No vaivém da cotação cambial ao longo da crise econômica, o dólar fechou ontem em alta depois de a agência de classificação de risco Moody’s colocar em xeque a nota de crédito do Brasil, sinalizando com um possível rebaixamento. O dólar comercial (usado nas transações comerciais) encerrou o pregão cotado a R$ 3,80, alta de 1,69%. Com a queda de quase 2% do dia anterior, a moeda norte-americana acumula alta de 1,64% na semana. Ao longo do ano, o dólar subiu 42% ante o real. Já o dólar à vista (referência no mercado financeiro) terminou o dia valendo R$ 3,799, com alta de 1,26% frente ao real.
Além da ameaça da Moody’s, os pronunciamentos do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foram o ponto alto do dia, uma vez que o cenário político acabou em segundo plano para os investidores. Em almoço de fim de ano na Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Tombini disse que o BC “não limitará as suas ações pelos possíveis impactos fiscais de suas decisões”. Tombini reforçou que o BC tem conduzido sua política monetária de forma autônoma e continuará a fazê-lo para trazer a inflação de volta à meta em 2016.
A sinalização de Tombini de que o BC não hesitará em elevar os juros para conduzir a inflação à meta, independentemente de eventuais efeitos no campo fiscal, levaram a uma disparada dos juros, o que acabou influenciando o câmbio. O dólar, que pela manhã chegou a ensaiar rapidamente uma baixa, mas acelerou o ritmo e marcou máximas durante a tarde. No mercado futuro, o dólar para liquidação em janeiro fechou com alta de 1,76%, cotado a R$ 3,837.
A decisão da Moody’s, de colocar em revisão negativa o rating brasileiro azedou o humor do mercado de ações. A Bovespa fechou em queda de 1,04%, aos 45 630,70 pontos, contando com forte contribuição das ações da Petrobras. As ações da empresa foram destaque de queda, influenciadas pelo recuo dos preços do petróleo e também pelo rebaixamento da estatal promovido pela Moody’s. Ao fim dos negócios, Petrobras ON e PN recuaram 2,75% e 2,61%, respectivamente. Na ponta contrária estiveram os papéis da Vale, que subiram 4,88% (ON) e 3,83% (PN), acompanhando seus pares no mercado internacional, mesmo em um dia de nova queda dos preços do minério de ferro.
Fuga de recursos
O economista e diretor-executivo da NGO corretora de câmbio, Sidnei Moura Nehme, afirma que o posicionamento da agência de risco sinaliza o agravamento de um quadro já esperado, principalmente com o déficit primário estabelecido para este ano. “Em caso de downgrade (rebaixamento da nota de crédito), uma série de fundos são obrigados a tirar o dinheiro do país”, afirma Nehme. Além da situação do rating, segundo ele, o possível aumento da taxa de juros dos Estados Unidos até janeiro agravaria a fuga de capital. “Nesse caso, inclusive recursos sem tal obrigação podem migrar também”, afirma. A avaliação é de que o atual patamar do câmbio “está fora do ponto”. “Na realidade deveria estar muito perto de R$ 4, mas, com viés de alta, considero chegar a R$ 5 no ano que vem”.
O analista de investimentos da Whatscall Consultoria, Pedro Galdi, considera que a alta de juros do Federal Reserve (FED) já está computada e, portanto, não tem tanta interferência no câmbio. Mas concorda com a elevação do câmbio em caso de rebaixamento da nota de crédito e também com impeachment. “O dólar e a bolsa vão seguir com muita volatilidade nos próximos três meses, tempo que será definido o aprofundamento do impeachment e o provável rebaixamento do rating”, afirma Galdi.
Perspectiva adversa Anteontem, a Moody’s colocou a nota de crédito do país em revisão para um possível rebaixamento. A agência de risco citou a deterioração da economia e do cenário político. O atual patamar já é o último nível dentro do grau de investimento. Em caso de corte, o país deixará a classificação de grau de investimento, entrando no patamar de grau especulativo, o que ocorre caso duas das três agências enquadrem o Brasil nesta categoria. Em setembro, a Stardard and Poor’s (S&P) já havia confirmado este procedimento.
Tanto a Fitch como a Moody’s estão no último degrau antes do grau especulativo. “O início de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff lança mais dúvidas sobre a perspectiva de cooperação entre o Congresso e a presidente para aprovar medidas significativas de consolidação fiscal em 2016”, disse a agência. Além da nota do país, a agência de classificação de risco Moody’s também colocou em revisão as notas dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Maranhão e dos municípios de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.
Movimento fraco
O volume de dólares negociados no Brasil em novembro foi o segundo mais fraco do ano, perdendo apenas para fevereiro, quando somou US$ 184,1 bilhões. Segundo dados do Banco Central atualizados ontem, o total de transações no país no mês passado com a moeda americana totalizou US$ 202,034 bilhões. Essa quantia circulou no mercado por meio de 558,9 mil operações. Em outubro, a soma foi de US$ 219,3 bilhões em 561,7 mil contratos. No acumulado do ano até novembro, as instituições financeiras comercializaram US$ 2,528 trilhões.
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Fonte: Estado de Minas |