A opção do Copom (Comitê de Política Monetária) nesta quarta-feira (20) de manter inalterada a taxa básica de juros, Selic, elevou as expectativas de inflação para os próximos anos.
Embora parte dos economistas reconheça que há argumentos técnicos para defender a decisão, a avaliação é que, ao mudar repentinamente a rota da política monetária, o Banco Central reduziu a previsibilidade do mercado, prejudicando o combate à alta de preços.
A chamada “inflação implícita”, calculada com base nas taxas de retorno dos títulos da dívida do governo, já mostra a deterioração nas projeções. Os índices passaram a subir na terça-feira (19), após a sinalização do BC de que poderia manter a Selic –passando a priorizar o crescimento econômico.
Títulos com vencimento em um ano, por exemplo, apontavam para inflação de 9,68% nesta quinta (21), ante 9,41% na segunda-feira. A inflação implícita para dois anos, portanto em janeiro de 2018, chegava a 10,66% –era de 9,94% no início da semana. Para três anos, o índice era de 10,33%.
“Nossa dificuldade em interpretar a sinalização do Banco Central torna nossas previsões para a Selic frequentemente frágeis e, assim, sujeitas a muito mais mudanças do que seria razoável esperar no passado”, afirmam analistas do Credit Suisse em nota a seus clientes.
Segundo eles, o processo de sinalização da autoridade monetária não consegue coordenar como antes as expectativas do mercado, dificultando uma redução de preços nos próximos trimestres.
EFEITOS
O aumento da inflação implícita deve se refletir em breve nas estimativas de analistas. Entre cinco economistas consultados pela reportagem, três devem elevar suas perspectivas de inflação nas próximas semanas. Dois consideram que a decisão do Copom não altera o cenário.
Para Leonardo França, economista da Rosenberg Associados, a condução do BC —e não a decisão em si— foi o maior problema, ao “arranhar” a confiança do mercado na autoridade monetária. A Rosenberg projeta atualmente o IPCA (índice oficial) em 8% em 2016 e 5,5% em 2017, com perspectiva de revisão para cima.
Márcio Milan, economista da consultoria Tendências, prevê que a manutenção dos juros pode acelerar a inflação no fim deste ano. Entre os motivos apontados por ele está o efeito do câmbio.
“A taxa tem pressionado a inflação via alimentos. Então, devemos ver nas próximas semanas o mercado elevar sua perspectiva de inflação para 2016”, disse Milan.
DÓLAR
Nesta quinta, o dólar comercial teve valorização de 1,5%, a R$ 4,166, influenciado pela percepção de que houve interferência do governo federal na decisão do BC.
“É inegável que teve um dedo da presidente [Dilma]”, afirmou Sidnei Nehme, especialista em câmbio. Para ele, no entanto, a manutenção dos juros foi acertada.
A cotação do dólar comercial e à vista (R$ 4,147) no fechamento foi a maior taxa nominal desde a criação do Plano Real, em 1994. É preciso considerar, no entanto, que o cenário econômico entre aquele ano e 2015 mudou drasticamente.
Fonte: Folha de São Paulo Autor: Giuliana Vallone – São Paulo e Bruno Villas Bôas – Rio Foto: Silvia Zamboni/Folhapress Link:http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/01/1732250….. Data de publicação: 22/01/2016 |