Incerteza eleitoral continua ditando ritmo da taxa de câmbio, que pode ter impacto na inflação. Analistas, porém, não veem necessidade, neste momento, de o Banco Central intervir no mercado. Bolsa sobe com perspectiva favorável para juros nos EUA.
No sexto dia consecutivo de alta, o dólar fechou cotado a R$ 4,054, com elevação de 0,45%. De acordo com a corretora Mirae, entre 17 moedas, o real foi a que mais se desvalorizou nesta semana, com recuo de 2,22% em relação à divisa norte-americana. Na visão de analistas, o quadro continua refletindo a insegurança dos investidores diante da corrida eleitoral, já que as pesquisas não mostram melhora decisiva para o candidato reformista Geraldo Alckmin (PSDB), que reúne as preferências do mercado, nem afastam a possibilidade de vitória de um concorrente de esquerda. Apesar do avanço do câmbio, o Banco Central (BC), até agora, não anunciou medidas para conter a volatilidade, como leilões de swaps cambiais — operações equivalentes à venda futura de dólares.
Boa parte dos analistas não vê necessidade de interferência, mas afirma que é preciso mais transparência do BC. O economista e diretor da NGO Corretora, Sidnei Nehme, disse que o país tem reservas cambiais robustas de US$ 380 bilhões e, portanto, não há motivos para “pânico ou algo assemelhado”. “Mas, com a tensão em torno das perspectivas eleitorais, a emoção se sobrepõe à razão e enseja movimento de apreciação da moeda norte-americana”, disse. “O BC precisa sair do silêncio e informar que o país não tem risco de crise cambial”, acrescentou.
Na visão de Álvaro Bandeira, economista-chefe do Modal Mais, ainda não é o momento de o BC intervir no mercado. “Acho que dá para esperar. Da mesma forma que a moeda subiu em resposta às pesquisas, pode cair um pouco nos próximos dias. Vamos ver para onde vai sinalizar”, disse.
“Não dá para evitar a volatilidade ou a alta da taxa de câmbio quando há maior percepção de risco. E, no cenário atual, o dólar está em trajetória de alta”, observou. De acordo com Bandeira, a valorização do dólar, principalmente em mercados emergentes, é fruto da economia dos EUA. “A economia dos Estados Unidos cresce, e a autoridade monetária está elevando juros”, afirmou Bandeira. A elevação das taxas nos EUA atrai recursos aplicados em países em desenvolvimento, como o Brasil, provocando desvalorização das moedas locais.
Ontem, porém, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizou que pode ir mais devagar com a alta dos juros. Em comunicado, o órgão afirmou que tensões comerciais envolvendo os EUA podem ter “forte” impacto na economia do país, o que desaconselha novas elevações das taxas neste momento. Com isso, investidores se encorajaram a fazer aplicações de maior risco. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores São Paulo (B3), subiu 2,29%, a maior alta diária desde fevereiro, alcançando 76.902 pontos.
Expectativas
No Brasil, o temor é que uma alta acentuada do dólar tenha impacto na inflação, ampliando as chances de uma possível elevação de juros ainda em 2018. Esse, porém, não é o cenário vislumbrado pelo economista Renan Silva, diretor da Bluemetrix. “É pouco provável que o Banco Central anuncie alta de juros neste ano, porque a atividade econômica está muito combalida e não há espaço para avanço do consumo”, disse. “O caminho (para segurar o dolar) é ofertar swaps cambiais.”
“As expectativas estão em linha. Por enquanto, não há indicadores que mostrem avanço maior da inflação, pelo contrário, ela está caindo, após o impacto da greve dos caminhoneiros. Por isso, deve ficar abaixo da meta, de 4,5%”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira. A projeção dominante no mercado é de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine o ano em 4,15%.
Fonte: Correio Braziliense Autor: Hamilton Ferrari e Gabriel Ponte Link: correiobraziliense.com.br/…/especialistas-avaliam-que-o-bc-nao-precisa-intervir-para-segurar-o-dol Data de publicação: 23/08/18 |