Análise: Sidnei Moura Nehme
O desafio a ser superado pela nova equipe econômica é enorme, havendo agora de forma mais explícita o risco de oposição às medidas reorganizadoras das diretrizes da política econômica, a partir da própria base de sustentação política do governo. A busca do realinhamento envolve um grau de complexidade em que as medidas necessárias acabam por serem conflituosas entre si. Temos tudo de ruim em demasia, com forte risco de agravamento se as ações corretivas não forem implantadas.
Já há a percepção de que a economia está estagnada e com forte tendência à recessão, derretendo o PIB nacional que já se projeta negativo para este ano, o que sugere um 2015 pior do que 2014. Afora isso, o Brasil precisa do preço do dólar justo, compatível com seu “status quo”. Sem isso, como já manifestou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a indústria brasileira, que recuou 3,2% em 2014, não terá possibilidade de se redimir, reconquistando espaço no mercado interno.
O País tem reservas cambiais em torno de US$ 372 bilhões líquidas de US$ 352 bilhões, se abatermos as posições vendidas dos bancos que vem ancorando a necessidade de financiamento externo e agravadas pelo volume em torno de US$ 120 bilhões de swaps cambiais, que não são dólares efetivamente, mas têm aceitabilidade baseada na existência das reservas. O País precisa reter as reservas ao máximo, num ambiente em que o País não desperta atratividade ao capital externo.
O nicho que o País tem para atração de investimentos de forma mais rápida é a oferta de concessões na infraestrutura, mas o governo parece lento nessa propagação e tem sido historicamente muito burocrático. O ministro Levy pontuou este tema muito bem na reunião do G20, dizendo que o Brasil vai estimular os investimentos em infraestrutura, mas é necessário que saia da palavra para a ação efetiva.
Os índices de confiança, depois de uma breve e rápida melhora, voltaram a ficar muito baixos, por isso não está havendo a retomada do investimento e ressurge o pessimismo. Temos observado muitas “falas” apontando a possibilidade de desmonte das posições de swaps cambiais pelo BC, mas não nutrimos essa expectativa, que somente será factível quando o País recuperar fluxos positivos.
No momento, nem a taxa de juros nem o dólar podem ter projeções sustentáveis, mas o sentimento em perspectiva não é bom. Nossa projeção é de dólar a R$ 3,20 no fim do ano.
Com o fim do Acordo de Bretton Woods, ficou estabelecido que a moeda deve ter preço compatível com a situação de sua economia. Uns cumprem, outros mascaram! O Brasil precisa cumprir agora.
Fonte: Estadão Link: http://goo.gl/sHbglq Autor: Sidnei Moura Nehme para Agência Estado Data de publicação: 11/02/2015 |