Nada vai acontecer de grandioso, atendeu os anseios do mercado financeiro, dos quais pode até se levantar dúvidas quanto a efetividade, afirma Sidnei Nehme
SÃO PAULO – A atuação do Banco Central foi amplamente contestada nos últimos anos pela ampla maioria dos economistas. No final do primeiro mandato do governo Dilma Rousseff, a contestação foi ainda maior, alegando que a então presidente interviu na autoridade monetária para que os juros fossem abaixados na “marra” de forma a estimular o crescimento. Isso fez com que a inflação avançasse – e os juros tivessem que subir ainda mais.
Com o impeachment de Dilma, Michel Temer foi alçado ao poder e levou o economista Ilan Goldfajn ao BC, já mostrando de imediato uma postura bastante dura para o cumprimento das metas de inflação. Uma prova disso foi o resultado da terceira reunião de Goldfajn no comando do Copom (Comitê de Política Monetária). O mercado já passava a considerar com uma alta probabilidade um corte de 0,5 ponto percentual na Selic, mas o Copom cortou a taxa básica em 0,25 p.p., para 14% ao ano, e sinalizou que o ajuste pode ser ainda mais gradual do que se pensava.
Porém, quem pensava que essa atitude “hawkish” do BC levasse a uma visão positiva sobre a autoridade monetária, enganou-se. Muitas críticas sobre a atuação do BC no último Copom conquistaram destaque no mercado.
Em relatório, o economista e diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, afirmou que o BC adotou uma medida política, “jogando para a plateia”.
“O Copom adotou uma medida puramente política e deu um sinal agradando mais o mercado financeiro do que o setor produtivo. Nada vai acontecer de grandioso, atendeu os anseios do mercado financeiro, dos quais pode até se levantar dúvidas quanto a efetividade”, afirma Nehme.
Segundo o economista, a economia não responderá à iniciativa do BC, após a atividade confirmar sua inércia com a projeção do BC do nível de atividade em agosto, a mais negativa nos últimos 15 meses, com queda de 0,91% em agosto.
“Este quadro nefasto que continua contraindo a inflação, suportando o desemprego quase irreversível, queda do consumo e a indefinição quanto à politica fiscal, que desta forma não apresenta sinais de recuperação”, avalia. Para ele, a inércia da atividade econômica perdura e em termos efetivos e é esta retração resistente que provoca a contenção da inflação e não a taxa de juro, “absolutamente inócua no ambiente atual”.
Uma crítica similar foi feita pelo economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor estrategista da Quest Investimentos, em entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo divulgada nesta quinta-feira. Segundo ele, o BC foi “covarde” ao cortar os juros em apenas 0,25 p.p. quando poderia cortar em 0,5 p.p. porque teme o julgamento dos analistas financeiros. “Prevaleceu o medo das críticas dos radicais do mercado financeiro”, diz ele. Para Mendonça de Barros, os sinais são inequívocos de que a recuperação está sendo travada justamente pelos juros.
“O sinal claro é que a economia tentou melhorar um pouquinho e capotou sob os peso dos juros”, afirmou.
Para ele, foi uma decisão covarde por três pontos: “primeiro, porque a desinflação está surpreendendo todo mundo, quer seja por razões estruturais da recessão ou por causa de reduções de preços, como o da energia elétrica. Se você fizer uma média móvel dos três últimos meses, a inflação está correndo a 4%. Mas fica todo mundo olhando 12 meses, aí vai mesmo demorar para aparecer a queda. Segundo, a gente está vendo a desaceleração de toda a atividade, dos serviços, do comércio, da indústria. A economia está pedindo um refresco mais rápido dos juros. Terceiro, é um desrespeito com o esforço do Temer”, aponta, ao citar o esforço para a aprovação da PEC 241, referente ao teto de gastos.
Fonte: InfoMoney |