Cinco meses após retirar o selo de bom pagador do Brasil, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s voltou a cortar a nota de crédito do país. A decisão, que já era esperada por economistas, reforça projeções de que o dólar deverá voltar a subir, com apostas de que a moeda americana poderá até encostar nos R$ 5 ao final do ano.
Economistas já previam que a dificuldade do governo em acertar suas contas, aliada à piora recessão, provocaria enfraquecimento adicional do real. A ação da S&P confirma o cenário.
Ao reduzir o rating de BB+ para BB, a agência avaliou que o processo de ajuste da economia será mais prolongado do que o esperado e que o país não voltará a crescer com a crise política.
A aposta majoritária de economistas ouvidos pelo Banco Central é de que o dólar terminará o ano a R$ 4,38, mas, para Sidnei Nehme, diretor da corretora de câmbio NGO, a moeda americana chegará a R$ 5. A previsão do Itaú Unibanco é de R$ 4,50 e da consultoria MCM, R$ 4,45.
“Tenho falado em R$ 5 desde o começo do ano porque eu vejo problemas no setor externo”, diz Nehme. Para ele, o superavit comercial de US$ 35 bilhões previstos para 2016 não deve ocorrer.
Para João Ribeiro, analista da corretora japonesa Nomura, porém, a recessão está provocando o encolhimento das importações a tal ponto que, só por isso, o dólar pararia de subir no Brasil.
O corte da nota brasileira pela S&P praticamente não mexeu no mercado financeiro. O Ibovespa valorizou-se 1,67%. Mas antes do rebaixamento o índice subia 3,63%.
O dólar terminou o dia em queda e voltou a ficar abaixo dos R$ 4, por influência da alta do petróleo no mercado externo. Na cotação à vista (referência para o mercado financeiro), a moeda americana cedeu 1,82%, a R$ 3,980, enquanto o dólar comercial (usado no comércio exterior) perdeu 1,89%, a R$ 3,994.
“O que pode ter efeito é um rebaixamento da Moody’s, que pode cortar dois degraus do Brasil em uma mesma decisão”, avalia Alexandre Cabral, professor da FIA.
A agência Moody’s é a única que ainda não mudou a nota brasileira desde o início da crise de confiança do governo. Em dezembro, ela colocou o rating em revisão.
As notas de crédito servem para guiar as decisões de investidores. Quando piora a avaliação, aumenta o custo de financiamento das empresas e do governo, que têm que oferecer mais juros para tomar dinheiro emprestado.
Para a S&P, o governo continuará a enfrentar dificuldades na aprovação de políticas fiscais, especialmente durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A agência também considera que há menor compromisso do governo com a meta fiscal neste ano.
O ministro Nelson Barbosa (Fazenda) tem defendido a aprovação de uma banda para a meta de superavit, fixada em 0,5% do PIB. Na prática, indica que o governo está com dificuldades e deverá terminar o ano no vermelho.
Para contornar o problema, o governo vem propondo mudanças para ganhar confiança no longo prazo, como a reforma da Previdência, mas a S&P considera a aprovação pouco provável.
“A reforma da Previdência seria a bala de prata, uma das poucas maneiras de o Brasil recuperar a credibilidade que perdeu depois de muito tempo de corrosão”, diz João Ribeiro. “Mas é difícil imaginar o governo aprovar qualquer tipo de reforma em meio à crise política”.
O avanço do dólar contribui para pressionar a inflação, que está em 10,71% ao ano, acima da meta do BC, o que poderia desestimular um corte dos juros. Para analistas, porém, é a recessão que está na mira da autoridade neste momento. “Um possível corte está sobre a mesa”, afirma Ribeiro.
Fonte: Folha de São Paulo Autor: Mariana Carneiro / Tássia Kastner Link:http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/02/1740556-agencia… Data de publicação: 18/02/2016 |