Dólar não deve ir muito além de R$ 4 mesmo com previdência fraca por causa do BC

“Chance ‘zero’ de chegar à R$ 4,00. Especulação não consegue sustentação. Gradualmente retornará à R$ 3,75 na sequência da tramitação da Reforma da Previdência.”

O dólar ao redor de R$ 3,85 já precifica a possibilidade de aprovação de uma reforma da Previdência desidratada, com economia entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões, afirmam operadores do mercado de câmbio. Se os sinais do Congresso forem no sentido de uma economia ainda menor, a tendência é de a moeda voltar a rondar os R$ 4,00, mas não superar muito isso.

Os agentes de câmbio argumentam que, apesar da frustração em relação à economia pretendida pelo governo de cerca de R$ 1 trilhão em 10 anos, não há espaço para o dólar subir muito além da marca de R$ 4,00 porque o Banco Central costuma intervir para conter a volatilidade excessiva. Afirmam também que a barreira de preço é praticamente determinada pelas reservas internacionais do Banco Central, de cerca de US$ 382,7 bilhões.

É um colchão de liquidez, que garante a solvência do País perante seus credores estrangeiros e permite ao BC atuar no mercado para conter a volatilidade excessiva do dólar, diz o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

A desidratação da reforma da Previdência decorreria da retirada de pontos da proposta original, como as mudanças na aposentadoria rural e nos Benefícios de Prestação Continuada (BPC), além do efeito que a pressão dos servidores, principalmente do Judiciário, poderá ter, sem falar nos militares. No caso do funcionalismo público, o que mais interessa agora é derrubar a alíquota progressiva que eleva a contribuição dos que ganham os salários mais altos.

Não há risco de o dólar descambar rumo a R$ 5,00, avalia André Perfeito, da Necton. Ele observa que, apesar do receio com o elevado déficit fiscal, o crescimento interno baixo e os sinais de desaceleração na China e Europa, o mercado sabe que o BC irá intervir, por meio de leilões de linha de dólares com recompra ou de swap cambial, para segurar o dólar.

O custo de carregamento de posições cambiais também conta. “Fica caro sustentar posição comprada com o dólar perto ou acima de R$ 4,00”, afirma o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora. E se voltar a esse patamar, o BC deve intervir de novo, com leilão de linha ou swap cambial. “Não há dúvida, a nova gestão já mostrou que vai fazer”, acredita.

Na semana passada, o BC interveio duas vezes no câmbio com leilões de linha e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, enfatizou que não há mudança na estratégia. Segundo ele, o câmbio é flutuante e não existe nenhuma ideia de trocar leilões de linha por swaps. “O cupom de câmbio estava com comportamento disfuncional, por isso, entendemos que o leilão de linha era o instrumento adequado e que o timing era adequado”.

A economia com a reforma da Previdência precisaria superar pelo menos US$ 600 bilhões para o mercado sustentar a confiança no País, de que poderá voltar a crescer, avalia Iha. “Se a reforma for aprovada com uma economia abaixo disso, o dólar poderá seguir pressionado e mais perto de R$ 4,00”, estima. Mas sua percepção também é de que o dólar não vai muito além desse valor dada a vigilância do BC e o cenário de desaceleração mundial.

O estrategista da Tullett Prebon Brasil, Vinícius Alves,concorda que uma reforma magra (R$ 500/R$ 600 bilhões) poderia elevar a volatilidade e conduzir o dólar para perto dos R$ 4,00. “Esses montantes representariam alguma reforma e não a reforma.” Ele não descarta ainda que o dólar suba mais, pontualmente até R$ 4,20 arrisca apostar, se o BC não agir antes e o exterior piorar.

Para a economista Camila Abdelmalack, da CM Capital Markets, o mercado já trabalha com a ideia de que a reforma poderá ficar ao redor de R$ 700 bilhões, após as emendas na Comissão Especial. Por isso, ela avalia que o dólar pode oscilar em torno dos níveis atuais, na faixa acima de R$ 3,75 e abaixo dos R$ 3,86/3,85, considerando ainda o fortalecimento do dólar no exterior nas últimas semanas em meio aos dados positivos dos EUA que reduzem temores de desaceleração do país.

Ela, porém, observa que, se começarem a surgir muitos obstáculos e a reforma ficar bem mais fraca, a moeda americana tenderia novamente a uma trajetória rumo aos R$ 4,00, a depender ainda do ambiente lá fora. A volatilidade deve prevalecer nesse período, prevê.

Contudo, Camila enxerga também uma brecha para queda do dólar no curto prazo, em caso de um desfecho positivo das negociações comerciais entre os EUA e a China.

Além disso, se os sinais futuros indicarem para uma economia com a reforma acima de R$ 700 bilhões, ela estima que o dólar poderá vir a cair para perto de R$ 3,70 rumo a patamares próximos dos R$ 3,50. Seu otimismo se deve ao possível retorno do investidor estrangeiro, que saiu do País no fim do ano passado em razão das incertezas sobre a capacidade do novo governo em conseguir apoio para aprovar a Proposta de Emenda à Constituição da Previdência. Para a aprovação da PEC, são necessários, 308 votos na Câmara e 49 (maioria absoluta), no Senado, em dois turnos de votações.


Fonte: Broadcast Estadão
Publicado: 03 de abril de 2019

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