com recompra, o BC poderia quebrar a visão de que tende a voltar a ocorrer uma explosão na taxa de câmbio rumo novamente aos R$ 4,00 ou além disso.
Fonte: Agência Estado Autor: Silvana Rocha Data de publicação: 25/06/18 |