Moeda norte-americana fechou em R$ 3,81, mesmo após atuação do Banco Central para frear avanço.
Apesar de o Banco Central (BC) ter ampliado com força sua atuação, o dólar saltou e fechou o dia de ontem no patamar de R$ 3,81, o maior em mais de dois anos, em meio à piora da avaliação dos investidores sobre a cena política local e com o exterior pesando sobre os ativos.
O dólar avançou 1,78%, a R$ 3,8100 na venda, maior nível desde 2 de março de 2016 (R$ 3,8877). Na máxima do dia, a moeda norte-americana chegou a R$ 3,8163. O dólar futuro tinha alta de cerca de 1,65% no fim do dia.
“As perspectivas são muito ruins. A crise fiscal é séria”, afirmou o economista e sócio da NGO Corretora, Sidnei Nehme. “A economia não anda, nem vai andar, porque empresários não vão investir com esse elevado grau de incerteza. Todo o cenário ficou ruim”, acrescentou ele.
A moeda norte-americana operava com elevação desde a abertura dos negócios, influenciada pelo cenário político local, a poucos meses das eleições presidenciais, e pelo movimento no exterior, que ganhou força após dados mais robustos sobre a economia norte-americana.
A atividade do setor de serviços dos Estados Unidos acelerou em maio, indicando crescimento econômico robusto no segundo trimestre, enquanto outros dados mostraram que a abertura de vagas de trabalho atingiu máxima recorde em abril.
Outros indicadores fortes de emprego dos Estados Unidos divulgados recentemente já haviam reavivado apostas de que o Federal Reserve, banco central do país, pode aumentar a taxa de juros mais três vezes este ano. As expectativas do mercado, por enquanto, são de mais dois aumentos até dezembro.
Juros elevados têm potencial para atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados hoje em outros mercados, como o brasileiro. Com isso, o dólar disparou no mercado brasileiro também, desencadeando um movimento conhecido como stop loss, quando os investidores desfazem suas posições rapidamente diante de sinais que consideram mais negativos. Segundo o diretor de operações da Mirae Asset, Pablo Spyer, não houve saída de recursos do mercado, apenas esse movimento técnico.
Intervenção – Assim, o BC brasileiro decidiu entrar mais pesado e anunciou novo leilão de até 30 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares, na sessão. Vendeu 16.210 contratos e, em seguida, anunciou outro leilão, do qual também não vendeu a oferta integral, mas apenas 6.110 do total de 13.790 swaps restantes.
Logo após essa intervenção mais forte do BC, o dólar chegou a bater R$ 3,7581 na mínima do dia, mas as apreensões voltaram ao mercado em seguida.
A autoridade monetária já havia feito o leilão esperado de novos swaps no pregão e vendeu a oferta integral de até 15 mil contratos, injetando o equivalente a US$ 3,366 bilhões no mercado neste mês, incluindo todos os leilões de novos contratos. E também vendeu integralmente a oferta de até 8.800 swaps para rolagem, já somando US$ 1,320 bilhão do total de US$ 8,762 bilhões que vence em julho. Se mantiver esse volume até o final do mês, rolará integralmente o volume.
“O mercado não está tão interessado em swaps”, avaliou o operador de câmbio da corretora H.Commcor, Cleber Alessie Machado. “Fica a percepção que está querendo outra forma de intervenção e pode ser o leilão de linha, que supre a demanda no mercado à vista”, acrescentou ele, referindo-se aos leilões do BC de venda de dólares com compromisso de recompra.
Eleições – A alta do dólar na sessão também foi influenciada pela cena política local, após a divulgação da pesquisa de intenção de votos do DataPoder360, que mostrou o candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) na segunda posição, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com Geraldo Alckmin (PSDB), visto pelo mercado como candidato com perfil reformista, sem decolar.
Além disso, a pesquisa mostrou o ex-prefeito de São Paulo João Doria, também do PSDB, como um dos possíveis candidatos, mas também sem força. “A questão é que o candidato de esquerda tem se mostrado mais competitivo do que um candidato pró-mercado”, afirmou o gestor de derivativos de uma corretora local.
Os investidores ainda continuaram cautelosos com os desdobramentos da greve dos caminhoneiros, que afetou o abastecimento do País nas últimas semanas. O governo acabou cedendo na maioria das reivindicações da categoria para baixar os preços do diesel, gerando uma conta bilionária que impactará os cofres públicos, prejudicando o ajuste fiscal.
Agora, o governo trabalha para mudar a periodicidade dos reajustes de preços da gasolina sem modificar a política de preços da Petrobras.
Fonte: Diário do Comércio Autor: Reuters Link: http://diariodocomercio.com.br/noticia Data de publicação: 06/06/18 |