Analistas avaliam que existe caráter especulativo no movimento de alta expressivo da moeda americana; Bolsa fecha nos 117 mil pontos
O dólar comercial começou o dia cotado a R$ 4,09, mas encerrou a sessão com valorização de 1,18% valendo R$ 4,14 na venda, destoando do comportamento da moeda no mercado internacional. O dollar spot, índice da Bloomberg que acompanha o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, tinha queda de 0,01% no fechamento dos negócios no Brasil. Analistas avaliam que não há motivos concretos para essa alta tão expressiva e que existe um caráter especulativo nesse movimento. Com a desvalorização de hoje, a moeda brasileira teve o pior desempenho frente ao dólar entre os países emergentes exportadores de commodities.
No mercado acionário, o Ibovespa (índice de referência da B3), subiu 1,58%, aos 117.325 pontos. Nesta semana, as expectativas estão voltadas para a próxima quarta-feira (dia 15), quando China e Estados Unidos devem assinar o acordo “fase 1” sobre a guerra comercial.
A aceleração do dólar é vista pelos especialistas mais como especulação do que uma resposta a acontecimentos políticos ou econômicos. A agenda doméstica segue esvaziada, e no exterior, as manifestações populares contra o governo iraniano não impactam de forma intensa nos mercados. Além disso, China e EUA caminham para a assinatura da primeira fase do acordo comercial, reduzindo as tensões.
— O que observamos no câmbio é um movimento especulativo. Não há indicadores fortes no exterior ou no Brasil nesta segunda, e a expectativa de acordo comercial é positiva, tanto que a Bolsa sobe. A questão do câmbio apreciado está descolada do noticiário — indica Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora.
A desvalorização do real também não tem relação com aumento da percepção de risco do país, segundo os analistas. O CDS (credit default swap), um espécie de seguro contra calote do país, com prazo de 5 anos operava em 100 pontos, alta de um ponto em relação à sexta-feira.
O economista-chefe do banco digital modalmais, Álvaro Bandeira, avalia que o movimento da moeda americana não destoa das estimativas de câmbio para este ano. O analistas projetam que o dólar vai encerrar o ano na faixa entre R$ 4,05 e R$ 4,10. O Boletim Focus do Banco Central (BC), porém, estima que a cotação será menor. Nesta semana, a projeção do Focus para o câmbio de 2020 foi revisada para baixo, indicando que a moeda americana encerrar o ano a R$ 4,04.
Os analistas também ponderam que o resultado da produção industrial de novembro, que recuou 1,2% enquanto o mercado projetava queda de 0,7%, influencia na aceleração do dólar nesta sessão.
— Os investidores estrangeiros seguem repercutindo o resultado da Produção Industrial de novembro, que veio bem abaixo do esperado. Eles aguardam sinais mais concretos de melhora da economia para colocar recursos no país — diz Flávio Byron, sócio da Guelt Investimentos.
O boletim Focus desta semana também revisou para baixo as projeções para Produção Industrial. Agora, a estimativa é que o indicador feche o ano com alta de 2,1%. Semana passada, estava em 2,19%.
A proximidade com a assinatura do acordo China-EUA fez com que o índice de blue-chips chinês fechasse na máxima de dois anos nesta segunda-feira, em meio ao fortalecimento das ações de tecnologia. O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, subiu 0,98% e fechou no nível mais alto desde fevereiro de 2018.
Destaques da Bolsa
– A Bolsa subiu embalada pela cena externa, especialmente a proximidade da assinatura do acordo comercial entre China e EUA. Além disso, foram seis pregões consecutivos de queda e hoje houve uma correção. As varejistas tiveram alta expressiva porque o mercado já se antecipa a uma nova queda da selic em fevereiro – disse Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.
Fonte: O Globo Autor: Gabriel Martins Link: oglobo.globo.com/dolar-destoa-do-mercado-internacional-sobe Data de publicação: 13/01/2020 |