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Cenário-1: DI precifica aperto em setembro e dólar sobe no pós-Copom

A manutenção da Selic ontem em 6,50% ao ano, contrariando as expectativas majoritárias de corte para 6,25%, estimulou uma reprecificação no mercado futuro de juros. Os investidores ampliam as apostas de início do próximo ciclo, de aperto monetário, em setembro. Tanto pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) quanto pela dinâmica do câmbio. E essas chances se tornaram majoritárias. Ao fim da manhã, as apostas de uma elevação da taxa básica no nono mês deste ano embutidas nos contratos de curto prazo – em alta – somavam 60%, de 45% na véspera. Esse movimento embute a leitura, nas mesas de operação, de que a Selic pode não permanecer na mínima histórica por período prolongado, a despeito das considerações de economistas, segundo os quais um ajuste para cima no juro básico deva ficar para 2019. Até porque, de acordo com alguns analistas, o impacto do câmbio na inflação poderia ainda ser insuficiente para pressionar o IPCA, que segue abaixo da meta nas projeções do mercado. O dólar, contudo, não dá trégua. Embora a manutenção da Selic tenha induzido uma correção em baixa nos primeiros negócios do dia, a moeda voltou a subir, superando R$ 3,70 no futuro de junho. Fatores internos fazem com que a desvalorização do real esteja acima da de outras moedas emergentes e ligadas a commodities, segundo profissionais. E o avanço do yield da T-note de 10 anos acima de 3,10% ajuda a dar suporte à cotação. Na Bolsa, o fato de o Copom ter citado o cenário externo mais desafiador em seu comunicado, além da perspectiva de alta de juros neste ano, reduz o apetite dos investidores e o Ibovespa cede, rondando os 85 mil pontos. Nem mesmo o avanço do petróleo, que exerceu influência de alta nas bolsas de Nova York em meio a balanços e notícias corporativas, ajudou as ações locais. O volume negociado é forte. No exterior, os dados dos Estados Unidos ficaram em segundo plano e questões geopolíticas seguem no radar.

Câmbio

O dólar ante o real retomou a tendência de alta e atingiu R$ 3,7010 (+0,56%) na máxima do contrato futuro de junho, que puxou junto o dólar à vista até R$ 3,6969 (+0,58%), após a abertura em queda. O enfraquecimento dos preços no começo da sessão foi pontual em meio aos ajustes de posições decorrentes da manutenção surpresa da taxa Selic em 6,50% ontem, na contramão das apostas majoritárias do mercado de queda para 6,25%. Segundo diretores e operadores de instituições financeiras que operam câmbio, a inversão de sinal da moeda americana para o lado positivo reflete em parte saídas de investidores estrangeiros da Bolsa rumo ao dólar e o exterior e também a continuidade do movimento de contratação de hedge cambial no mercado futuro diante da escalada persistente dos juros dos Treasuries americanos e do desconforto dos investidores com cenário fiscal, econômico e eleitoral interno. Os especialistas acreditam que o BC precisará agir com mais vigor no câmbio.

O gerente de câmbio da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, disse que o dólar reflete uma aversão ao risco mundial e aqui entra em fase de valorização superior a 10% nos últimos 45 dias porque também há enormes problemas locais.

“Estamos em momento crítico, em ano eleitoral após uma reforma política meia-boca, um quadro fiscal desastroso sem reforma da Previdência e Tributária. Nesse contexto, os investidores temem que o próximo presidente não tenha comprometimento com as reformas”, comenta Galhardo. “Há grande preocupação porque até o candidato pró-mercado, o ex-governador Geraldo Alckmin, além de não decolar nas pesquisas, está envolvido em denúncias e é investigado sobre pedaladas fiscais no governo Paulista”, afirma.

Por conta desse cenário e do dólar forte lá fora, as entradas do Banco Central no mercado de câmbio estão tendo efeito pífio. Para o gerente da Treviso, o BC deve estar esperando o dólar chegar a uma taxa de R$ 3,70 no mercado à vista para atuar com mais vigor no câmbio, com ofertas novas adicionais de swap cambial.

Em entrevista ao vivo ao Broadcast, o sócio da Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) Luiz Fernando Figueiredo concorda que o BC terá de ser mais agressivo no mercado cambial, se o dólar seguir subindo. Para Figueiredo, daqui para a frente, o mercado deve ficar mais cuidadoso com o comunicação do BC após o Copom de ontem.

