Dólar sobe afetado por China e tensão política e retoma linha R$ 3,51

dólar comercial encerrou o pregão em alta, retomando a linha de R$ 3,51 com a formação de preço dividida entre a movimentação externa e a cena política local. No mercado externo o dólar ganha do euro e outras moedas de commodities. As movimentações na China também seguem no radar, após inusitada entrevista do vice-presidente do Banco Central da China (PBoC, na sigla em inglês), Yi Gang, que falou não vê espaço paramais desvalorização da moeda chinesa e negou que o país tenha feito tal movimento para estimular asexportações do país.

Segundo o oficial, a formação de preço está mais orientada pelo mercado no que ele chamou de “regime de
flutuação administrada”. Yi também falou que o PBoC parou com as intervenções regulares no mercado e que só atuará durante “choques externos”.

O dólar comercial terminou o pregão em alta de 1,12%, a R$ 3,5131, maior cotação em uma semana, depois de
fazer máxima a R$ 3,5285 (alta de 1,57%). Na semana, o dólar tem leve alta de 0,17%, sobe 2,59% no mês e avança 32% no acumulado do ano. No mercado futuro, o dólar para setembro subia 0,97%, a R$ 3,5375.

Segundo o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, nas últimas semanas a questão política foi colocada como se fosse o grande impasse da vida nacional, mas isso apenas acoberta a gravidade da conjuntura macroeconomia atual, que continua sendo de baixo crescimento, inflação elevada, e desarranjo fiscal.

Na avaliação de Nehme, o pacto entre Dilma Rousseff e Renan Calheiros para criar um diálogo com o Senado, assim como as 27 medidas econômicas propostas pelo senador são muita “espuma” e pouca realidade. “Tem muito discurso, mas na prática os resultados vão ficar distantes do pretendido”, disse.

De fato, o quadro econômico só dá sinais de agravamento, conforme os Estados Unidos ruma para uma elevação da taxa de juros e o Brasil mostra indicadores cada vez mais distantes do grau de investimento. O CDS do Brasil, espécie de seguro contra calote, está acima dos 300 pontos, enquanto o México, por exemplo está na casa dos 140 pontos e Colômbia nos 200 pontos.

“Temos um contexto interno que tende a ficar pior e um ambiente externo que piora contra a gente. Isso naturalmente vai impactar nos fluxos de capitais e até intensificar a saída de recursos do país”, disse, lembrando que os investidores não esperam a perda do grau de investimento para tirar seus recursos daqui. “Tudo isso fica isso escondido embaixo do problema político que não é maior que o problema econômico.”

Além disso, diz Nehme, tem agora a questão chinesa, que pode ter reflexos por aqui conforme o país venha
desacelerar a compra de commodities em função de um menor ritmo de crescimento. A reforma do mercado de
câmbio, diz o especialista, está tecnicamente correta, com a formação mais orientada pelo mercado, depois de o país queimar mais de US$ 350 bilhões em reservas em 12 meses tentando defender um câmbio artificialmente apreciado.

De acordo com Nehme, o mercado percebe a piora dos fundamentos e impõe valorização do dólar. Dentro desse ambiente, diz, a demanda dos investidores não é por proteção de preço, mas sim por moeda efetiva para saída do país. “Não adianta dizer que as reservas internacionais são intocáveis”, disse, lembrando que as opções como leilão de linha, termo e mesmo swaps consomem as reservas, que servem de lastro para essas operações.

Nehme aponta que ainda há um grande volume de importações em aberto e que isso pode acabar consumindo o fluxo cambial que está positivo no ano em cerca de US$ 8,1 bilhões.


Fonte: Valor Econômico
Autor: Eduardo Campos/Valor
Link: http://goo.gl/bsgwsh
Data de publicação: 13/08/2015

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