Banco Central resiste a ofertar leilões de linha ao mercado e dólar avança

Na avaliação de profissionais que atuam no segmento de moedas, custo para se proteger da alta ou da baixa diminuiu significativamente até abril, mas incerteza sobre os juros futuros preocupa.

O Banco Central do Brasil está resistindo a ofertar às instituições financeiras leilões de linha de dólares compromisso de recompra e segue sua estratégia de disponibilizar derivativos (swaps cambiais).

Ontem, o BC vendeu integralmente seus lotes de swaps cambiais, e o valor do dólar à vista que havia escalado ao patamar de R$ 3,85 pela manhã, acomodou-se um pouco e encerrou a sessão em R$ 3,8377 no balcão, ainda assim, uma elevação de 0,72% em relação ao fechamento da terça-feira.

Na avaliação de profissionais consultados pelo DCI, há duas possíveis explicações para esse movimento recente: o mercado está demandando dólar físico para atender a saída de capital financeiro estrangeiro do País neste momento de incertezas políticas e fiscais; ou são indícios de especulação sobre o real brasileiro.

“As empresas brasileiras com dívidas em dólares estão bem protegidas em swaps desde abril; o que existe é algum movimento especulativo sobre o real”, identifica o diretor da corretora NGO, Sidnei Moura Nehme. Para o superintendente de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes da Silva, a possibilidade de especulação está no radar.

“Na terça-feira, o BC fez leilões de swaps [derivativos cambiais] e o mercado não tomou, sobrou swap, e o dólar continuou subindo.

O mercado quer liquidez, não quer hedge [proteção], mas moeda física”, observou Silva. Na opinião do professor do Laboratório de Finanças (Labfin) da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alexandre Cabral, o BC já devia ter ofertado dólares há pelo menos três semanas. “Com o leilão de linha, acaba a especulação.

O mundo não está acabando para o dólar subir nessa intensidade. Não temos fluxo [volume] no spot [mercado à vista] que justifique essa coisa desesperadora no mercado futuro”, argumenta Alexandre Cabral.

Nehme lembra que o Banco Central possui US$ 380 bilhões em reservas e que o nosso mercado financeiro é “bastante sofisticado” com diferentes instrumentos para enfrentar qualquer tipo de movimento especulativo. “Não temos nenhum risco de crise cambial como a Argentina, Venezuela ou Turquia”, exemplificou. Ao mesmo tempo, motivos para uma alta da moeda americana não faltam.

“O quadro fiscal é preocupante. Não existe governo e o Congresso está omisso, e tem todas as incertezas políticas. Não há um candidato a presidente despontando nas pesquisas que represente segurança para o investidor ou para o empresário”, enumerou Silva. Ele completou que a tendência é mesmo de alta do dólar sobretudo por causa do aumento dos juros nos Estados Unidos.

“Os dados são de pujança da economia americana, com crescimento do emprego, o que permite ao FED [Federal Reserve, o BC dos EUA] o ciclo de aperto monetário”, disse. Na mesma linha de pensamento, Nehme conta que os juros dos títulos de 10 anos nos EUA (T-notes) estão pagando rendimento acima de 3% ao ano. “A economia americana voltou a aquecer. E com isso, ocorre o flight to quality [voo para a qualidade], o retorno do fluxo para os Estados Unidos”, contextualiza o diretor.

Em maio, como já informado anteriormente pelo DCI, mais de US$ 5 bilhões deixaram o Brasil pelo canal financeiro. “Esse volume deve dobrar neste mês”, prevê Nehme, citando a saída de estrangeiros da bolsa (B3). Custo da proteção Na visão do gerente de câmbio do Banco Ourinvest, Bruno Foresti, o custo para empresas se protegerem das oscilações do dólar no mercado financeiro diminuiu no Brasil. “O que mais contribuiu para isso foi a queda da taxa básica de juros, a Selic. Quando estava em 14,25% ao ano [em 2016] era impraticável fazer hedge”, diz.

Na média, o custo que estava em torno de 12% ao ano em 2017 recuou para cerca de 3% no início de 2018. Isso permitiu até um aumento de 18% no número de contratos de taxas de câmbio na B3 para 670 mil negociados por dia em abril passado, ante igual mês de 2017. “Em volume, saltou de US$ 2 bilhões para US$ 14 bilhões no mercado futuro”, diz Nehme. “Mas o juro longo está subindo, de 5% a 7%”, alerta.

ngo na midia dci Fonte: DCI
Autor: Ernani Fagundes
Link: dci.com.br/…/banco-central-resiste-a-ofertar-leil-es-de-linha-ao-mercado-e-dolar-avanca
Data de publicação: 07/06/18

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