“Se o Copom tivesse reduzido a Selic, como era esperado no mercado, a alta do dólar ante o real seria mais intensa, porque o hedge cambial no país ficaria ainda mais barato num ambiente de alta do juro americano”, avalia o economista e sócio-diretor da corretora NGO Sidnei Nehme. Contudo, segundo ele, a manutenção da Selic não altera o viés de alta ante o real, sustentado pelos fatores externos presentes e por razões locais, diz. Nehme prevê que o fluxo líquido de saída de estrangeiros do País, que já está negativo em US$ 2,404 bilhões em maio até o dia 11, deve se acentuar.

O economista diz que a desvalorização recente acumulada pelo real (ao redor de 11% desde 20 de março) supera a média de perda de outras moedas emergentes ligadas a commodities em relação ao dólar, como por exemplo o peso chileno e o peso mexicano. “Isso quer dizer que, além de precificar o dólar forte no exterior, a nossa taxa de câmbio já é afetada também pelas incertezas internas, como a situação fiscal crítica das contas públicas, o cenário eleitoral para presidente nebuloso, a economia patinando (IBC-BR mostrou isso ontem), o desemprego historicamente alto e a falta de perspectivas de reformas. “Todos esses fatores já são precificados parcialmente, mas a tendência é de o dólar subir mais. Por isso, a desvalorização do real está acima da de outras moedas emergentes e ligadas a commodities, comenta.

O IBGE informou hoje que o contingente de pessoas desempregadas há mais de dois anos representa 22% do total da população desocupada no primeiro trimestre, que chegou a 13,7 milhões de pessoas. Na comparação com os três primeiros meses de 2017, houve crescimento de 4,8% no total de pessoas desempregadas há mais de dois anos. Só em São Paulo, 257 mil pessoas perderam emprego com carteira assinada no setor privado no primeiro trimestre deste ano, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados hoje. O IBGE informou que a taxa de desocupação no Estado de São Paulo subiu de 12,7% no quarto trimestre de 2017 para 14,0% no primeiro trimestre deste ano.

O diretor da Correparti Jefferson Rugik diz que o dólar é impulsionado por saídas de investidor estrangeiro do Brasil e continuidade da busca por hedge (proteção) no mercado futuro. “O investidor sai da bolsa e vai para os juros americanos, e mesmo com a manutenção da Selic, tem investidor de renda fixa indo para os T-Notes de 10 anos hoje”, afirma.

As apostas firmes em mais três altas de juros nos Estados Unidos neste ano voltaram a ser amparadas por indicadores positivo do país divulgados durante a manhã. Com isso, o juro da T-Note 10 anos, por exemplo, oscilou de 3,0863% a 3,11870% até 12h15.

Antes da abertura dos mercados, o operador da corretora H.Commcor Cleber Alessie Machado Neto disse ao Broadcast que o dólar poderia recuar nos primeiros negócios em ajuste ao Copom, mas isso não significaria um movimento firme de interrupção da sequência de altas seguidas nas últimas quatro sessões. “Mesmo com o exterior majoritariamente negativo para moedas emergentes, o real pode se valorizar e dólar cair no começo da sessão, em meio aos ajustes de carteiras pós Copom paralelamente à correção na curva de juros curtos, com o DI para janeiro 2019 possivelmente subindo”, disse Machado Neto no início do dia.

No mercado à vista, às 12h28, o dólar subia 0,48%, aos R$ 3,6930. No período, a mínima foi de R$ 3,6544 (-0,57%). O giro financeiro registrado somava cerca de US$ 169,6 milhões.

O dólar futuro de junho estava em alta de 0,45%, aos R$ 3,6970. No período, a mínima foi de R$ 3,6530 (-0,75%). O giro total movimentado somava cerca de US$ 13,083 bilhões, superior ao de ontem no mesmo horário (US$ 10,8 bi).

Nos dois leilões de swap cambial realizados mais cedo, o BC vendeu os lotes integrais ofertados, totalizando cerca de US$ 461,2 milhões.


ngo na midia agencia estado Fonte: AE News
Autor: Silvana Rocha
Data de publicação: 17/05/18

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