O ingresso líquido de US$ 13,075 bilhões em fluxo cambial no País nas quatro primeiras semanas de abril, até o dia 27, injetou liquidez no mercado à vista de câmbio ao mesmo tempo em que apoiou parte do aumento das operações de hedge cambial no mercado futuro de dólar no mês passado, que tiveram consequência direta na formação e alta do dólar spot de cerca de 6% no período, para o patamar de R$ 3,50 no último dia 30. Por causa desse saldo favorável de entrada de recursos estrangeiros no País, seja pela via comercial seja pela financeira, é que o Banco Central pode ter decidido atuar apenas no mercado futuro, por enquanto, via leilão de swap cambial com oferta adicional de US$ 3 bilhões além do vencimento de US$ 5,6 bilhões em 1º de junho. Operadores e especialistas do mercado de câmbio afirmam, no entanto, que muito em breve poderá ser necessário intervir também no mercado à vista e que a opção do BC, neste caso, tende a ser via leilão de linha com recompra em vez de oferta de moeda em espécie das reservas do País.
“O BC entra com oferta nova de swap cambial no mercado futuro e, ao mesmo tempo não renova o vencimento de linha com recompra de US$ 2 bilhões em 3 de maio, porque enxerga uma demanda maior por dólar no mercado futuro e não por moeda em espécie, por enquanto, graças ao fluxo cambial positivo recente”, diz o economista Sidnei Nehme, sócio-diretor da corretora NGO.
No entanto, ele calcula que o BC não deve conseguir reverter a tendência de alta do dólar diante das expectativas de elevação dos juros nos Estados Unidos, mas pode conter a intensidade da depreciação do real num ambiente de incerteza eleitoral para a Presidência do País.
“O dólar acima de R$ 3,50 impacta a inflação, por isso, o BC tem que tentar contê-lo para evitar que um exagero comprometa a condução da política monetária .”O viés de alta é consistente até agora com a valorização externa da moeda americana, mas haverá ainda demanda de investidores estrangeiros para saídas do País, principalmente se o cenário eleitoral não evoluir a contento dos investidores e por causa também da insegurança jurídica e do risco fiscal do País”, avalia o economista.
O movimento fly to quality rumo aos Estados Unidos deve se intensificar aqui e em outros mercados emergentes à medida que os próximos indicadores americanos – incluindo o relatório de emprego (payroll) hoje – confirmem uma retomada consistente da economia capaz de sustentar a inflação bem perto ou na meta do Federal Reserve, que é de 2% ao ano, e uma alta maior dos juros, afirma o diretor da corretora Mirae Pablo Spyer. Além disso, o imbróglio eleitoral interno e a crise econômica e cambial na Argentina também acendem uma luz amarela sobre a região, induzindo saídas de investidores estrangeiros desses mercados e sustentando o dólar acima dos R$ 3,50.
“O mercado continua chamando o BC para o jogo, porque com a previsão de alta dos juros em junho nos Estados Unidos e de outras duas possivelmente em setembro e dezembro a pressão de demanda à vista deve crescer, exigindo uma ação também no mercado à vista”, diz Jefferson Rugik, diretor da Correparti.
O operador de câmbio e de derivativos do Banco Paulista Alberto Felix de Oliveira Neto avalia que, num primeiro momento, a oferta adicional de swap cambial ajuda a conter a alta ante o real. Porém, na conjuntura geral das moedas, com perspectiva de valorização crescente do dólar, só a atuação do BC em si com swap agora já dá uma segurada, mas não reverte a tendência de valorização do dólar que vem do exterior.
“Ameniza o ajuste recente, mas não a pressão compradora, que pode aumentar diante do cenário político difícil e da menor atratividade do carry trade com o real, por causa da queda do diferencial de juros interno e externo. A atratividade do País como destino para carry trade diminuiu e isso impacta a oferta no mercado à vista e o BC poderá precisar agir também no spot”, concorda.
“Mesmo com a intervenção do BC, no médio prazo não há sinais de mudanças nessa pressão para o Brasil devido às incertezas eleitorais e paralisia nas necessárias reformas para combater a explosiva crise fiscal”, acrescenta Leandro Ruschel, diretor da escola de investimentos internacionais Liberta Global, do Grupo L&S. “Apenas a liderança de um candidato pró-mercado aplacaria o componente interno da alta do dólar”, conclui.
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Fonte: Agência Estado – AE News Autor: Silvana Rocha Data de publicação: 04/05/2018 |