Termômetro Broad: notas da fazenda renovam queda em agosto em meio a agravamento da crise fiscal
Por AE Broadcast
A exemplo dos últimos meses, as notas médias do mercado sobre a atuação do Ministério da Fazenda continuaram piorando em agosto, mostra o Termômetro Broad. As avaliações do mercado foram realizadas em meio ao aumento do pessimismo sobre a capacidade do governo de continuar avançando no ajuste fiscal, após o envio do projeto orçamentário de 2016 ao Congresso Nacional que prevê um rombo de R$ 30,5 bilhões sem cobertura clara de receitas. A proposta reforçou a sensação de que a perda do grau de investimento do País é uma questão de tempo. Também registraram queda boa parte das notas concedidas ao Banco Central, com melhora apenas na parte da Comunicação. No mês passado, a pesquisa contou com a participação de 54 instituições que responderam ao questionário entre os dias 24 e 31.
As notas da Fazenda mostraram deterioração mais acentuada que as do BC. A nota média geral do Ministério da Fazenda caiu de 4,6 para 4,0 entre julho e agosto. A média da Política Fiscal ficou em 3,4, de 4,1 em julho, e a da Comunicação passou de 4,1 para 3,7. Com isso, as notas renovaram os patamares mais baixos do ano.
Nas notas do BC, a média geral recuou de 5,2 em julho para 5,0 em agosto. A nota para Política Monetária foi para 5,1, de 5,6 em julho. Na contramão, houve melhora na nota para a Comunicação, de 4,5 para 4,8.
Nos últimos dez dias de agosto, uma série de eventos negativos, no Brasil e no exterior, aumentou a aversão ao risco do mercado, levando à disparada do dólar e ao tombo da Bovespa. No front local, o mercado vai colocando nos preços dos ativos a percepção de que o governo está sucumbindo à crise e que o leque de instrumentos da Fazenda para convencer o Congresso sobre a necessidade do aperto fiscal está prestes a se esgotar.
Nesse contexto, cresceu a percepção de que o ministro Joaquim Levy pode até deixar o ministério, dada a sua suposta frustração com o andamento do ajuste macroeconômico e conflito de opiniões em relação ao ministro de Planejamento, Nelson Barbosa. Na semana passada, o governo teria tentado, sem sucesso, emplacar um projeto de recriação da CPMF para garantir receitas em 2016, mas acabou desistindo da ideia diante da pressão contrária do Congresso, empresários e opinião pública.
Depois disso, em razão da arrecadação em queda livre e a resistência para a elevação de impostos, na última segunda-feira (31) o governo confirmou que encaminhou proposta de Orçamento da União de 2016 ao Congresso que prevê déficit de R$ 30,5 bilhões, o que corresponde a 0,5% do PIB. Como a projeção para os governos regionais é de superávit de 0,16% do PIB, na prática o governo trabalha com previsão de déficit de 0,34% para o setor público no ano que vem. O governo classificou a proposta de “realista”.
Ontem (1º), a Fitch Ratings afirmou que “as revisões da meta colocam a tendência do primário bem abaixo do considerado no cenário base”. E o Morgan Stanley já prevê o Brasil sem grau de investimento em seu cenário base para os próximos trimestres.
A avaliação dos economistas é de que 2015 está perdido. Nas contas públicas, o BC informou que o déficit primário em julho chegou a R$ 10 bilhões, o pior para o mês da série histórica, reduzindo ainda mais a possibilidade do cumprimento da meta de superávit primário 0,15% do PIB este ano sem abatimentos.
Na atividade, o resultado do PIB do segundo trimestre, divulgado na sexta-feira (28), provocou revisão do mercado para cenários ainda mais sombrios em 2015. Entre abril e junho, o PIB caiu 1,90% e 2,60% na margem e ante igual trimestre de 2014, mais do que a maioria dos economistas previa. Os números confirmaram que o País entrou tecnicamente em recessão. E o IBGE ainda revisou de -0,2% para -0,7% o resultado do primeiro trimestre na margem. Com isso, já há profissionais esperando recuo de 3% do PIB este ano e o aumento do ceticismo em 2015 contaminou a percepção para 2016, que, na visão do mercado, será um ano também de queda do PIB e contas fiscais no vermelho.
O Banco Central parece estar sob uma pressão menor do que a Fazenda, mas ainda assim os desafios não são poucos. Enquanto a política monetária entrou no modo stand by, na avaliação dos analistas, a disparada do dólar tem forçado a autoridade monetária a agir. A moeda nos últimos dias vem flertando com o patamar de R$ 3,70 dadas as preocupações com a economia da China, as dúvidas sobre o início do aperto monetário nos Estados Unidos e o temor sobre a economia brasileira.
Além de indicar a intenção de manter a estratégia de rolagem de 100% dos contratos de swap cambial que vencem em outubro (US$ 472,5 milhões), o Banco Central, na última sexta-feira (28), anunciou um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) para a segunda-feira passada também no contexto da rolagem. A oferta foi de US$ 2,4 bilhões na operação – justamente o montante que estava programado para ser retirado do sistema no início de setembro. A medida foi bem recebida pelos investidores, ao evitar um estresse ainda maior no câmbio.
Na política monetária, a ata do Copom de julho e declarações de membros do Comitê ao longo do mês consolidaram a ideia de que o ciclo de alta da Selic terminou em julho, mesmo em meio à nova deterioração das projeções de IPCA e à trajetória ascendente do câmbio. Ainda assim, o mercado considera bem maior a possibilidade de que, após alguns meses de estabilidade da taxa nos atuais 14,25%, o próximo ciclo da Selic seja de queda e não de alta. Porém, segundo apurou o Broadcast, o diretor de Assuntos internacionais, Tony Volpon, teria dito a investidores em Nova York, justamente o contrário.
O Termômetro Broad é produzido mensalmente pelos profissionais do AE Dados junto a bancos, corretoras, consultorias, gestoras de recursos, instituições de ensino, departamentos econômicos de empresas e outros com histórico de realização periódica de projeções de indicadores econômicos.
A divulgação dos resultados é feita nos serviços em tempo real do Broadcast na quarta-feira mais próxima do dia 5 de cada mês. Em caso de feriado, a divulgação ocorre no primeiro dia útil subsequente.
São publicados apenas os resultados consolidados da pesquisa. As respostas individuais das instituições ficam em sigilo. A redação da Agência Estado não tem acesso às respostas individuais. O questionário, enviado por e-mail, deve ser respondido uma única vez por instituição, na última semana de cada mês.
Pesquisa Termômetro Broad – Resultado Agosto/15
Divulgado no AE Broadcast no dia 02/09/2015