Há 38 anos, o Brasil não presenciava uma fuga tão massiva de dólares. Em 2019, a retirada superou a entrada em US$ 44,768 bilhões. Os números foram divulgados nesta quarta-feira (8) pelo Banco Central (BC).
Essa é a maior fuga de dólares desde o começo da série histórica, em 1982. Antes disso, a pior fuga havia sido acumulada em 1999, ano em que o governo Fernando Henrique Cardoso abandonou a política de bandas cambiais, fazendo US$ 16,18 bilhões deixarem o país. Não chega nem perto da metade do resultado negativo de 2019. Já o ano mais positivo de entrada de dólares no Brasil foi 2007, com incríveis US$ 87,454 bilhões.
Entrada e saída de dólares
Segundo reportagem do G1, “a entrada de dólares se dá quando investidores enviam dinheiro ao Brasil para pagar por compra de produtos brasileiros ou para realizar aplicações financeiras e investimentos em empresas, por exemplo”.
Já, de acordo com a mesma matéria, “o dólar sai quando esses investidores retiram recursos do Brasil para, normalmente, aplicar em outros países, ou para pagar pelas importações realizadas. Essas operações ocorrem por meio de remessas feitas por bancos contratados por esses investidores”.
Dentro desse cenário, o BC mostra que em 2019 os dólares saíram por contas de operações financeiras. São as que envolvem investimentos estrangeiros diretos, recursos para aplicações financeiras, além das remessas de lucros e dividendos (parcelas dos lucros) e empréstimos tomados no exterior, entre outros.
Esses investidores retiraram US$ 62,244 bilhões da economia brasileira ano passado, por meio de transações financeiras. A B3 divulgou que os investidores estrangeiros retiraram do país R$ 44,5 bilhões em 2019 – o maior volume de toda a série histórica, iniciada em 2004.
Em contrapartida, o resultado da balança comercial (fechamento de câmbio para exportações e importações) apontou o ingresso de US$ 17,475 bilhões no país.
Cotação do dólar
Esse pode ser um dos fatores que reforçou a cotação do dólar frente ao real, fenômeno que se acentuou em 2019. A moeda norte-americana bateu sucessivos recordes de alta, chegando ao pico de R$ 4,25. Entretanto, recuou no fim do ano, fechando o ano com alta de apenas 3,5%.
Mas não só a fuga de divisas pressionou a cotação. Há ainda outros fatores, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China; o cenário político da América do Sul; a articulação política entre os poderes Executivo e Legislativo no Brasil; e a queda da taxa básica de juros (Selic), que diminui as aplicações em renda fixa no Brasil.
Risco
A matéria do G1 ouviu o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora. Pare ele, não há “qualquer risco de crise cambial, o que é uma situação privilegiada no contexto dos emergentes”.
Em comunicado, Nehme avaliou ainda que o “frisson” no mercado financeiro mundial em torno do conflito envolvendo o Irã e os Estados Unidos acaba por “fomentar a crença no pior cenário, que a grande maioria não acredita efetivamente factível”, e que o “Brasil não é uma ilha”.
O Brasil tem uma situação confortável, com US$ 357 bilhões em reservas internacionais. O mercado financeiro prevê que a taxa de câmbio terminará em R$ 4,09 por dólar em 2020, segundo pesquisa conduzida pelo Banco Central na semana passada, com mais de 100 instituições financeiras.
Fonte: Eu Quero Investir Autor: Fernando Augusto Lopes Link: https://www.euqueroinvestir.com/saida-de-dolares-do-brasil-em-2019 Data de publicação: 09/01/2020 |